Mortos sem conta: vítimas não humanas da pandemia¹

Mortos sem conta: vítimas não humanas da pandemia¹

Sônia T. Felipe2

Para citar use: FELIPE, Sônia T. [2022]. Mortos sem conta: vítimas não humanas da pandemia. In: OLHAR ANIMAL, Pensata Animal. Disponível em: <https://olharanimal.org/mortos-sem-conta-vitimas-nao-humanas-da-pandemia/>. Acesso em:

Introdução

O propósito desta apresentação é ajudar a refletir eticamente sobre a desvalorização da vida de não humanos, tendo por foco a mortalidade por COVID-19, que atingiu duas vezes mais esses do que os humanos. Ao redor do mundo, foi notória a ineficiência dos governos em proceder devidamente os registros dos mortos humanos, dos infetados adoecidos pelo vírus e dos infetados por COVID-19 assintomáticos. 

O registro da morte e da causa dela é sinal de que aquela vida importou. Saber a causa, a trama, a data, o local e as condições que levam a um óbito evidencia respeito pela vida, pois esse registro e a consciência dele ajudam a tomar decisões para que mortes em tais condições não se repitam, não sejam naturalizadas. A interrupção da vida por alguma causa que poderia ter sido evitada, caso se conhecesse a trama que levou ao desfecho, indica um descaso, não somente por aquela vida, mas por todas as que ainda serão extintas nas mesmas condições.

Lutamos pela abolição de todas as formas de usança, matança e comilança de animais de quaisquer espécies, silvestres, domesticadas e industrializadas. Enfrentamos uma trama de nós3 bem conhecida, práticas diversas que infligem o sofrimento e a morte aos animais. Para desfazer a trama da matança é preciso desfazer os nós da diaita4 mortal introjetados em nós. É preciso desfazer em nós os nós da dieta mortal. A luta em defesa da vida dos animais pressupõe a ciência dos pontos letais a essas vidas.

A cada animal foi dada uma longevidade peculiar à sua espécie. Uma tartaruga vive mais de 200 anos, um cavalo pode passar dos 30, um porco chega aos 25, uma galinha aos 15 e um humano pode viver além dos 120 anos5. Quando ocorrem mortes intempestivas, estamos diante de casos de acidente, catástrofe, descaso, doença, suicídio ou violência ou malevolência.

No caso da pandemia por COVID-19, vimos a incapacidade estatística, leia-se, política em âmbito internacional para computar as mortes humanas. Se os registros fracassaram no caso dessas mortes, temos pouco a esperar de números que deem conta dos infetados e mortos por COVID-19 nos povos das outras espécies animais. É certo que milhões de animais morreram e seguem morrendo, seja em decorrência do contágio devido às aglomerações impostas a eles pelo sistema de criação em rebanhos aprisionados, com a imundície típica das instalações nas quais são mantidos6, seja por conta das pesquisas biomédicas para testes acurados de vacinas e de remédios para tratar a doença e suas sequelas em humanos. Por falta de transparência estatística na pesquisa biomédica e farmacológica, vamos nos ater ao primeiro caso.

Até o presente, o número oficial dos mortos de outras espécies em decorrência da COVID-19 é pelo menos três vezes maior do que o número de mortos humanos. Se, no caso humano, é preciso multiplicar por, pelo menos, 1.6 os números oficiais7, nos países onde se julga que os registros foram minimamente eficientes, por quanto deve-se multiplicar o número dos mortos não humanos, sequer pensados como dignos de registro? Animais transbordando carga viral estão neste momento em seus ambientes naturais, sem que tenhamos testado suas populações. Humanos transbordando carga viral estão neste momento em seus ambientes artificiais, sem que tenhamos ciência do número de plataformas ambulantes de transbordo do vírus SARS-CoV-2.

Mortos humanos sem conta

O vírus Corona, causador da síndrome respiratória grave SARS-CoV-2, batizada pela OMS, em 12 de fevereiro de 2020, como COVID-19, foi registrado pela primeira vez pelas autoridades sanitárias na cidade chinesa de Wuhan, capital da província de Hubei, em dezembro de 2019. Contudo, o vírus já circulava em humanos desde meados do ano de 2019 por diferentes continentes: América do Sul (Brasil, Florianópolis e Vitória), Europa (Itália e Espanha) e América do Norte.

Desde 2019, o vírus alastrou-se por 226 países e territórios8, evoluiu ou mutou mais de 13.000 vezes. Em 26 de abril de 2022, o número dos humanos infetados pelo vírus passava dos 510 milhões9. O de mortos superava 6,2 milhões10. Pela média estatística oficial mundial, de cada 100 humanos ao redor do planeta seis foram infetados. Há regiões nas quais o número de infetados chega a dois terços da população, esse é o caso da África11.

O relatório da OMS de 7 de abril de 2022 estima o número real de infetados, em alguns países, em 16 vezes maior do que o divulgado. No caso do continente africano, segundo a Diretora da OMS na África, Doutora Matshidiso Moeti12, os números divulgados estão até 97 vezes abaixo do real. Em países com registros mais acurados, no caso da África do Sul, o dos mortos por COVID-19 está três vezes abaixo do que indicam os registros de mortes excedentes em 2020-2021.

É sabido que há um descompasso entre a estatística e os casos de fato. Por exemplo, no registro das mortes não constam os óbitos pós alta hospitalar, nem os dos doentes que sequer passaram por qualquer hospital, seja no período da infeção, seja no da convalescença. Os registros têm indicado que 30% dos humanos ditos “curados” seguem com quadro prolongado da doença. As sequelas perduram por meses, a maioria delas de ordem circulatória e mental. Além disso, milhões de infetados sequer foram testados, pois tiveram reações leves e trataram-se em casa. Não passando por qualquer instituição de saúde quando adoeceram, ou passando por elas sem terem sido testados, não houve registro desses milhões de pacientes. 

No Brasil, o número oficial de humanos infetados, confirmado por testes, superou 30 milhões em 5 de abril de 202213. Na mesma data, mais de meio milhão de brasileiros seguiam em tratamento domiciliar, ou internados por conta da COVID-19. No início de julho de 2022, o número de mortes confirmadas por testes, no Brasil, passava de 672 mil. O número oficial de infetados atingia 32,5 milhões. De fato, não se sabe quantos humanos foram e estão infetados no Brasil. Tampouco se pode saber, até a data da entrega deste artigo para publicação, o total real das mortes. Tais estatísticas virão com o tempo e por vias que independem de registros sanitários convencionais.

É preciso investigar os óbitos em excesso, os que estão acima da média das mortes de cada ano, nos últimos cinco anos, segundo recomendação da OMS14. Tal recurso, embora inacurado, vale para todos os países. Não se sabe quantos morreram da COVID-19 em áreas de difícil busca de socorro médico, ou de difícil acesso para os socorristas, nem nos bairros das cidades onde sequer há um Posto de Saúde, muito menos um Hospital.

Para enterrar os mortos humanos é preciso um atestado de óbito. Cartórios, igrejas e cemitérios, em alguns vilarejos, são fontes relativamente confiáveis, mais do que somente os números hospitalares de mortos. Pelo “excesso de mortes” chega-se a um resultado mais preciso. Entretanto, há demora em se acessar esses dados espalhados por um país de dimensões continentais. No resto do mundo não é diferente.

Em 2020, no Brasil, 55% da população humana vivia em áreas urbanas, enquanto 45%, em áreas rurais. Nem todas as áreas urbanas estão dotadas de um sistema de saúde capaz de atender com consultas e com exames específicos a demanda dos pacientes que têm condições de buscar ajuda médica. Muitos morreram em casa. O registro desses óbitos, pelo menos em boa parte da primeira onda do contágio da COVID-19, pode ter sido feito com base nos sinais de agravamento das chamadas “comorbidades” que afligiam o doente antes de ele ser infetado pelo vírus: doenças respiratórias crônicas, obesidade, cardiopatias, tromboses, isquemias, insuficiência renal, diabetes, síndrome metabólica, e assim por diante. Nem todos os casos podem ter tido como gatilho o SARS-CoV-2, mas, em se tratando de um vírus que entra pelos pulmões e devasta o sistema vascular dos órgãos vitais, é melhor ter cautela quanto ao número real de mortos.

