‘Não é a realidade’, diz polícia sobre 32 casos de maus-tratos contra animais em 2019 no Amapá
Mesmo com o grande apelo nas redes sociais e o trabalho exercido por entidades de proteção, as denúncias formais de maus-tratos contra animais domésticos têm números mínimos e considerados “fora da quantidade real” pela Polícia Civil em Macapá. Em 2019, foram apenas 32 casos registrados na Delegacia de Meio Ambiente (Dema).
Registros de abandono, violência, morte, entre outras ações ilícitas contra os bichos acontecem em número maior, mas poucos casos são efetivamente registrados de forma devida às autoridades de segurança, aponta a delegada Lívia Pontes, titular da Dema.
“É um número bem pequeno, 32 casos às vezes é o que recebemos numa semana das ONGs. A gente depreende que as pessoas procuram as ONGs, fazem relatos nas redes sociais, mas efetivamente não procuram a delegacia, às vezes por medo ou por não quererem se dispor a vir aqui”, pontuou a delegada.
Na capital, as denúncias podem ser feitas presencialmente na sede da Dema, que fica no Centro Integrado de Operações em Segurança Pública (Ciosp) do bairro Pacoval ou através do WhatsApp (96) 98148-7378. Pelo telefone, o relato pode ser feito de forma anônima.
Lívia também pontua que algumas denúncias feitas pelo WhatsApp são com informações insuficientes sobre endereço, condições do animal e outras que inviabilizam as diligências da Dema.
“Esses casos do WhatsApp precisam ter o mínimo de elementos para que a gente possa identificar e localizar aquela vítima de maus-tratos, o possível infrator, se não ficamos até sem ter como agir. Aumentou as comunicações pelo telefone, mas registro seguem poucos”, completou.
Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos é passível de condenação a prisão de 3 meses a 1 ano e pagamento de multa.
Por serem considerados delitos de menor potencial ofensivo pelo Código Penal, o crime geralmente é revertido em serviços comunitários e penas alternativas – quando ocorrem.
“Os crimes mais comuns são contra cães, como agressões, mas também é crime deixar sem abrigo, exposto ao sol, deixar amarrado em correntes muito curtas, onde não consegue se movimentar, deixar de prestar assistência médica. Todas essas condutas podem ser enquadradas”, reiterou Lívia.
“Papa Charlie”
Medidas como essas, aconteceram no domingo (18) com um homem de 30 anos, que foi detido e liberado após audiência de custódia depois de ter sido apontado como autor de várias terçadadas contra um cão vira-lata.
O crime aconteceu durante uma discussão com outra pessoa no bairro Cidade Nova, na Zona Leste.
O homem correu para outra rua, para fugir da ameaça. O suspeito, então, teria voltado para a região onde mora e desferiu o golpe no animal que estava na rua.
Batizado de “Papa Charlie”, o cão foi resgatado por policiais civis que estavam de plantão durante a ocorrência. Com um corte na cabeça, o crânio quebrado e com risco de perder a visão, os agentes fizeram uma coleta para custear o tratamento veterinário.
Quatro dias após o procedimento médico, o animal voltou a se alimentar e segue o tomando remédios. Ele foi adotado temporariamente pelo agente Keith Lujer Araújo, que disse pensar em adotar “Papa Charlie” definitivamente.
“Ainda existem pessoas que se dizem ‘racionais’, mas com atos tão brutais como esse que rolou. Por outro lado, outros também têm empatia contra os animais, principalmente os indefesos. Queria agradecer que se disponibilizaram a ajudar, mesmo que sejam com mensagens de carinho. Eu e o cãozinho agradecemos”, declarou Araújo.
ONGs protetoras
Além da violência, a falta de cuidados com os animais leva a outro crime: o abandono. Vivendo nas ruas, cães e gatos se reproduzem de forma desordenada e pela vulnerabilidade, passam fome e são vítimas de violência, mutilações e abusos.
Na capital, muitas ONGs atuam com o resgate e cuidados desses bichinhos, que são tratados e colocados posteriormente para adoção. O trabalho voluntário, porém, não consegue atingir toda a totalidade e conta com doações para manter alimentação e cuidados.
Por John Pacheco, G1 AP — Macapá
Fonte: G1
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