Maus-tratos e abandono a animais são altos em bairros periféricos de Cuiabá, MT; cenário preocupa ONGs

Maus-tratos e abandono a animais são altos em bairros periféricos de Cuiabá, MT; cenário preocupa ONGs
Número de denúncias varia em média de 10 a 15, por dia, em regiões periféricas de Cuiabá. (Foto: Ilustrativa/ Pollyanna Maliniak/ALMG)

O índice de denúncias de maus-tratos e abandono está crescendo em Cuiabá, principalmente nas regiões dos bairros Pedra 90, Tijucal, Planalto, Osmar Cabral e Santa Terezinha, é o que afirmam abrigos e ONGs que atuam na causa, na capital. Segundo os voluntários, todos os dias os grupos recebem pedidos de socorro na região.

Segundo a diretora do Abrigo Aliança com as 4 Patas, Sandra Barbosa, nessas regiões o número de denúncias varia em média de 10 a 15, por dia. Só no mês de novembro do ano passado, foram 30 regates realizados.

“[Recebo] pelo Instagram e pelo WhatsApp, às vezes tenho que até desligar o celular de tanto pedido de socorro porque não consigo salvar todos, infelizmente. Está aumentando demais e nada está sendo feito. Já fizemos várias denúncias e o Estado não toma nenhuma providência”, conta Sandra.

Sandra alega que chegou a pedir ajuda para a prefeitura porém, nada foi resolvido. A ativista conta que a alegação é de que não há equipe suficiente para tantas denúncias e que não tem onde colocar mais animais.

Cachorro resgatado pelo Abrigo Aliança com as 4 Patas em dezembro, em situação de maus-tratos e abandono. Imagem foi embaçada devido ao grau de crueldade. (Foto: Cedida/ Editada)
Cachorro resgatado pelo Abrigo Aliança com as 4 Patas em dezembro, em situação de maus-tratos e abandono. Imagem foi embaçada devido ao grau de crueldade. (Foto: Cedida/ Editada)

Ao Primeira Página o Bem Estar Animal, coordenado pela Secretaria de Saúde de Cuiabá, esclareceu por meio de nota que a pasta recebe uma média diária de 15 demandas desta natureza e atualmente todas as vagas disponibilizadas pelo abrigo municipal encontram-se preenchidas, priorizando pelos atendimentos aos animais em situação de vulnerabilidade, com o total de 57 pets – cães e gatos – acolhidos.

O órgão afirma ainda que todas as tratativas são desempenhadas por equipe multidisciplinar, especialista neste tipo de atendimento e, em seguida, é realizada uma visita in loco para constatar a veracidade dos fatos narrados para posterior adoção das medidas cabíveis, em conjunto com os órgãos competentes.(Leia a nota na íntegra ao final da reportagem)

Outra associação que atua ativamente no resgate e recuperação de animais em Cuiabá e região é o Projeto Lunaar (Luta e União de amigos para Animais em Risco). Em entrevista à reportagem, o grupo confirmou o levantamento de outros protetores da capital.

“Nunca fizemos uma estimativa por bairro para saber qual especificamente seria, mas as regiões de periferias são os resgates onde os animais estão mais debilitados. Em Várzea Grande também chegam muitos pedidos e existem poucas Ongs que atuam na cidade”, pontou.

 
 
 
 
 
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A OPAA (Organização de Proteção ao Meio Ambiente e aos Animais) abrigo que também trabalha na causa em Cuiabá, além de reafirmar os dados acima, destaca que o problema não se restringe apenas às regiões periféricas.

“São bairros que realmente a gente tem recebido mais pedidos de ajuda ou denúncias, mas não sei se isso não seria um percentual, talvez por serem bairros mais populosos (…) mas na verdade os maus-tratos, seja por ação ou por omissão, às vezes, o próprio dono vê o animal definhando e não faz nada, eles estão presentes praticamente na cidade inteira e Várzea Grande também”, destaca Ivone Galindo, coordenadora do abrigo.

Segundo dados recentes da Polícia Civil e Polícia Militar, de janeiro a novembro de 2021 foram registrados 42 casos de maus-tratos e abandono a animais em Cuiabá, enquanto em 2022, foram registrados 55 casos no mesmo período. No entanto, o dado não representa um aumento na prática, mas sim que as pessoas estão denunciando mais, isso porque muitos casos acabam nem chegando às instituições competentes.

