Maus-tratos de animais crescem no Catar com o aumento de animais de rua

Maus-tratos de animais crescem no Catar com o aumento de animais de rua
A cachorra Freya foi encontrada com “metade de seu rosto estourado”. Bernie foi esfaqueado e severamente queimado, Diana luta para criar seus filhotes depois de ter sido atingida por vários chumbinhos: os animais de rua em Qatar enfrentam um aumento na violência.

A nação do Golfo Pérsico há tempos vem tendo dificuldade com os animais abandonados por expatriados que saíram do país, e o número de animais na rua aumentou com cães e gatos que foram adquiridos durante o isolamento devido ao coronavírus e vêm sendo abandonados com a volta da normalidade.

Protetores agora dizem que a finalização de projetos de construção de prédios para a Copa do Mundo de 2022 forçou os animais de rua para as áreas residenciais, onde muitos viram vítimas de maus-tratos.

“O sofrimento que vemos é terrível e está ficando pior”, disse um protetor, que recebe ligações toda semana para salvar cães que foram baleados ou atropelados de propósito.

“Uma lei de 2004 criminaliza os maus-tratos de animais, mas a fiscalização é inconsistente”, dizem os resgatistas voluntários.

“Cães não são amados, porque alguns acreditam que o islamismo ensina que eles são sujos, o que está longe de ser verdade”, um protetor disse à agência de notícias AFP.

“E isso não te dá o direito de torturá-los ou matá-los”.

Protetores do Catar e seus apoiadores expatriados frequentemente publicam imagens dos incidentes recentes na mídia social.

Tiros e esfaqueamentos são comuns.

“Nossa dívida no veterinário está altíssima”, disse um gerente de um abrigo para animais de rua, e pediu para não ter seu nome relevado.

Protetores informais, alguns que operam abrigos com um espaço pequeno para os animais abandonados, tentam salvar o máximo que conseguem, mas eles têm um grande problema financeiro.

E, no topo desses desafios, os abrigos têm lutado pelo reconhecimento legal em uma monarquia absoluta, onde o criticismo de autoridades e a pressão da sociedade civil são raros.

A falta desse status complica o trabalho dos abrigos e os esforços para angariar fundos.

“Nós temos empresas que querem doar, mas não podemos aceitar seu dinheiro”, disse o gerente do abrigo.

Uma boa solução?

Perto do recém construído estádio Al-Thumama, protetores e um veterinário resgataram um cão que estava em uma rua com vilas luxuosas, perturbando os proprietários.

Os protetores tentam intervir nesses casos antes da chegada da polícia, porque eles conseguem garantir que os animais sejam realocados de maneira segura.

Um esquema recente do governo para limpar as ruas do Catar dos cães abandonados gerou uma rara revolta pública.

Grupos que resgatam animais desafiaram as autoridades a explicarem como essa estratégia iria melhorar a situação.

Policiais uniformizados posam ao lado de animais pegos pela “Operação Piedade”, mostrou a mídia local, mas os protetores reclamam da ausência de informações.

Centenas de residentes publicaram comentários on-line para exigir uma prova de que os animais seriam tratados de forma humana, e grupos do Facebook compartilharam de maneira ampla histórias dedicadas ao bem-estar dos animais.

Uma embaixada ocidental disse que já tentou engajar com o Catar sobre bem-estar animal, mas recebeu pouco retorno.

Protetores vocalizaram seus medos de que as instalações gerenciadas pelo governo possam ficar lotadas rapidamente e comecem a exterminar os cães.

Eles também alertam que é improvável que o Qatar trate de forma adequada o problema dos animais de rua do país, estimados em 50.000. 

O governo insistiu em uma declaração de que “nenhum cão pego durante a iniciativa foi ou será eutanasiado”.

Mas os protetores questionam o que farão com os casos problemáticos.

“O que eles fazem com os cães doentes ou os que são agressivos?”, perguntou a protetora expatriada Alison Caldwell.

O governo disse que todos os cães capturados “recebem o tratamento veterinário necessário e são castrados, vacinados e reabilitados antes de serem colocados para adoção”.

Ele acrescentou que as duas instalações possuem animais que aguardam realocação, mas a comunidade dos protetores diz que as imagens dos locais mostram que são inadequados.

“Não parece para mim uma boa solução, os cães estão em currais para gado”, Caldwell disse. “É exatamente esse tipo de coisa que irá espalhar doenças, causar brigas e prenhez”.

Por Anne Levasseur e Gregory Walton / Tradução de Alice Wehrle Gomide 

Fonte: 24 Matins

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