O escritor científico britânico, David Adam, publicou artigo na Revista Nature15 questionando o número oficial das mortes por COVID-19. Ele levou em conta o excesso de mortes em 2020 e 2021 ao redor do mundo16. Há países que registraram como morte por COVID-19 somente a de pacientes hospitalizados testados positivos. A Holanda fez isso. Entretanto, justamente na primeira e segunda ondas, a maior parte dos mortos na Europa e nos demais continentes, foi de idosos cuidados em casas de repouso, não em hospitais. Há países que, ao contrário, seguiram à risca o registro da morte por COVID-19 de todos os doentes que apresentaram os sintomas listados pela OMS, mesmo que os testes dessem negativo e o paciente morresse em casas de repouso. A Bélgica procedeu assim. Por isso, o número de mortos belgas sempre esteve acima do número dos demais países da União Europeia17.

Para acirrar ainda mais o desafio estatístico, alerta o médico Amir Khan, que assina a Coluna Doctor’s Note, do jornal Al Jazeera, a pandemia não matou somente os infetados com o vírus. Ela matou milhões de outros pacientes que não foram atendidos nos hospitais por conta da falta de médicos, de leitos, de cirurgias para os cuidados devidos a todas as demais doenças agudas e crônicas, especialmente as cardíacas, as metabólicas e as tumorais. Na África, no Sul da Ásia e nos EUA, destaca o médico18, onde as pessoas têm que desembolsar para receber atendimento de saúde em qualquer hospital, milhões morreram de COVID-19 sem buscar ajuda médica e sem terem sido submetidos aos testes19. Mascaradas, tais estatísticas não ajudam a proteger vidas.

A supressão dos serviços médicos hospitalares também levou à morte quem ainda poderia estar vivo, caso houvesse recebido cuidados a tempo de evitar o óbito. Por outro lado, a falta de material para testagem contribuiu para a dúvida sobre como registrar a morte de um paciente com todos os sinais e sintomas da COVID-19, mas sem confirmação da presença do vírus. Para dificultar ainda mais os registros, em milhões de casos, os testes davam negativo até cinco ou seis vezes, confundindo os médicos, os familiares e o próprio paciente. No caso de óbito, o que se tinha era um ou vários testes negativados. E, por fim, há mortes por complicações circulatórias causadas pelo vírus, em pacientes assintomáticos. Se tantas são as mortes assintomáticas em humanos, é de se considerar que o mesmo esteja ocorrendo com os povos não humanos, largados à própria sorte pelas florestas, cidades e oceanos.

Muitos governos omitiram os casos reais de mortes, temendo críticas em relação às suas decisões sanitárias, ou aos desdobramentos econômicos que resultariam de medidas cautelares cientificamente responsáveis, mesmo quando o número de infetados não requeria medidas de fechamento do comércio e das demais atividades aglomerantes, apenas o isolamento dos infetados. No caso da China, que adotou a estratégia da “COVID-19 Zero”, na qual todos os cidadãos de uma cidade são testados assim que há um surto, por menor que seja o número dos sintomáticos, as mortes foram de 4.636 humanos. Mas o país teve um excesso de mortes que alcançou 1,7 milhão em 2020 e 202120. Pode-se dar por certo que lá, como na maior parte dos países europeus, só foram registrados os pacientes testados positivo para o vírus. Mas os testes falham ainda hoje, não se sabe o porquê.

Desde janeiro de 2021, cem países são monitorados por dois cientistas do World Mortality Dataset (WMD), entre eles a Rússia, o Brasil, o México e os EUA. Pelos cálculos dos cientistas, o número de mortos nesses países é 1.6 maior do que o divulgado pelos governos21. Se tais cálculos estão corretos, o número de brasileiros mortos por COVID-19 já ultrapassou um milhão. Quanto ao número de infetados, não se tem registro. Boa parte sequer apresenta sintomas ou tem o quadro agravado ao ponto de precisar buscar ajuda médica em um posto de saúde ou hospital.

Poderíamos discorrer por horas sobre os mortos humanos incontáveis dessa pandemia. Mas temos a população de não humanos, que ultrapassa duas dezenas de milhões de mortos por conta da COVID-19. Precisamos voltar nossa atenção a ela. Não se fala destes mais de 20 milhões de mortos. Não se tem ideia sequer dos milhões ou bilhões de possíveis infetados pelo SARS-CoV-2 em quaisquer de suas variantes ou mutações nas populações silvestres livres e em criadouros ao redor do mundo.

Em seu relatório preliminar, depois da visita de 42 cientistas multinacionais à China, para o rastreio dos dados da pandemia a partir do local onde ela foi registrada por primeiro, a OMS recomenda que “os rebanhos criados para abate”, ao redor dos continentes, sejam testados para a detecção do vírus SARS-CoV-2. Alguém vê isso noticiado na grande mídia brasileira? Alguém imagina o custo dos testes para rebanhos que chegam a 220 milhões de animais, no caso dos bovinos, e a mais de 40 milhões deles, no caso dos suínos, ou, assombrosamente, a mais de seis bilhões, no caso das aves, só no Brasil? Ao redor do mundo, o número de testagem alcançaria 70 bilhões de animais criados em rebanhos, fora os silvestres abatidos pela caça.

Precisamos tratar das mortes incontáveis entre os povos22 das espécies não humanas, absolutamente ignorados em sua aflição, a menos que representem ameaça à saúde dos humanos, ou à eficácia de vacinas e remédios criados para tratar dos males e deter a disseminação da COVID-19.

As estatísticas seguem o padrão moral antropocêntrico e especista: Não importam as mortes dos outros animais. Quando os animais das outras espécies, criados em rebanhos aprisionados para o abate, apresentam sintomas e sinais da contaminação cruzada e da reversa, a única decisão dos governos para afastar a ameaça é o extermínio dos rebanhos. Mais uma vez, pagam os inocentes pelos erros dos que levam vantagem explorando-os.

O elo perdido na cadeia de tantas mortes

Sabe-se que os vírus Corona têm nos morcegos seus oikoi naturais. Sabe-se também que morcegos, por sua vez, têm seus oikoi em cavernas florestais. Ali eles formam colônias que podem somar dezenas de milhares. Os morcegos Rhinolopholis affinis, conhecidos como morcegos-ferradura, que alojam a versão original dos vírus causadores das duas SARS e da MERS23, são frugívoros. Eles dormem durante o dia e saem para alimentar-se de frutas durante a noite.

Vírus são fragmentos genéticos destituídos da capacidade de se deslocarem por conta própria24, tanto quanto são destituídos da capacidade de se reproduzir. Mas isso não é problema para eles, desde que sejam atirados para fora do corpo do morcego pela saliva, urina, pelas fezes, carnes e peles, pelo sangue e couro, e alcancem uma nova plataforma animal viva. É nela, ou em duas ou três depois dela, que o humano vai se infetar. Uso o termo plataforma de transbordo para referir o animal que passa os vírus diretamente a outros. Em inglês, esse transbordo é denominado spillover.

Quando um animal invade o oikos do morcego e entra em contato com as secreções ou as excreções desse, ele se contamina com a carga viral. Um predador pode comer um morcego. As cobras costumam alimentar-se de morcegos e de ratos. Os humanos, nos vários continentes, comem cobras e aves, morcegos e ratos, além de comerem civetas, pangolins, porcos, ovelhas, frangos, gatos, cães, bois tantos outros. Para comer um animal silvestre é preciso capturá-lo vivo, tocá-lo, esfolá-lo e recortá-lo. As cobras foram listadas no começo das investigações como possíveis plataformas do transbordo do vírus da COVID-19 para os humanos. Os lagartos, por sua vez, alimentam-se de cobras. Tatus e pangolins também as comem. Cada predador, humano ou não, representa um elo na cadeia da transmissão de vírus, bactérias e outros patógenos.

No ato da agressão que costuma iniciar a predação, os pulmões e o sangue da vítima exalam vapores, inspirados pelo predador. Nesses gases estão os vírus. O mesmo ocorre quando o predador humano abate um animal, seja no fundo do quintal, seja em um frigorífico. A carga viral do animal morto, na degola e na esfola, é inalada pelo matador. O sangue carregado de vírus entra pelos poros do magarefe que não usa luvas nem vestes de proteção. As secreções e excreções do animal no momento do estertor respingam pela pele e pela roupa do matador e entram em seus pulmões.

