Menores protagonizam massacre de 24 jovens novilhos na Espanha
As organizações Animal Guardians e La Tortura No Es Cultura publicaram novamente um vídeo de uma corrida de touros com animais jovens (o terceiro somente no verão europeu), uma das formas mais cruéis da tauromaquia, onde aspirantes a toureiros inexperientes submetem jovens bovinos a uma tortura sem igual devido à jovem idade dos animais e aos erros dos matadores ao colocar as bandeiras ou matar o animal.
Neste caso, trata-se de uma festa celebrada em Colmenar Viejo, com as chamadas Classes Práticas de várias escolas de tauromaquia, onde menores praticam com pequenos animais vivos espetando-lhes bandeiras ou batendo repetidamente em suas costas sensíveis.
A matança foi descomunal, sendo torturados e executados 24 animais em 4 dias. Como mostra o vídeo, algumas das bandeiras são espetadas na barriga do animal ao invés do lombo, e nenhum dos novilhos teve uma morte rápida, e sim, depois de serem lacerados em várias ocasiões pela espada e pela rapieira, são esfaqueados repetidamente pelo operário do turno.
Tudo isso acontece na presença de vários menores cujas exclamações perante o que veem podem ser ouvidas no áudio do vídeo. Inclusive em uma das sequencias pode-se ver um menor filmando a tortura dos animais com seu tablet.
Carmen Ibarlucea, presidente da Plataforma La Tortura No Es Cultura, afirma: “É inconcebível que esses atos de violência extrema para com seres sensíveis possam ser considerados uma forma de entretenimento. São uma atrocidade e devem ser proibidos. Pedimos aos cidadãos que assinem nossa petição no site bastabecerradas.org e escrevam à prefeitura de Colmenar Viejo parra pedir o fim desses espetáculos”.
As organizações dão ênfase especial à proibição das bezerradas (corridas de touros celebradas com animais menores de dois anos). De acordo com o informe do Ministério da Cultura de 2018, são celebradas apenas 100 bezerradas na Espanha e a presença do público nas mesmas é mínima. Efetivamente, no vídeo pode-se observar que, apesar da entrada ser livre e gratuita, a arena está praticamente vazia.
Marta Esteba, que, além de ser ativista pelos animais na organização Animals Guardians é membro da Junta Diretiva do Consejo Independiente de Protección de la Infancia (CIPI), com conselheiros em 27 países, afirma: “Este evento viola o direito da criança e do adolescente de viver em um entorno livre de violência, e é imperativo que algo seja feito a respeito”.
Efetivamente, o artigo 19 da Convenção sobre os Direitos da Criança da ONU reconhece o direito da criança ou adolescente a viver em um entorno livre de violência e é baseado nisso que o Comitê dos Direitos da Criança da ONU em suas Observações Finais à Espanha em 2018 (CRC/C/ESP/CO/5-6) pediu que o país proteja as crianças dos efeitos prejudiciais da tauromaquia sobre elas.
Além disso, essas atividades colocam em perigo a integridade física dos menores participantes nas mesmas, que poderiam ficar gravemente feridos ou até mesmo morrer durante as bezerradas. É por isso que, no dia 8 de junho de 2015, este mesmo comitê publicou algumas observações onde qualifica a tauromaquia com a participação de crianças toureiras de “uma das piores formas de trabalho infantil”.
Da mesma maneira, não é cumprido o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 16, meta 16.2, que procura colocar um fim aos maus-tratos, à exploração, ao tratamento e todas as formas de violência contra as crianças.
“Todos esses tratados foram ratificados pela Espanha e, conforme o Artigo 39 ponto 4 da Constituição, que determina que “as crianças gozarão da proteção prevista em acordos internacionais que velam pelos seus direitos”, deveriam tomar medidas a respeito, mas nada disso está sendo feito. Por quê? Porque colocam na frente interesses políticos e econômicos ao invés do interesse superior do menor” afirma Esteban, e acrescenta: “Estas liberdades têm seu limite […] especialmente no direito à proteção da juventude e da infância. Por quanto tempo isso continuará a ser ignorado?
O ato de uma criança menor de 13 anos assistir a corridas de touros pode dar lugar a uma dessensibilização que dará lugar à indiferença (perante maus-tratos a animais) e impedirá que ela tenha seus próprios critérios. É importante sintetizar essas conclusões na seguinte afirmação desta especialista: “Existe evidência crescente da associação entre maus-tratos a animais e a violência interpessoal em diferentes âmbitos: comissão de crimes violentos, violência do companheiro (tanto em casais heterossexuais como homossexuais), contra menores, contra maiores, violência filio-parental, bullying… Também existe uma associação entre maus-tratos a animais e o transtorno antissocial de personalidade, o transtorno dissocial, a psicopatia…”.
O FBI começou a registrar em 2016 maus-tratos a animais como delito contra a sociedade, dada a importância da natureza do delito em si, assim como sua associação com outros crimes violentos, como violência de casais, agressões sexuais ou maus-tratos de crianças.
Na Espanha, a competência em matéria de direitos da infância reside nas Comunidades Autônomas, mas possui como princípio orientador certas leis orgânicas.
A Lei Orgânica 1/1996, de proteção jurídica do menor, reconhece a primazia do interesse superior da criança e do adolescente, e se enuncia como princípio orientador das administrações públicas levar em conta as necessidades do menor ao exercer suas competências sobre educação, cultura e espetáculos.
A Lei Orgânica 1/2015 do Código Penal incorporou no artigo 337.2 d) o agravamento da pena se os maus-tratos aos animais se executam na presença de um menor de idade, constatando assim legalmente e pela via penal o impacto negativo que produz sobre as crianças presenciar maus-tratos aos animais.
A Animal Guardians e La Tortura No Es Cultura criaram a campanha bastabecerradas.org e pedem a participação cidadã mediante a petição on-line e outras ações. Por sua parte, o Conselho Independente de Proteção da Infância afirma que trabalhará para que na Espanha se apliquem todas as recomendações do Comitê dos Direitos da Criança, inclusive a relativa aos espetáculos taurinos.
Tradução de Alice Wehrle Gomide
Fonte: Tercera Information
Nota do Olhar Animal: Fossem exclusivamente os novilhos as vítimas a ação já mereceria repúdio. Promover a violência entre humanos é um terrível agravante da ação desta verdadeira “fábrica de assassinos”.