Conforme a nota do Bem Estar Animal, nos primeiros 11 meses de 2022 – janeiro a novembro – o órgão registrou mais de 1.500 atendimentos prestados à população, entre, castrações, tratamento de denúncias, resgates, consultas clínicas e doações. Apesar disso, para Ivone faltam ações mais efetivas.

“Os órgãos de controle praticamente inexistem. O Bem Estar Animal existe mas na prática não se efetiva (…) ajudam um caso ou outro, mas pelo fato de ser um órgão público e como tal, responsável pelos animais de rua, fez muito pouco. Agora com a nova diretoria há uma esperança, porém a sociedade em geral tem que cobrar da prefeitura que dê a estrutura e autonomia necessária para que esse órgão funcione”, afirma.

Em consenso, os protetores voluntários da capital pontuam a importância de programas contínuos de castração e a conscientização em massa sobre o respeito e o cuidado aos animais, como parte da solução do problema.

“Não existe uma política séria, um programa sério contínuo de castração e não existe apoio às Ongs e nem aos protetores. (…) não adianta castrar 100 animais por mês se nasce 300 (…) De repente mapear por bairro, talvez um ‘castramóvel’, teria que levar até o bairro, orientar sobre o pós-operatório. Só a castração para diminuir essa população [animais] de rua e ainda assim esse problema seria resolvido a médio e longo prazo”, afirma Ivone do OPAA.

“Uma ação muito importante também seria a questão da conscientização da população, em relação aos cuidados com os seus animais, ou até mesmo cuidado e respeito com os animais de rua enquanto vidas, através de propagandas nas mídias, de palestras nas escolas”, concluiu.

Confira nota do Bem Estar Animal na íntegra

A Diretoria de Bem-Estar Animal (DBEA) informa que:

  • Esclarece referente às denúncias maus-tratos, que Pasta recebe uma média diária de 15 demandas desta natureza;
  • Todas as tratativas são desempenhadas por equipe multidisciplinar, especialista neste tipo de atendimento;
  • Em seguida, é realizada uma visita in loco para constatar a veracidade dos fatos narrados para posterior adoção das medidas cabíveis, em conjunto com os órgãos competentes;
  • A gestão Emanuel Pinheiro conta com um Canil Municipal para o acolhimento dos animais. No local, recebem todos os cuidados clínicos pertinentes e, após alta, são destinados em boas condições de saúde para adoção voluntária;
  • Para reforçar as ações, a Prefeitura de Cuiabá lançou as obras do Hospital Veterinário Municipal (HVM), o Complexo Manchinha, destacando a capital ao anunciar a construção de uma unidade pública destinada ao atendimento de animais domésticos (cães e gatos). A iniciativa é fruto do projeto idealizado pela primeira-dama, Márcia Pinheiro;
  • Ao longo de seis anos de atuação, a administração atual sancionou oito leis em favor da causa, sendo elas, a lei 436/17 de Proteção aos Animais; Lei 6423/19 do Protetor Independente, Lei 6439/ 19 do Animal Comunitário, Lei 6492/19 Monitoramento através de câmeras em pet shop, Lei 6512/20 Circulação de veículo de tração animal em vias de perímetro urbano, Lei 6549/20 Proibindo animal em corrente curta e a Lei 6746/22, a qual estabelece que os agressores arquem que com despesas veterinárias recorrentes aos ataques e a lei nº 6.860/2022, que dispõe sobre a divulgação obrigatória de mensagens relativas às penas cominadas de crimes de maus-tratos contra cães e gatos;
  • Esclarece sobre o abrigo municipal, que atualmente todas as vagas disponibilizadas encontram-se preenchidas, priorizando pelos atendimentos aos animais em situação de vulnerabilidade, com o total de 57 pets (cães e gatos) acolhidos;
  • Nos primeiros 11 meses de 2022 – janeiro a novembro, registrou mais de 1.500 atendimentos prestados à população, entre, castrações, tratamento de denúncias, resgates, consultas clínicas e doações.
  • Os atendimentos seguem ocorrendo normalmente, no expediente de segunda a sexta-feira, das 08h às 12 e das 14h às 18h, pelo aplicativo de troca de mensagens – WhatsApp: (65) 99207-4318.

Por: Nathalia Okde

Fonte: Primeira Página

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