Lourenço foi pendurado pela cauda. Ao fim de 4 anos, ainda está a recuperar do trauma

Lourenço foi pendurado pela cauda. Ao fim de 4 anos, ainda está a recuperar do trauma
Quem dá um lar a este menino? Fotografia: Artur Jorge.

Qualquer mãe ou pai sabe o quanto custa ver um filho crescer e ter de o deixar partir. O filho de Rita André ainda só tem 12 anos, mas a setubalense conhece bem essa dor. Das dezenas de gatos que acolheu, com os mais variadíssimos problemas de saúde, chorou em todas as despedidas. Mas, apesar da tristeza inicial, ficava feliz de os ver a ir para um lugar melhor. E gostava de ver Lourenço a fazer o mesmo.

Não se recorda exatamente de quando começou esta aventura como Família de Acolhimento Temporário (FAT), mas lembra-se perfeitamente de cada um que passou pela sua casa. E tem a certeza de que o último deixará uma marca ainda mais especial.

Há cerca de quatro anos que Lourenço é acompanhado pela professora de matemática, mas só há dois é que começou a ter a sorte de viver com ela a tempo inteiro. Foi resgatado num péssimo estado, “sem conseguir urinar e evacuar”: “Inicialmente, pensaram que tinha sido atropelado. Mas, após os exames, percebeu-se que alguém o deve ter pendurado pela cauda. Com brutalidade tal, que lhe causou danos neurológicos”, conta à PiT.

Na altura, Rita estava a cuidar de Sol, um gato encontrado praticamente morto, “a ser comido por larvas”. Ainda esteve para ser eutanasiado, mas a professora não o permitiu. Então, foi buscá-lo ao abrigo do Centro de Recolha Oficial de Animais de Companhia do município de Setúbal (CROAC), com a missão de o salvar do mesmo problema que apoquentou Lourenço.

Apesar de a primeira opção de licenciatura ter sido medicina veterinária, Rita nunca teve qualquer formação na área: “Sou matemática, por isso acho que a lógica funciona em tudo”. E não está errada. Só com este pensamento é que conseguiu que o gato, que não urinava e evacuava sozinho, recuperasse: “Comecei por aprender a esvaziar-lhe a bexiga. Tinha muito medo e só pensava que a podia furar a qualquer momento. Demorou bastante tempo para a sua recuperação, mas, ao final de oito meses, conseguiu fazer tudo sozinho”.

Não foram apenas as mãos de Rita a fazer magia. A cuidadora correu tudo o que eram consultórios veterinários, e acabou por encontrar uma clínica no Barreiro que lhe deu o tratamento a laser eficaz. Foi assim que Lourenço chegou à sua vida.

O felino de apenas três anos apanhou boleia de Rita para os tratamentos: “O CROAC falou comigo, porque tinha resgatado um gato com o mesmo problema do Sol. Perguntaram se o podia ajudar e eu disse que não podia ficar com ele, mas que o levava ao veterinário quando o Sol fosse”, explica.

Entretanto, Sol foi adotado, o que foi algo muito difícil para Rita: “Sempre que recebo fotografias dele, farto-me de chorar. Porque foi um longo processo até ele estar apto para adoção. Mas ele está ótimo e fantástico”. A nova vida do felino permitiu que Lourenço entrasse definitivamente na de Rita. E que aventura que os primeiros meses foram.

Os tratamentos que curaram Sol não tiveram o mesmo efeito em Lourenço: “Fizemos imensas sessões, até que o médico disse para pararmos: ‘A evolução que era suposto ele ter já a teve’”. O gato conseguia fazer as suas necessidades sozinho, só que não tinha noção de que as estava a fazer: “Nas fezes, ele conseguia ir até à caixa. Mas, na urina, era mais complicado, porque fazia pela casa e ficava aflito, porque não conseguia limpar”, descreve a professora.

Depois de outras tantas consultas, acabou por encontrar a solução para o problema de Lourenço: um medicamento. Começou a tomar de manhã e à noite e passou a conseguir esvaziar a bexiga e ter consciência de que o estava a fazer. Mas, logo a seguir, surgiu um outro problema: os comprimidos esgotaram.

“Foi horrível. Todos os dias chegava a casa e tinha dejetos por todo o lado”, lamenta. Felizmente, Rita já pode falar no passado, porque, ao final de algumas semanas, conseguiu voltar a arranjar o medicamento. Atualmente, Lourenço toma duas cápsulas por dia, e um ómega, “para ajudar o sistema nervoso e o estimular a ir à caixa de areia”, e já se pode autointitular de “gato normal”.

Apesar de Lourenço ainda ter alguns deslizes, nomeadamente quando recebe festas na barriga, em que fica “mais relaxado e não aguenta”, já está completamente apto para ser adotado. E qualquer pessoa teria sorte em tê-lo: “É um doce. Extremamente amoroso que, quando estou a sair, fica a arranhar-me as calças para eu ficar”.

Rita quer ver Lourenço sair tão bem como os outros gatos que já passaram por ela. Para isso, há alguns requisitos que gostava que a sua próxima família tivesse: “Convinha ser alguém com um espaço exterior, mas que fosse fechado. Isto porque ninguém quer urina pela casa”.

De resto, a professora apenas procura alguém consciente das limitações de Lourenço, e que seja capaz de o amar, mesmo assim.

Carregue na galeria para ver algumas fotografias de Lourenço.

Por Carolina Jesus

Fonte; Pit / mantida a grafia lusitana original

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