Uma vez penetrados nos pulmões ou na corrente sanguínea do predador, começa o processo de acoplamento dos fragmentos genéticos (vírus) na proteína das células do novo hospedeiro, o berço nutritivo viral. Os genes do vírus roubam a inteligência reprodutiva das células onde se acomodam e se redesenham para facilitar sua replicação. Ali tem lugar a acoplagem das pontas proteicas S do vírus com as proteínas receptoras das células do novo hospedeiro, caso sejam compatíveis. Com a ajuda daquela informação proteica, os genes começam a replicar-se. Este é o destino de todo o vírus: replicar-se. No caso do SARS-CoV-2, a proteína compatível é a ACE2 – Enzima Coversora da Angiotensina 2 (em inglês, Angiotensin-Converting Enzyme 2), presente em dezenas de espécies mamíferas e em algumas aves, todas aptas a se infetarem e a transbordarem a carga viral para outros animais com ACE2 igualmente biodisponível.

Quanto maior a aglomeração de animais das espécies com a proteína ACE2 compatível com as pontas proteicas S virais, maior a disseminação do vírus e mais forte ele se torna, contagiando os que estiverem ao alcance do ar que acaba de ser usado nos pulmões de um animal e, ao ser expirado, é usado imediatamente pelos pulmões dos animais próximos a ele. Essa é a razão pela qual, não apenas, mas especialmente no caso do SARS-CoV-2, a distância entre um pulmão e outro é fundamental para dificultar o contágio. Vale para os humanos. Vale para os outros animais. Infelizmente, no caso dos animais mantidos em confinamento, aglomerados aos milhares, tal distanciamento, que seria saudável e lhes pouparia da morte, não lhes é permitido.

Quanto maior a concentração de hospedeiros em uma área, esse é o caso dos rebanhos industriais e dos silvestres criados para abate, mais contagioso se torna o vírus, explica o virólogo egípcio Ali Mohamed Zaki25, que identificou o “paciente zero” do surto da Middle East Respiratory Syndrome (MERS) em 2012. A MERS devastou rebanhos de camelos e um alto número de seus cuidadores (35% dos infectados). Os rebanhos de camelos propiciaram a transferência do vírus pelo ar expirado e pela coriza de um camelo infetado a outro e deste ao homem que cuida dele, respira o mesmo ar, toca em sua coriza ou saliva.

Entre o morcego ferradura e o camelo, no caso da MERS, há outra espécie animal que serviu de plataforma de transbordo para o vírus. A gata mascarada silvestre, conhecida como musang ou civeta (Paradoxurus hermaphroditus, Civettictis civetta, Viverra tangalunga) tem sido apontada no cenário. Mas quando se chama a atenção para uma espécie de animal da qual se extrai algo que rende milhões, no caso das civetas, trata-se do almíscar, usado na indústria de perfumes e na gastronomia, pode-se estar escondendo outro animal que rende bilhões aos negócios humanos, por exemplo, os visons, dos quais, uma vez esfoladas, as peles são manufaturadas para casacos de luxo. Trataremos dos visons mais adiante. Entre as civetas, os pangolins e os visons, estes são os que ninguém quis apresentar como provável plataforma de transbordo do vírus da COVID-19 na qual os humanos foram infetar-se.

Se nenhum animal entra em contato com a saliva, a urina, as fezes, o sangue, a carne dos morcegos ferradura, os vírus ali presentes seguem dormentes. Sua atividade replicante não põe em risco o morcego. Nenhum contágio ocorre. Nenhuma infeção se desenvolve nem é disseminada. Não há doentes nem mortos. Os vírus Corona, num total de 13 cepas já registradas em morcegos, estão nos organismos deles há milhões de anos. Como é que somente agora, mais precisamente em 2002-2003, ocorre o primeiro surto registrado da SARS-CoV, em 2012, o da síndrome respiratória aguda do Oriente Médio – MERS e, em 2019, a pandemia da COVID-19, que ainda não teve fim, causada pelo vírus SARS-CoV-2?

Entre os morcegos, hospedeiros naturais dos vírus corona, e os humanos, vítimas até então não usuais daqueles vírus, há outras espécies animais arrebanhadas. Na natureza, os rebanhos seguem suas marchas em pequenos grupos. Em muitos casos, os indivíduos vivem solitários, jamais aglomerados em dezenas, centenas ou milhares deles. Esse é justamente o caso de animais confirmados como hospedeiros dos vírus Corona: cobras, civetas, pangolins, visons, raposas, furões, martas, guaxinins, para citar alguns. Quem aglomera animais para facilitar sua escravização e matança são os humanos. Agora somos vítimas dos métodos extrativistas de aglomeração de animais que inventamos nos últimos 50 anos. A moda e a culinária carreiam pandemias virais.

Dieta viral

Houve uma mudança nas últimas cinco décadas da vida humana ao redor do planeta Terra. Uma mudança disparada pela dieta onívora mortal e pela moda e cosmética animalizadas, acionada pelos comedores de carnes, de queijos e de ovos, estimulados em sua gula pela propaganda medicinal de proteínas animalizadas, pela gastronomia animalizada e pelas fake news até hoje recorrentes no meio médico e nutricional de que só obtemos proteínas essenciais de alimentos animalizados. Esta é uma das fake news da ciência nutricional agronegociada: “Proteínas animalizadas são de classe A”; “Proteínas vegetalizadas são de classe B”26. Até para comer os humanos criam narrativas supremacistas.

O esfolamento de animais para servir aos estilistas não fica abaixo da gastronomia mortal. A moda e a cosmética estão diretamente associadas à gastronomia. As carnes dos animais esfolados para extração de peles, escamas e couro são cobiçados no preparo de iguarias, não somente nos continentes europeu e asiático. Quando o humano tem “acesso ao churrasco” e à “manteiga”, ele dá sinal de que está numa classe social elevada. Para aprofundar mais a distinção e garantir seu estatuto superior na hierarquia de poder masculinizada, a mulher que veste um casaco de peles e usa um perfume composto com secreções almiscaradas extraídas das gônadas de civetas, dá sinal de sua supremacia sobre as outras que não têm 25 mil reais para investir em um casaco sanguinolento e mortal. O homem que paga até U$100 por uma xícara de café almiscarado civeta, exibe sua potência contábil a todos os homens para os quais essa xícara de café representa 50% do salário mensal. Moda, cosmética e gastronomia estão impregnadas do viés supremacista que exige distinções entre quem está por cima e quem está por baixo na hierarquia contábil na qual a sociedade foi formatada.

Desde a década de 1970, os animais criados para o serviço do prato humano e para atender a dezenas de outros propósitos deixaram de ser cuidados no sistema familiar, no fundo dos quintais27, espalhados por todas as regiões do mundo. Os animais criados aglomerados, às centenas de milhares, são mantidos em prisões, do nascimento à morte. A aglomeração em ambientes insalubres não é o que deu origem aos vírus Corona e aos Influenza. Ali a transmissão deles é facilitada. Quanto maior a aglomeração, mais o mesmo ar usado pelos pulmões de um indíviduo é juntado ao que sai dos pulmões do lote inteiro e usado outra vez por todos, portanto, maior a disseminação e a mutação viral.

A ciência corre para obter lucros na passagem das ondas virais. Infelizmente, os vírus estão sempre um passo ou dez à frente dos cientistas. Basta ele ser transbordado para um animal de uma nova espécie, antes não infetada, para que mutações importantes ocorram nas pontas proteicas daqueles fragmentos de genes, um processo evolutivo. Se não há financiamento para investigações desse processo, a proliferação e as mutações dos vírus serão conhecidas quando o estrago já se espalhou.

A criação intensiva, aglomerada e vertical de rebanhos exige serviços intensivos de comida, de água e de descarte dos dejetos, incluindo os dos abatedouros. Colher alimentos em quantidade suficiente para servir esfomeados 70 bilhões de animais aprisionados, abatidos a cada ano ao redor do mundo, requer o cultivo de alimentos também de forma intensiva, concentrada em certas áreas. Campos imensos de monocultura facilitam as etapas do processo da semeadura à irrigação, da fumigação com agrotóxicos à colheita, e, por fim, o transporte. Essa é a causa dos desmatamentos. O desmatamento é a chave da propagação atual dos vírus, não apenas dos Corona, mas também dos Influenza que dizimam aves (gripe aviária), suínos (gripe suína), e humanos (COVID-19).

