Lontra órfã: vídeos da reabilitação do filhote são sucesso nas redes sociais

Lontra órfã: vídeos da reabilitação do filhote são sucesso nas redes sociais
Lontrinha em reabilitação impressionou pela fofura e mobilizou internautas a conhecer sobre a espécie. — Foto: Instituto Espaço Silvestre/IMA

Era 13 de novembro de 2019 quando o Centro de Triagem de Animais Silvestres de Santa Catarina (CETAS-SC) recebeu um novo paciente. Sem enxergar, com dentes de leite e ainda mamando, um filhote de lontra macho, com cerca de 40 dias, havia sido encontrado sozinho, perto de uma rodovia de Florianópolis. Não mais solitária, a pequena lontrinha recebe agora a atenção de milhares de seguidores nas redes sociais que acompanham seu “diário de reabilitação” para o retorno à natureza.

Vídeo: Lontra órfã recebe os cuidados do CETAS-SC e vídeos nas redes sociais encantam internautas.

As primeiras mamadeiras, as aulas de natação, a transição da dieta para outros alimentos, os exercícios para aprender a capturar peixes e se secar na areia são algumas das tarefas filmadas, fotografadas e publicadas na página do Instituto Espaço Silvestre, responsável pelo CETAS-SC. O local responsável pelos cuidados com a lontra é mantido em parceria com o Instituto de Meio Ambiente de Santa Catarina e os trabalhos demandam esforços de mais 15 profissionais que, nos últimos sete meses, atuaram na reabilitação de 2,5 mil animais.

A bióloga Vanessa Kanaan é uma das integrantes dessa equipe. Ela é diretora técnica do Instituto Espaço Silvestre e observa que há pessoas que não sabiam da existência de lontras em Florianópolis e, com as postagens da reabilitação da lontra, compreenderam as ameaças que os humanos causam para esses animais e repensaram atitudes. “É muito bacana que ela tenha se tornado uma embaixadora para a espécie e tenha nos possibilitado ensinar o que é uma lontrinha, o que a reabilitação”, define.

As lontras são animais semi-aquáticos, com membranas entre os dedos e dieta carnívora. — Foto: Instituto Espaço Silvestre/IMA

Reabilitando um animal

Vanessa também estava presente na recepção do bichinho: “por mais que seja um animal fofinho e todos fiquem encantados de trabalhar com a lontrinha, toda história de filhote órfão é triste”, comenta ela que pontua que atropelamentos, ataques de cães, gatos e até ações humanas podem afastar os filhotes dos adultos.

Os pequenos, que nascem sem visão, até um ano de idade são altamente dependentes dos cuidados da mãe. É ela quem ensina a nadar e mergulhar, habilidades essenciais da espécie. É na água também que “mora” a dieta preferida das lontras: peixes, crustáceos e anfíbios.

Na imagem, a lontrinha em reabilitação se alimenta de peixe com ossos e espinhos. — Foto: Instituto Espaço Silvestre/IMA

Com tantas demandas a desenvolver, a bióloga explica que um animal em reabilitação precisa apresentar algumas caraterísticas para que seja considerado apto para ser solto em sua área de origem: estar saudável e manifestar os comportamentos necessários para a espécie (no caso da lontra, conseguir se locomover, nadar, esconder, pescar, escalar).

Aprender a se secar na areia, sozinha, foi uma tarefa que garantiu à lontra independência do contato humano. — Foto: Instituto Espaço Silvestre/IMA

Outro processo importante é saber reconhecer um predador natural, um animal doméstico e até uma figura humana e responder de maneira apropriada a cada um. “Uma lontra não pode ser mansa a ponto de se aproximar de um humano ou de um animal, mas não pode ter medo a ponto de atacar. Ela tem que saber se esconder, se abrigar”, esclarece a pesquisadora.

Apesar do animal responder com rapidez à reabilitação, Vanessa alerta que ainda não é possível medir em quanto tempo a lontra será solta na natureza. “Ela ainda é muito nova e, mesmo que já soubesse pescar e estivesse com a saúde plena, no ambiente natural ainda estaria sob os cuidados dos pais”, comenta.

Pelúcias auxiliam na reabilitação de animais órfãos promovendo companhia através do contato — Foto: Instituto Espaço Silvestre/IMA

Bichinhos de pelúcia

Na ausência de adultos da espécie, alguns objetos inusitados garantem companhia e auxiliam na recuperação do filhote de lontra, como bichinhos de pelúcia. A pesquisadora explica que, quando menor, os brinquedos desenvolviam estímulo da mãe à lontrinha, que se aconchegava neles para se acomodar. Atualmente, os objetos são colocados em suas aulas de natação para que simule a caça os peixes, tão necessária para a espécie.

A interação da lontra com as pelúcias também foi uma atividade filmada pela equipe e, por mais que os vídeos como esses mobilizem as pessoas em prol dos animais, Vanessa ainda faz um reforço: “Às vezes um projeto é bom de divulgação, mas precisa de uma ajuda além dos likes e dos compartilhamentos”. Mantido através de doações, o Centro de Triagem de Animais Silvestres de Santa Catarina precisa de toalhas para secar os animais, bichos de pelúcia e do próprio trabalho voluntário.

“Tem sido um privilégio poder ver essa lontrinha respondendo tão bem aos desafios que a vida já trouxe. É tão novinha, mas já tem uma bagagem gigante.”

Por Gabriela Brumatti

 Fonte: G1

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