Município espanhol de Gijón inicia o caminho para proibir as touradas
Gijón está cada vez mais perto de se tornar um município livre das touradas. O processo para conseguir celebrar uma consulta pública sobre esses eventos que ocorrem na cidade em agosto já está em andamento. Quase uma centena de pessoas, a título individual ou em representação de diversos coletivos da cidade, participaram no último dia 31 de maio na assembleia que convocou o círculo animalista de Podemos para debater e submeter à votação a conveniência de convocar essa consulta. A opinião dos presentes foi contundente: 74 votos a favor, cinco contra e seis abstenções.
“Com esta convocatória queremos ver como os cidadãos respondem a esta proposta, se a consulta é viável e se conta com o apoio das associações animalistas e ecologistas”, explicou Rodrigo Fernández, do grupo de trabalho pelos animais do partido Podemos em Gijón. Os assistentes não somente estiveram a favor de iniciar o processo, mas também colocaram sobre a mesa diversas propostas para levar a cabo um processo que, segundo a simulação de uma pesquisa elaborada pelo Podemos, poderia culminar com a implementação da consulta em abril ou maio do ano que vem. Justamente quando a Prefeitura de Gijón deveria decidir se prorroga o contrato do atual promotor da feira taurina de Begoña, que em agosto de 2017 cumprirá os três anos da concessão com opção de ser ampliada por mais dois anos.
A vereadora do partido Xixón Sí Puede (XsP), Nuria Rodríguez, explicou que o órgão que permitiria fazer a consulta pública seria precisamente o plenário da Prefeitura de Gijón, onde chegaria através de uma iniciativa de seu grupo municipal “e conseguiria celebrá-la se houver suficiente pressão pública”, disse.
Tradições de maus-tratos
Para fazer isso, a abordagem inicial da assembleia, uma vez que se aprove, como foi o caso da conveniência de abrir o processo para consulta popular, era criar um grupo de trabalho diverso para levar à frente uma campanha informativa sobre a permissão da celebração das touradas em Gijón. Em setembro, conforme disse Rodríguez, o essencial dessa campanha deveria estar definido, “indo mais além do âmbito de Gijón e Asturias, aproveitando a conscientização pública sobre as tradições nas quais se maltratam animais na Espanha”.
Essa rota, que deverá ser em todo caso definida a partir de agora, leva em conta que as instituições dão passos largos e completos. Para isso, os presentes na assembleia coincidiram em considerar que este é “o momento adequado” para que sejam os cidadãos de Gijón que tomem a iniciativa para conseguir que o ano que vem seja o último no qual se celebrem as touradas na cidade.
Ela também lembrou que a XsP levou ao conselho completo de setembro de 2015 uma proposta para que nenhum espaço municipal possa ser utilizado para maltratar animais, que não seguiu em frente com a oposição de Foro, PP e Ciudadanos, e a abstenção do PSOE. “Naquele momento já se colocou sobre a mesa a possibilidade de fazer uma consulta pública sobre esse tema e a própria prefeita, em uma entrevista, se mostrava favorável”, lembra Rodríguez.
Convencer os indecisos
Na assembleia também se manifestou que, já que existe um importante movimento social antitaurino, “também há muita gente indecisa sobre ser contra os maus-tratos, mas que não gostam de proibições”. Neste sentido, foram várias as vozes que advogaram para que a campanha informativa explique muito bem o gasto municipal que gera a feira de Begoña e o dinheiro que se perde por ter como principal atração as touradas. Há que recordar que, devido a problemas estruturais do Coso Gijonés, um edifício catalogado, ele deixou de acolher grandes eventos. Por isso, alguns assistentes propuseram que a consulta deveria recolher também os usos alternativos que o imóvel possui “para convencer os indecisos”.
“Em Gijón, durante muitos anos não houve touradas e nunca entendi porque elas voltaram”, disse uma das assistentes da assembleia, onde também foi lembrado que Anadel, a associação animalista que desde 2006 organiza todos os meses de agosto uma manifestação antitaurina, realizou um estudo oficial sobre a opinião dos asturianos a respeito da tauromaquia em 2009, que revelou que 79% não estavam interessados nas touradas. “O PSOE foi quem trouxe as touradas de volta a esta cidade”, recorda Nuria Rodríguez, que explicou que na localidade madrilenha de Pinto está ocorrendo atualmente um processo similar.
Outros participantes na assembleia levantaram a conveniência de que a campanha informativa chegue também aos colégios – “as crianças se envolvem muito com o bem-estar animal” -, que a pergunta da consulta seja “contundente e eficaz” e que se deixe claro que, “ao contrário do que muita gente acredita as touradas não geram turismo nem dinheiro”. Também houve quem expôs os prós e contras deste “pulso democrático” contra as touradas na única cidade asturiana que ainda segue realizando-as. “Há mais antitaurinos que taurinos, e teremos a chave na capacidade de mobilização”, disse o deputado do Podemos na Junta Héctor Piernavieja, que lembrou que “não há nenhuma mudança nas instituições que não venha precedido pela mobilização social”.
Por Elena G. Bandera / Tradução de Alice Wehrle Gomide