Os morcegos viveram em seus oikoi por milhões de anos, levando consigo seus hóspedes inofensivos, os vírus Corona e dezenas de outros. Quando desmatamos as áreas habitadas por eles, áreas com árvores frutíferas silvestres das quais eles se alimentam, invadimos sua casa e nos expomos às cargas virais deles, não sem antes expormos outras espécies animais domesticadas e domésticas ao contágio.

Quem contabiliza os doentes e os mortos das espécies silvestres que foram contaminadas com os vírus dos morcegos que ora circulam pelas áreas devastadas em busca de frutas? Não se tem essa estatística dos mortos. Esses mortos permanecem incontados.

Antes de algum humano sofrer a contaminação inicial é preciso que outros animais tenham sido expostos aos morcegos desalojados, àqueles que perderam suas árvores frutíferas silvestres e vagueiam pela noite buscando novos restaurantes, sejam eles naturais ou plantações artificiais de frutas. Em suas voanças noturnas, os morcegos encontram árvores frutíferas, alimentam-se delas e ali mesmo defecam, urinam e, ao emitirem sons, comunicando-se com os pares da mesma colônia, babam. Os vírus que estão neles saem e ficam depositados sobre o solo ou sobre a folhagem das árvores e dos frutos, dos quais vão se alimentar outros animais silvestres, geralmente mamíferos não voadores, como as gatas civetas, os pangolins e outros mustelídeos, além de roedores, repteis e aves. Uma vez introduzidos nos novos hospedeiros, é preciso que aqueles genes virais se redesenhem para conseguir replicar-se com eficiência. Conforme tratado antes, animais silvestres mortos para comilança são animais com cargas virais capazes de serem liberadas no ar que expiram, ou pelo sangue quente esvaído na degola, não apenas pelas fezes, urina e saliva. Mas os vírus também estão nas carnes, nas peles, nas escamas e na gordura dos animais. Ao redor do mundo, o procedimento de matar, esfolar e esquartejar animais segue as tradições locais, não as normas de higiene e esterilização tidas como padrão nos frigoríficos. Aliás, nem nesses as condições são higiênicas. As aparências enganam. Basta anotar o número de trabalhadores que operam o abate e recortam as carnes na esteira rolante contaminados por bactérias e vírus ao redor do mundo28.

No caso do SARS-CoV que causou o surto de 2002-2003, a civeta foi apontada como o animal que serviu de plataforma de transbordo do vírus do morcego para os humanos. Lembramos que os felinos são suscetíveis à infeção pelo SARS-CoV-229. Gatos domésticos foram testados às centenas nos laboratórios e mortos para necropsia dos órgãos vitais e do cérebro. Mas como é que os humanos acabaram por coletar o vírus da gata civeta ou, conforme ainda se suspeita, de algum intermediário mustelídeo? Sabemos que ao comer os frutos contaminados com saliva, urina e fezes de morcegos, ou os próprios morcegos, as civetas, os mustelídeos, os roedores e os humanos acabam por se tornar uma plataforma de transbordo do SARS-CoV, na qual outros serão infetados. Mas como isso ocorre? Se os humanos não capturassem, aprisionassem, mantivessem civetas, mustelídeos e roedores em ambiente domesticado, essas plataformas virais seguiriam com suas cargas recebidas dos morcegos e nenhum humano teria sido infetado. Muito provavelmente, pelo modo de vida solitário que os indivíduos dessas espécies têm, nenhum animal de suas próprias espécies teria sido infetado, pois eles vivem longe de aglomeramentos. O ar que sai dos pulmões de um não entra ainda úmido e quente, carregado de vírus, nos pulmões de outros. Aí temos a razão para o distanciamento físico, a única forma de não inspirarmos o que acaba de ser expelido do corpo dos outros.

Animais originalmente não suscetíveis à infeção pelo SARS-CoV-2 passaram a ser infetados assim que o vírus fez mutações. Esse é o caso dos ratos. Os pombos são biodisponíveis para as proteínas do vírus; pode ser que também o sejam os pinguins da Antártida. Esses vivem em colônias que concentram centenas de milhares. O risco da disseminação do vírus entre esses povos é altíssimo. A COVID-19 foi detectada nas plataformas da Antártida que alojam cientistas de vários países para suas pesquisas30.

Extrativismo de rebanhos silvestres aprisionados

A civeta tem sido criada em aglomerações com o propósito de extração de sua pele e de suas carnes, de almíscar. Mas não se reduz a essas três explorações o objetivo da criação de civetas. Esse animal carnívoro também se alimenta de frutas. Além da extração de peles, almíscar e de carnes, as civetas são exploradas no processo de produção do café mais cobiçado do mundo, o Café Civeta. Chega a custar mais de U$1.000 o quilograma do grão. Às civetas aprisionadas são dados os frutos do cafezal para comer. Uma vez expelidos nas fezes, os grãos almiscarados são coletados e moídos. O aroma impregnado no café pela passagem do bolo fecal na zona perineal, sexualmente aromatizada, do animal, é o que o torna uma iguaria. Na natureza, as civetas circulam em busca de frutos nas áreas por onde também circulam os morcegos, os mustelídeos e os roedores com o mesmo propósito. Nessas áreas circulam humanos catando fezes para usar como adubo em suas plantações, pois as fezes são riquíssimas em nitrogênio, fertilizante imprescindível no cultivo de todos os alimentos. Comendo frutos carregados de saliva, fezes e urina de morcegos, as civetas se infetam de vírus corona. A variante presente nelas é a mais próxima da que infetou os camelos (MERS) no Oriente Médio em 2012. Mas alta porcentagem da mesma sequência genômica ainda não quer dizer Eureka! Provavelmente, outras espécies animais foram infetadas pelas civetas nesse campo aberto à disseminação viral.

No caso do SARS-CoV-2, o percentual genético do vírus não parece confirmar que tenha sido o rebanho das civetas a plataforma de transbordo na qual os humanos se infetaram. Mas, os cientistas deram por certo que foi nessa plataforma que os humanos e os camelos se infetaram no caso do SARS-CoV e da MERS. Ainda não se chegou ao consenso.

Mas, em qual plataforma de transbordo viral os humanos se infetaram pela COVID-19? Ainda não se sabe. Pode levar uma década, ou muitas mais, para se vir a saber disso. Em 2020, foram apontadas as cobras, as civetas, os ratos – que voltaram a ser apontados, em 2022, junto com os hâmsters e os ratos-do-bambu, como carreadores do SARS-CoV-231 –, os felinos e os pangolins. Incluamos na lista os visons, “esquecidos”, até metade de 2020, ou, pelo menos, não denominados nas investigações científicas iniciais.

Os visons formam a segunda maior população de mamíferos aprisionada do mundo, perdendo apenas para a dos suínos. Por quantas plataformas animalizadas os humanos pisam para manter seu padrão supremacista de consumo e uma dieta que lhe faz par? Café gourmet almiscarado, remédios afrodisíacos, bacon e casacos de luxo, tudo junto e misturado, constituem a díaita animalizada mortal. Letal para os ecossistemas naturais, para os animais não humanos e para os próprios humanos.

Depois das cobras, dos ratos, dos furões e das civetas, os Pangolins (Manis spp.) entraram na lista da provável plataforma de transbordo do SARS-CoV-2 dos morcegos ferradura transbordado para os humanos. Os pangolins são caçados na natureza, aprisionados e mortos com vistas à extração de suas escamas, usadas como elemento na composição de vários remédios afrodisíacos e fortificantes da Medicina Tradicional Chinesa – MTC até 202032, de suas carnes, e de sua pele, cobiçada para sapatos, bolsas, cintos e botas, desenhada em padrões fractais pelas escamas ali incrustradas.

As investigações mostraram que a sequência dos genes do vírus Corona encontrado em pangolins da Malásia, apreendidos em operações anti-tráfico, entre agosto de 2017 e janeiro de 2018, cujo material foi examinado por dois cientistas, Yi Guan, da Universidade de Hong Kong, e Yan-Ling Hu, da Universidade de Medicina de Guangxi, têm 85% a 92% da sequência do vírus SARS-CoV-2 encontrado em humanos33 infetados com a COVID-19 no final de 2019. Em virologia, 1% pode ser a chave para o sim e para o não. Se a semelhança entre as cargas virais está um pouco abaixo dos 100%, insistir em que aquele é o animal plataforma de transbordo direto onde os humanos se infectaram pode levar a desvios nas investigações seguintes. Resta identificar a plataforma intermediária entre os pangolins malaios e os humanos. Há chance de que o elo perdido sejam os visons ou algum de seus pares criados para extração de peles, e os suínos assintomáticos, nos quais vários vírus Corona já foram detectados. 

