Moradores da zona leste de São Paulo buscam abrigo para animais abandonados ou vítimas de maus-tratos

Moradores da zona leste de São Paulo buscam abrigo para animais abandonados ou vítimas de maus-tratos
Filó está a espera de um novo lar Foto: Moradora Simone Ferreira

Indignados com o aumento de animais domésticos abandonados, sendo que alguns deles são vítimas de maus-tratos, moradores do Parque Residencial D’Abril, na zona leste, uniram-se para oferecer abrigo e tratamento médico. Eles fazem até “campanhas” em busca de auxílio e de um novo lar para os animais. Muitos atuam efetivamente como protetores de animais.

“Os cachorrinhos ficam felizes só de receberem ração, água ou mesmo carinho. Já ajudei a resgatar cachorros vítimas de violência, gata prenha e filhotes de cães abandonados até na beira de rio”, afirma a moradora Simone Ferreira.

Ela explica que, após resgatar os bichos, ela e outros moradores procuram um ambiente seguro para abrigar os animais, buscam auxílio veterinário e apoio de outros moradores e organizações de defesa animal para encontrar um novo lar para o bicho. Simone elogia ainda a companheira de luta, dona Cida, que costura há décadas e usa todo o dinheiro que recebe em prol dos animais abandonados. “Ela ajuda a cuidar deles e encontrar novos donos. Ela também agiliza castração e transporte, sempre que necessário. Também tem muitos cães em casa que adotou. São grandes companheiros dela”, ressaltou.

Simone recorda duas histórias, uma delas já com final feliz. “Com a ajuda da minha prima e de sua sogra, conseguimos resgatar uma cachorrinha que, embora morasse em uma casa, não recebia cuidados médicos e nem alimentação. Os donos aceitaram doá-la. Depois de levarmos ao veterinário, a Belinha encontrou um lar amoroso, como ela merece. Está super bem e agora atende por Berlinda. Outro caso recente é da Filó. Ela apanhava do dono quando ele chegava alcoolizado. Ela foi resgatada por moradores, precisou de tratamento veterinário e agora precisa de um lar urgentemente”, pediu Simone.

Cachorrinha Filó foi vítima de maus-tratos Foto: Moradora Simone Ferreira
Cachorrinha Filó foi vítima de maus-tratos Foto: Moradora Simone Ferreira

“A Filó foi encontrada na rua por um menino de 14 anos ainda filhote, só que a mãe dele não aceitou e o irmão dela pegou a Filó para cuidar, mas como ele é um alcoólatra toda vez que chegava bêbado batia nela e mal dava comida. Se ela fizesse cocô no quintal, ele batia nela. Um absurdo”, destaca texto em grupo criado no WhatsApp por moradores que tentam ajudar a cadelinha.

Segundo a Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente, o abuso ou maus-tratos de animais é considerado crime ambiental, conforme determina a Lei nº 9.605/98, sujeito à detenção de três meses a um ano, além de multa.

Em 2018 foram apreendidos 49.527 animais silvestres e domésticos no Estado de São Paulo e aplicadas 13.784 multas; já em 2017, foram emitidas 12.510 penalidades e 34.454 animais apreendidos.

A aposentada Marilda Araújo também lamenta os maus-tratos aos animais. Ela coloca água e ração para cães que costumam passar em frente a sua casa. “Tem uns cinco cães. Sempre coloco ração e água. Fico com pena porque muitos só querem carinho”, diz a moradora que já tem dois cachorros e mesmo assim ainda tenta ajudar outros animais.

Em pontos de táxi e postos de gasolina, geralmente há uma casinha e vasilhas ao lado dos animais “adotados” por taxistas e frentistas.

“A gente toma conta deles e eles acabam fazendo companhia para a gente enquanto aguardamos a chegada de clientes”, disse o taxista Nildo Sampaio.

A reportagem visitou algumas ruas do bairro Vila Síria, na zona leste, e observou que alguns moradores costumam dar água e ração para os cachorrinhos de rua. Alguns já são conhecidos do bairro, outros apenas de passagem aproveitam para fazer “uma refeição”.

“A Laila e a Menina são duas cachorrinhas do bairro. Elas têm donos, mas ficam na rua a maior parte do tempo. Elas são alimentadas pelos moradores e comerciantes da rua. Tem vezes que elas aparecem apenas para receber um pouquinho de atenção. Quem tem animal de estimação deveria entender que ele precisa de carinho e cuidados com a alimentação e a saúde. Não dá para pegar um cachorro, por exemplo, e simplesmente abandoná-lo, quando não o quiser mais”, ressalta moradora que preferiu não se identificar.

Vale lembrar que existe um serviço de defesa de cães e gatos. Os moradores de 39 municípios da Grande São Paulo e da capital paulista podem fazer denúncias pelo telefone 0800 600 6428. Antes, as denúncias eram feitas pelo telefone 190 da Polícia Militar.

Em casos de maus-tratos, o animal será acolhido pelo Resgate PET que fará os primeiros atendimentos médicos veterinários e o levará a um abrigo. Assim que conseguirem ter a saúde restabelecida e com autorização judicial, os pets poderão encontrar uma nova família por meio das feiras de adoção.

Relembre: A morte de um cachorro em dezembro gerou uma onda de protestos contra o Carrefour. Imagens de uma câmera de segurança obtida pela Delegacia de Meio Ambiente de Osasco, na Grande São Paulo, mostrou o momento em que um homem usou uma barra metálica para agredir um cãozinho do Carrefour. A pessoa, identificada como um segurança terceirizado da loja, acertou o animal com um golpe e rasgou sua coxa traseira. O ferimento fez com que o cãozinho “Manchinha”, como era conhecido, ficasse sangrando. Ele não resistiu aos ferimentos.

O cachorro que vivia solto na loja do Carrefour teria sido envenenado e espancado até a morte por um segurança Foto: Reprodução/Facebook
O cachorro que vivia solto na loja do Carrefour teria sido envenenado e espancado até a morte por um segurança Foto: Reprodução/Facebook

Por Renata Okumura

Fonte: Estadão

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