Pangolins

O pangolim é um animal mamífero, sua figura lembra a de um tatu, com aquele telhado cobrindo o corpo. Mas as telhas são centenas de escamas que podem ser extraídas. Ao contrário do canguru, o pangolim carrega seus bebês sobre as costas. Esse animal tem hábitos alimentares semelhantes aos do tamanduá: ele captura formigas e cupins com sua língua pegajosa e longa que chega a medir 25 cm.

Das oito espécies de pangolim, quatro vivem na Ásia e quatro na África. Todas estão na lista de proteção internacional contra a captura, o abate e o tráfico de suas escamas e ossos, para produtos tidos como milagrosos, carnes para comilança, nos dois continentes, e pele para artefatos do vestuário. Mesmo assim, uma carga de nove mil toneladas de escamas de pangolim, que representou o assassinato de 13 mil animais, foi apreendida em um navio traficante que levava outras carnes, legalmente, da África para o Vietnã.

O pangolim é o mamífero mais caçado e traficado do mundo34. Como ele não se presta à criação aglomerada em confinamento35, os traficantes o capturam diretamente da natureza, chegando a um milhão de indivíduos eliminados da vida nos últimos dez anos, dos quais foram extraídas 20 toneladas de carne, pele e escamas levadas de um país para o outro, conforme dados do TRAFFIC36, agência que monitora o comércio da vida silvestre37 ao redor do mundo. O tráfico de animais silvestres vem em quarto lugar nos negócios ilegais, perdendo apenas para o tráfico de drogas e de armas, o de petróleo, e o de mulheres para exploração sexual. O poder da economia traficante, matadora, sonegadora de impostos e lavadora de dinheiro dos negócios ilícitos é de dois a três trilhões de dólares por ano. Derruba e instala governos mundo afora. Mata milhões espalhando vírus e pandemias.

O cientista chinês Yang Zhanqiu, professor de patologia do Departamento de Biologia da Universidade de Wuhan38, aventa a hipótese de que o vírus da COVID-19, que, de fato, não tem 100% o genoma do que está no morcego ferradura, mas tem 96% do que está no pangolim, possa ter origem em animais aquáticos, não em morcegos. Faz sentido. Os visons são animais aquáticos. Por isso, incluo os visons na lista dos animais que podem ter hospedado o vírus por muito tempo, antes de os humanos se infetarem com ele. Mas é preciso ainda outro elo nessa cadeia, para que a plataforma permita o transbordo direto do vírus instalados nos visons para os organismos humanos. Até o momento, tem-se o inverso: humanos infetados passaram o vírus para os visons aprisionados. Ele fez uma mutação e então foi possível aos humanos se infetarem através dos visons manejados aglomerados.

Os vírus Influenza das gripes aviária (H5N1) e suína (H1N1) que infectam aviários, ovuários39 e suinários, têm como plataforma de transbordo as aves migratórias. Elas pousam nos lagos para se alimentar e ali excretam os vírus Influenza A. Se as aves criadas para abate se alimentam das fezes das aves migratórias, elas são infetadas. O ar inspirado pelas aves confinadas está carregado do vírus, expirado pelas aves migratórias. Seguindo tal raciocínio, se outros animais aquáticos, os pescados, são alimentados com fezes de animais infetados pelo SARS-CoV-2, por exemplo, as fezes de suínos, os animais, aos quais esses pescados forem servidos, servirão de plataforma para a transmissão aos humanos que os comerem ou manipularem. Tese plausível para chegarmos à infestação das fazendas de peles de visons, animais aos quais os pescados são servidos.

Peles

Saiamos da Ásia e da África e mergulhemos na COVID-19 pela porta de entrada da Europa e da América do Norte. Não são apenas as civetas e os pangolins os animais cobiçados para os negócios gastronômicos, cosméticos, medicinais e da alta costura. O maior rebanho silvestre confinado no mundo é o de visons, raposas, civetas e outros, cujas peles são disputadas para casacos de luxo.

As condições sanitárias nas quais esses animais são criados são indescritíveis, no mesmo padrão da imundície na qual são deixados os suínos, as aves e muitas vacas usadas para extração do leite, até o abate, menos na hora de fazer uma foto ou vídeo para propaganda do alimento animalizado.

No caso dos visons, mamíferos semiaquáticos, que vivem tão bem na terra quanto na água, a higiene dos pelos na água é rotina diária. Confinado em gaiolas de arame, justapostas, os animais vivem por nove meses, ou mais – no caso das fêmeas usadas para reprodução de quatro bebês por ano40 –, em contato direto com fezes, urina, sangue, saliva, pelos imundos, ar infecto que entra e sai de um pulmão para ser imediatamente usado por outros pulmões à volta. Esse não é o ethos natural dos visons. Tampouco eles estão em seu oikos natural Quando um animal é infetado pela COVID-19, lotes inteiros sofrem o contágio. Ao contrário de alguns animais, que podem receber a carga viral mas não desenvolvem a infeção nem morrem, os visons sofrem as mesmas aflições dos humanos infetados. O número dos mortos passou de uma dezena de milhar em uma única fazenda.

De abril a novembro de 2020, fazendas de criação de visons para extração de peles para casacos de luxo foram infetadas pela COVID-19 pela Europa afora e nos EUA. O número dos mortos supera de longe o dos humanos. Alguém pôde acompanhar, por seis meses, as notícias que circularam nos jornais internacionais sobre a pandemia nos visons? O noticiário brasileiro tratou do caso somente no momento dramático da execução sumária dos visons contaminados na Dinamarca. Quando os negócios com casacos de pele foram ameaçados, daí os noticiários deram atenção ao caso.

Na Holanda, a área mais flagelada pela COVID-19 foi a da província Noord Brabant, no Sul. No último final de semana de abril de 2020, as autoridades sanitárias holandesas foram alertadas para um surto da COVID-19 em duas fazendas com uma população estimada em 20 mil visons. A Holanda criava, até então, cinco milhões de visons por ano, para extração de peles e confecção de casacos de luxo41. Foi na Holanda, antes de ser registrado na Dinamarca, que pela primeira vez se confirmou a presença da variante Cluster 5, que ameaçou pôr por terra todas as vacinas já prestes a serem aplicadas mundo afora42. Os visons podem ter alojado essa variante, sem alarde, por meses. Quando se confirmou que ela poderia derrotar todos os planos de vacinação, os visons foram expostos na vitrine. 

Os maiores importadores das peles produzidas ali naquela região da Holanda eram a China, a Coreia do Sul, a Grécia e a Turquia. Outros três países competiam com a Holanda na criação e exportação de peles de visons: Dinamarca, China e Polônia43. Pode não ser mera coincidência a COVID-19 ter surtado primeiro na China e na Coreia do Sul.

Há pelo menos dois anos a Organização Mundial de Saúde e todos os epidemiologistas, infectologistas e pandemiologistas investigam quais rebanhos podem ser campo de refúgio do vírus SARS-CoV-2 na travessia do morcego, seu ambiente natural não infectável, para os portos onde os humanos se infetam. Os cientistas também estão firmando a conclusão de que esse vírus esteve por muito tempo em algum rebanho mamífero, sem lhe causar mal algum, apenas preparando sua mutação, flexibilizando sua cadeia de genes para melhor acoplar-se às proteínas ACE2 das células de humanos e de várias outras espécies. Dezenas de espécies foram investigadas e confirmadas, no início de 2020, como suscetíveis de acoplarem o vírus da COVID-1944. Por representar o povo mamífero confinado, cujo número populacional ocupa o segundo lugar mundial, depois do rebanho suíno, podemos acrescentar à lista os visons.

Os visons holandeses, adoecidos pela COVID-19, no final de abril de 2020, tiveram os mesmos sintomas de boa parte dos humanos. As autoridades sanitárias desconfiam que os humanos que trabalhavam nas duas fazendas transmitiram o vírus para prisioneiros animais. Mas, quem garante que o vírus não esteve nos visons, silenciosamente, como esteve nos pangolins da Malásia desde 2017, sem que ninguém o soubesse? Em maio de 2020 foi registrado o primeiro caso de contágio da COVID-19 de visons adoecidos para um trabalhador que os manejava45.

A Holanda vinha reduzindo a produção das 160 fazendas de peles, prevista para serem abolidas em 2024. Lobos e chinchilas já não eram mais criados lá. Mas a Holanda não está só nesse tipo de fazenda. O vírus contagiou as populações aprisionadas de visons também na Dinamarca, na Suécia, na Itália, na Espanha, na Grécia, na Polônia e nos EUA. Até meados de 2020, segundo o Professor Ma Zefang, da Faculdade de Ciência Animal e Tecnologia da Universidade de Agricultura de Qingdao na China, não havia registro de casos de COVID-19 nas fazendas de visons46. Aliás, também nenhuma notícia se teve de trabalhadores infetados em frigoríficos chineses. A China é a maior produtora de peles do mundo. É também o único país que adotou a estratégia sanitária “COVID Zero”, implicando em testagem de toda a população de uma cidade e isolamento dos casos positivos, mesmo que somente uma meia dúzia de humanos apresentem os sintomas da COVID-19, algo considerado impraticável e insustentável no Ocidente, onde vários chefes de Estado adotaram a estratégia genocida de “imunidade de rebanho”, baseados em desinformação sobre o real significado da expressão, que só faz sentido com a vacinação de 80% dos animais em um rebanho infetado. Deixar o “rebanho humano” contrair a COVID-19, ou seja lá qual for outra doença epidêmica, não alcança o propósito da imunização, apenas do extermínio. Portanto, “imunidade de rebanho” tem a ver com genocídio, não com proteção contra o contágio.

Em 2019, foram criados na China, aprisionados e esfolados para extração das peles 14 milhões de raposas, 13.5 milhões de guaxinins e 11.6 milhões de visons, segundo estatísticas oficiais da matança internacional47. Os EUA importam peles da China e esta importa dos EUA e da UE peles de visons, pela qualidade mais refinada, decorrente de interferências genéticas e do manejo. 

No Reino Unido, não houve infetação de visons. Em 2002, após meio século de lutas, os abolicionistas conseguiram do governo o fim das fazendas de peles em território britânico48. A França e a Polônia poriam fim a elas em 2025, e a Holanda em 2021. Elas foram abolidas em 202049. Não foi por bem, nem por qualquer consideração pela dor e sofrimento dos animais. Teve que ser por mal, pela mortandade humana. Nesse ínterim, o exemplo dos ativistas britânicos foi seguido por alguns outros países. Antes da pandemia, vários países já haviam abolido as fazendas de peles50. Segundo a HSI, elas foram abolidas nestes países (no caso do Brasil em apenas um Estado): Áustria, Bosnia & Herzegovina, Bélgica, Croácia, República Tcheca, Luxemburgo, Holanda, Irlanda do Norte, República da Macedônia, Sérvia, Slovênia, Reino Unido, São Paulo. Nos últimos dois anos, também aboliram tais fazendas a Dinamarca, o Japão, a Alemanha, a Suécia e a Suíça. Índia, Polônia, Lituânia e Ucrânia planejavam a abolição antes da pandemia51.

Permanecem incontados os visons silvestres e seus primos mustelídeos, suscetíveis à doença viral, que contraíram os vírus dos seus pares aprisionados nas gaiolas. Os silvestres costumam visitar as fazendas, em busca de comida. Além das visitas dos parentes remotos, os prisioneiros conseguem romper o arame das gaiolas e fugir. Eles levam consigo as cargas virais e bacterianas contraídas na prisão52 e contaminam os demais animais53. Muitas espécies silvestres suscetíveis ao vírus estão com a carga dele. Em dezembro de 2020, foi confirmado o primeiro registro da COVID-19 em um vison silvestre54. Cervos e gazelas silvestres, testados para COVID-19, haviam sofrido o contágio. Quantos morreram nas florestas, nos rios, nos oceanos, sem que tenhamos o registro de suas mortes?

É questão de tempo. Logo teremos o retorno desse vírus, vindo de diversas espécies de volta para a nossa. Estamos em contato direto com rebanhos domesticados industrializados. E os animais silvestres estão sempre em contato com essas instalações, seja em busca de alimento, seja porque, para instalar as prisões animalizadas, a indústria invade os oikoi naturais de centenas de espécies.

De contágio em contágio, conseguimos que o SARS-CoV-2 mutasse nos visons, criando a cepa Cluster 555. Humanos sofreram a infetação com ela. Portanto, de algum modo, essa cepa segue dormente em organismos humanos e não humanos.

Para além da Holanda, da Bélgica, da Espanha, o vírus alastrou-se pelas fazendas de visons da Dinamarca. Em 4 de novembro de 2020, a Primeira Ministra, Mette Frederiksen, que conseguira controlar os surtos da COVID-19 em humanos, colocando a Dinamarca, junto com a Nova Zelândia, entre os países liderados por mulheres, que melhor sucederam no controle da pandemia, ordenou o extermínio dos 17 milhões de visons das fazendas dinamarquesas. As cenas são inesquecíveis.

A Dinamarca tem uma população de 5,8 milhões de humanos. A de visons era três vezes maior. Ela abatia e extraía as peles de 17 milhões de visons por ano, vencendo de longe a China que, com uma população humana 241 vezes maior do que a da Dinamarca, abate menos de 12 milhões desses animais por ano. Proporcionalmente, para cada dinamarquês eram abatidos três visons por ano, enquanto 116 chineses representavam o abate de um vison. Obviamente, para os inocentes indefesos mortos, tais proporções não alteram o resultado final. Mas esses cálculos ajudam a restabelecer a justiça em meio à sinofobia e à xenofobia reinantes no Ocidente, sem isentar os chineses pelos danos que causam aos povos com pelagem macia, por conta do conforto luxuoso dos casacos produzidos à custa de suas vidas inocentes.

O faturamento dinamarquês com a venda de peles de vison, em 2020, estava estimado em 350 a 400 milhões de Euros. Espectativa econômica esvanecida, infectada, mutada, pelo SARS-CoV-2-Cluster 5. As mutações que o vírus já fez, das mais de 100 mil amostras que os cientistas conseguiram capturar, passavam, à época, de 13 mil. O vírus muta cada vez que é despejado em um novo campo. A diferença é que, com todas as mutações que ele fez desde o registro dos primeiros casos em Wuhan, ele não havia infectado humanos a partir de um rebanho animal, não que se tenha notícia disso. Foi o que ocorreu nas fazendas de visons: humanos foram infetados pelo vírus dos visons. Esse foi o caso da variante Cluster 5 detectada no trabalhador de uma fazenda de visons na Holanda56.

Ao redor do mundo, até 2018, o Canadá comercializava 1.8 milhão de peles, os EUA, 3.1 milhões, a UE 37.8 milhões e a China 50.5 milhões57. Somados, oficialmente, são mais de 93 milhões de vidas eliminadas, fora a matança clandestina, não registrada.

Cada casaco de pele de vison custa a vida de pelo menos 65 animais. O total de visons eliminados da vida, na Dinamarca, estava destinado à produção de 260.000 casacos. Como se os humanos não houvessem criado tecidos sintéticos tão macios e retentores do calor do corpo quanto o são as peles dos animais. Na verdade, as peles são usadas como ostentação de poder econômico. Luxo sanguinolento, gosto sanguinário.

Em 11 países da Europa e da América do Norte, 289 fazendas de peles contabilizaram 422 surtos da COVID-19 nos animais. Visons, guaxinins e raposas são suscetíveis ao SARS-CoV-258. Os mustelídeos, família de mamíferos carnívoros à qual pertencem os visons, os texugos, os furões, as martas, as doninhas, os wolverines (doninha gigante) e as lontras, são suscetíveis à doença infecciosa causada pelo vírus SARS-CoV-259. Todos comem carnes de rebanhos ou de pescados. Em alguma delas está o vírus que os infeta.

O vírus tomou conta dos rebanhos em 214 das fazendas de visons na Dinamarca. Em cinco delas, ele veio na versão Cluster 5, que desliga o interruptor imunológico do organismo humano, ameaçando as vacinas. Essa é a razão pela qual a Dinamarca decretou o extermínio e o descarte sanitário da população de 17 milhões de visons. Com a medida, foram extintas as fazendas e a matança de visons. Não vi notícias sobre investigação da origem dos pescados servidos aos visons daquelas cinco fazendas. Não que eu ache que os pescados sejam a origem da COVID-19, mas sabemos que eles são alimentados com as fezes das fazendas de criação de porcos, de aves e de extração do leite.

Em uma fazenda na região de Kozani, no norte da Grécia, 2.500 visons foram eliminados por estarem infetados60. A província de Aragão, no nordeste da Espanha ordenou a eliminação de 92.700 visons infetados, após mais de 80 mil animais testarem positivo para COVID-1961. Em julho de 2020, a Europa contava mais de um milhão de casos de visons eliminados por estarem infetados pelo vírus. Mas a hecatombe viria em novembro, quando a Dinamarca, maior produtora de peles de vison do mundo, eliminou em duas semanas todo rebanho de visons confinados.

O que não se sabia, até maio de de 202062, com os surtos nas demais fazendas europeias, é que os visons eram plataformas de transbordo do vírus para os humanos que trabalhavam nas fazendas e ali foram infetados com a variante Cluster 5. Ao fazer o transbordo, o vírus mutou de tal forma que todas as vacinas já em testes clínicos, à época, perderiam seu poder imunizante. O gesto da Dinamarca salvou o mundo de muitas mortes humanas, mais do que as registradas antes das vacinações em massa. Não salvou a vida dos visons. Eles estavam com a senha da morte colada à testa para dali a alguns meses a mais de vida encarcerada. Pelas notícias no final de abril de 2022, nenhum humano foi infectado desde então com o Cluster 5.

Estilistas de marcas famosas aboliram de suas coleções o uso de peles, entre eles: Stella McCartney, Macy’s, Prada, Coach, Gucci, Michael Kiors, Versace, Ralph Lauren, Calvin Klein e Giorgio Armani63. Sua decisão contribui para eliminar a fantasia de que a beleza feminina tem que vir envolta em maciez, fofura, disponível ao toque, convidando ao toque, à custa do esfolamento das outras “fêmeas” cujos corpos jazem aniquilados, inacessíveis ao toque, invisíveis aos olhos das mulheres que se fazem recobrir com suas peles. Um metro quadrado de pele custa a vida de 60 visons. Para finalizar um casaco são necessárias pelo menos 65 peles. O preço delas varia conforme sua qualidade, entre U$ 30 e U$ 5064.

Por trás da “fofura e maciez” das mulheres que vestem tais casacos, há um poder másculo, uma potência áspera, violenta, que fere, viola e domina as “fêmeas” aprisionadas pelas peles. Que se entenda, com tal expressão lírica, tanto as pessoas visons trancadas em gaiolas de arame quanto as humanas envoltas nas peles extraídas daquelas por esfolamento.

Os 34 cientistas que fizeram a primeira investigação em busca da fonte do SARS-CoV-2, ao final de sua visita preliminar à China, recomendaram:

  1. Que sejam testados os rebanhos ao redor do mundo.
  2. Se ainda preservados, que sejam testados os produtos animalizados congelados importados por qualquer país entre 2018-2020.

Para fundamentar sua recomendação, eles fizeram lembrar que as pesquisas levadas a efeito para identificar espécies ou rebanhos que tenham servido de plataformas de transbordo do vírus, desde os morcegos até os humanos, têm ampliado o número de espécies suscetíveis à infetação, especialmente de animais mamíferos. Os visons, os felinos silvestres e domésticos são muito suscetíveis a esse vírus. Também o são os mustelídeos e os roedores.

As fazendas de vison estão no foco da OMS desde novembro de 2020, quando ela pediu que os países criadores levassem a efeito a fiscalização e a implementação de medidas de biossegurança rígidas nas áreas onde há tais instalações65.

As fazendas de visons, na China, não sofreram surtos como ocorreram na Holanda, na Dinamarca, na Suécia, nos EUA, na Itália, na Espanha, na Grécia e na Polônia. De meados de 2020 até o momento, não se tem notícia alguma de casos de COVID-19 em visons aprisionados na China. Sabemos, outrossim, que a mera ausência de evidências não significa evidência de ausência. Onde não há investigação, onde não há um olho treinado para ver, todos seguem às cegas.

O fim do aprisionamento de rebanhos para extração de peles, não menos do que o dos rebanhos para extração de carnes, couro, leite e ovos, terá que ocorrer, rebanho por rebanho. A proposta abolicionista enseja o fim de plataformas de transbordo virais. Que adotemos a dieta vegetalizada integral, enquanto ainda temos tempo para lutar em defesa da vida animal. Todos os animais nascem iguais. Nenhum nasce mais do que o outro. Animastê!

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Notas

1 Palestra proferida online no CONGRESSO INTERNACIONAL DE DIREITOS ANIMAIS, promovido pela Associação Nacional de Advogados Animalistas. Apoio de NTDH-UFRJ; Zoopolis – UFPR; Andira – UNIFG; CEA UFRJ; e ONG Ética Animal. Convite feito por Anna Caramuru Aubert, por inbox, em 20/1/22, às 14:32’.

2 Sônia T. Felipe é filósofa, vegana, Doutora em Filosofia Moral e em Teoria Política pela Universidade de KonstanzAlemanha (1991), com pós-doutorado em Bioética Animal pela Universidade de Lisboa (2002). Professora aposentada da graduação e pós-graduação em Filosofia e do Doutorado Interdisciplinar em Ciências Humanas da UFSC (1970-2010), orientou dissertações e teses nas áreas de Teorias da justiça, Ética animal e Ética ambiental. Pesquisadora permanente do Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa, Membro do Bioethics Institute da Fundação Luso-americana para o Desenvolvimento, autora de: Ética e experimentação animal: fundamentos abolicionistas, Edufsc, 2007; Por uma questão de princípios, Boiteux, 2003; Galactolatria: mau deleite, Ecoânima 2012; Acertos abolicionistas: a vez dos animais, Ecoânima 2014; Carnelatria: escolha omnis vorax mortal, 2018; Abolicionismo animalista, FiloCzar, 2022. Colaborou em dezenas de coletâneas de Ética Animal e Ambiental. É autora de centenas de artigos sobre Ética animal, Ética ambiental e Dietética abolicionista vegana publicados em sites online. Introduziu, no Brasil, na década de 1990, as teorias éticas de fundamentação da defesa dos direitos animais.

3 A expressão metafórica representa a complexidade das ameaças à vida humana, ecossistêmica natural e de animais das demais espécies. Para onde quer que olhemos, seja qual for o âmbito do consumo, damos de cara com itens extraídos dos corpos dos animais vivos, ou deles já mortos, e usos dos animais para quaisquer propósitos humanos. Nossa cultura é violenta com os animais. Nossos hábitos e crenças não escapam do mesmo formato.

4 Em grego, díaita significa o modo de viver. O modo de comer faz parte do modo de viver, mas díaita não se reduz ao que chamamos dieta em português.

5 Kane Tanaka, nascida em 2 de janeiro de 1903, em Fukuoka, Japão, morreu em 19 de abril de 2022. Até aquela data, a mais longeva do mundo, registrada pelo Guinness foi a francesa Jeanne Louise Calment, que morreu em 1997 aos 122 anos e 164 dias. Cf. NOTÍCIAS R7 [2022], 25/4/22.

6 GREGER [2006]; WALLACE [2016]; WALLACE [2020].

7 KHAN [2022], 21/2/22.

8 Cf. WORLDOMETER [2022] 6/4/22.

9 WORLDOMETER [2022], 26/4/22. Até a revisão deste texto para publicação, o total de infetados registrados e confirmados pelos testes estava em 554 milhões, o de mortos em 6,37 milhões e o de recuperados em 529 milhões de humanos. [2022], 4/7/22.

10 WORLDOMETER [2022], 6/4/2022; AGÊNCIA BRASIL [2022], 6/4/22.

11 Cf. AL JAZEERA [2022], 8/4/22.

12 Para conhecer o trabalho da Doutora Matshidiso Moeti como diretora regional da OMS, ver WHO Africa, Regional Director Dr Matshidiso Moeti. Disponível em: <https://www.afro.who.int/regional-director/biography>. Acesso 10 abr. 2022.

13 AGÊNCIA BRASIL [2022], 4/4/22.

14 Cf. KHAN [2022].

15 Cf. KHAN [2022].

16 Cf. KHAN [2022].

17 Cf. Tabelas que construí ao longo do ano de 2020 e disponibilizei no meu pefil do FB.

18 Cf. KHAN [2022].

19 E Viva o SUS!

20 Cf. Artigo publicado pela Revista Forbes, apud KHAN [2022].

21 Cf. KHAN [2022].

22 Uso o termo povos para referir populações de seres sencientes que vivem em seus ambientes naturais ou em ambientes manejados por humanos, ocupando espaços e fazendo trocas nesses espaços, do mesmo modo em que o fazemos nós, da espécie humana.

23 A MERS tem letalidade da ordem de 35% dos infetados. MOURA [2020], 5/3/20.

24 Na condição de filósofa, sinto constrangimento cada vez que leio artigos científicos usando o termo spillover (salto) designando o movimento do vírus de um hospedeiro para outro. Também sinto desconforto moral quando leio que os “humanos foram infetados”. Colocar o sujeito humano na condição de vítima passiva da infetação, é atribuir ao vírus ou ao animal no qual está o vírus, a responsabilidade pela infetação dos humanos. Estou corrigindo a forma de expressão de tais ocorrências, puxando para os humanos a ação da infetação, seja porque foram os humanos quem causaram os desmatamentos que desalojaram os morcegos de seu oikos natural e os forçaram a entrar em contatos com rebanhos silvestres e domésticos, seja porque são os humanos que capturam, esfolam, esquartejam os animais e consomem suas carnes, peles, gordura, escamas, couro, ossos, são quem vão ao encontro do vírus, esse não vem por conta própria atacar os humanos. No ato do abate ou da manipulação dos restos mortais dos animais, os humanos se contaminam com as cargas virais e bacterianas ali presentes. O vírus não pula, não corre, não salta, não desliza, não voa, não se desloca. O vírus é deslocado. Prefiro usar a expressão plataforma de transbordo para denominar os sujeitos que compõem o cenário natural ou artificial de infetação. Portanto, não são essas plataformas que se deslocam e atingem os humanos, pelo contrário, são os humanos quem se deslocam, invadindo o cenário onde os outros animais se encontram com suas incontáveis cargas virais. Com a invasão, os humanos buscam a infetação, ainda que não saibam o que fazem. Com a devastação dos corpos dos animais, os humanos buscam a infetação. Em momento algum o humano é o animal vítima em qualquer pandemia. Que ele sofre e morre, é certo. Que os animais outros sejam culpados por tal sofrimento e mortes, não procede. Menos ainda procede dizer que o vírus “salta” para os humanos.

25 QU [2020], 27/2/22.

26 Informações detalhadas são oferecidas no livro: FELIPE [2018].

27 QUAMMEN [2012]; GREGER [2006]; WALLACE [2016; 2020].

28 É preciso outro texto, tão ou mais longo do que este, para tratar da questão da imundície nos abatedouros e da epidemia da COVID-19, além de outras doenças frequentes em quem manipula as carnes ainda vertendo sangue e exalando gases. Para aprofundar a questão da imundície e da contaminação no ambiente de matança institucionalizada de rebanhos, recomendo a leitura dos livros: SINCLAIR [1906]; DAVIS [1996]; EISNITZ [1997]; STULL & BROADWAY [2004]; GREGER [2006]; QUAMMEN [2012]; WALLACE [2015].

29 Cf. QIU et alii [2020].

30 GLOBAL TIMES [2020], 22/12/20.

31 STANDAERT [2020], 9/4/20.

32 Em julho de 2020, a China divulgou sua nova versão da Chinese Pharmacopeia, o compêndio que lista os remédios autorizados na China, reunindo os tradicionais aos da medicina ocidental. Da nova Pharmacopeia foram eliminados os remédios que incluem em sua composição matérias ou extratos extraídas dos pangolins. Cf. JI [2020], 3/7/20; e JI, [2020], 6/7/20.

33 LUSA [2020], 26/3/20.

34 Cf. ONU [2019], 16/2/19.

35 Cf. CHEN [2020], 5/6/20.

36 Agência internacional com 170 membros que atuam nos cinco continentes, cujo propósito é “assegurar que o comércio de plantas e animais silvestres não ameace a conservação da natureza”. Sobre a agência, ver: <https://www.traffic.org/about-us/our-mission/>. Acesso 10 abr. 2022.

37 CHEN [2020], 5/6/20. Durante a pandemia, TRAFFIC registrou quase o dobro de denúncias de abate de animais silvestres para comilança, na Índia. Entre eles: cervos (Muntiacus muntjak), civeta (Viverricula indica), cobra-rei (Ophiophagus hannah), gazela (Gazella bennettii), pangolim (Manis spp.), urso preto himalaio (Ursus thibetanus), pantera (Panthera pardus), pavão silvestre (Pavo cristatus), além de lagarto, porco-espinho, javali, pequenos macacos, esquilos gigantes, lebres, pequenos felinos silvestres. Em certos casos, o aumento chegou a 44% em relação ao período pré-pandemia. Cf. TRAFFIC [2020].

38 Entrevistado pelos jornalistas Zhao Yusha e Xu Keyue, do Global Times (18/10/20).

39 O termo ovuário é um neologismo criado no livro Carnelatria: escolha omnis vorax mortal, para indicar as instalações nas quais milhões de galinhas são mantidas em prisão perpétua com vistas a expelirem ovos em ritmo industrial. Cf. FELIPE [2018].

40 ZHANG; DU [2020].

41 LA STAMPA, 26/4/20; PASCOE [2020]; THE NEW YORK TIMES, 26/4/20; AITKEN [2020]; NEWMARK [2020].

42 BRIGGS [2020], 9/11/20.

43 LA STAMPA [2020], 26/4/20.

44 No artigo, “Predicting the angiotensin converting enzyme 2 (ACE) utilizing capability as the receptor of SARS-CoV-2: marks for ACE2 of selected animals, na Tabela 1, os autores listam animais de 27 espécies, em sua nominação latina, das 253 que a equipe investigou, confirmando 16 rebanhos com a ACE2 biodisponível para os receptores do SARS-Cov-2: cabra, ovelha, bois, búfalos, porcos, cavalos, morcegos ferradura, morcegos raposa-voadora, pangolins, mustela, cães, civetas, gatos, linces, humanos e pombos. Animas tidos como improváveis hospedeiros: ratos, ratos do mato, ratos do campo, ratos domésticos, tatu galinha brasileiro, víbora palaciana, colius, papagaio e cuco. Apenas um animal, definitivamente, foi confirmado como não tendo a ACE2 biodisponível para o vírus SARS-CoV-2: o camundongo doméstico. Este artigo científico foi publicado por seus oito autores na Science Direct, Short Communication, em 19/3/2020. QIU et alii [2020].

45 ZHANG; DU [2020], 19/6/20.

46 ZHANG; DU [2020], 19/6/20.

47 EHRHORN; HIGGINS [2021], 15/3/21.

48 BOYD [2020], 10/11/20. Nesta fonte encontramos um arquivo das fotos da produção de peles e das valas sanitárias nas quais os visons foram descartados na Dinamarca.

49 Cf. WISPOLITICS [2020].

50 Cf. WISPOLITICS [2020].

51 HUMANE SOCIETY INTERNATIONAL [s.d.].

52 Entre elas, tularemia conhecida como febre do coelho e da lebre, causada pela bactéria Francisella tularensis; LA-MRSA, a resistência a antibióticos que combatem a bactéria Staphylococcus aureus, a hepatite E, o Influenza e a Salmonella spp.. Cf. WISPOLITICS [2020].

53 PETA [2020].

54 REUTERS [2020], 14/12/20.

55 FLORILLO [2020], 7/11/20.

56 TIDEY; KENNEDY [2020], 20/5/20.

57 HUMANE SOCIETY INTERNATIONAL [s.d]. Neste trabalho, encontramos a descrição do flagelo infligido aos animais aprisionados, impedidos de todas as formas de expressão de sua natureza: nadar, cavar, vagar pelas matas e isolar-se dos demais. Nas jaulas eles se automutilam, agridem os demais, enlouquecem. Seu sistema imunológico não se recompõe e isso os torna suscetíveis às infecções virais e bacterianas.

58 EHRHORN; HIGGINS [2021], 15/3/21.

59 KEVANV; CARSTENSEN [2020], 5/11/2020.

60 MIGLEETON [2020], 14/11/20.

61 BBC [2020], 17/7/20.

62 BBC [2020], 17/7/20.

63 Cf. WISPOLITICS [2020].

64 ZHANG;DU [2020], 19/6/20.

65 BRIGGS [2020], 9/11/20.

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