Não é fofura: pose do tamanduá-mirim “brigão” é tentativa de defesa
A espécie de tamanduá-mirim, conhecido como “brigão”, arranca risadas quando está com braços abertos sob duas patas, como quem diz “estou pronto”. Apesar da postura, tida como engraçada e até fofa quando o animal é filhote, o gesto é um alerta sobre o medo e sobre respeitar o espaço do mamífero, que só assume essa forma quando está acuado.
Neste domingo a Polícia Militar Ambiental resgatou um filhote e encaminhou ao Cras (Centro de Reabilitação de Animais Silvestres) de Bonito, a 297 quilômetros da Capital. Ele estava justamente na posição de ‘briga’ conhecida como “abraço do tamanduá”.
Conforme a bióloga Mariana Catapani, especialista em coexistência entre pessoas e animais silvestres, a fama de brigão não condiz, pois a espécie tende a evitar conflitos e não possui comportamento agressivo. Ela também é pesquisadora do ICAS (Instituto de Conservação de Animais Silvestres).
“Esse comportamento é um mecanismo de defesa que aumenta suas chances de intimidar o agressor e escapar do perigo. Ele adota a postura de tripé, equilibrando-se sobre as patas traseiras e usando a cauda como suporte, quando se sente ameaçado” .
De acordo com a especialista, a posição permite que ele mantenha as patas dianteiras livres para se defender e deixe as garras expostas, única arma de ataque. Como o animal não possui dentes, a forma que ele se defende é através delas.
“Ele não é um animal agressivo, mas quando se sente ameaçado, adota esse comportamento. Normalmente ele prefere evitar confrontos”. A bióloga ressalta que ao se deparar com o animal, a pessoa não deve se aproximar, respeitando o espaço do mamífero e evitando movimentos bruscos. Assim ele terá a oportunidade de se afastar naturalmente.
“Ele não é agressivo por natureza e só age assim por medo, então é importante não provocá-lo ou pressioná-lo. Quando ele adota essa postura defensiva em tripé, com as garras à mostra, é importante respeitar o espaço dele para garantir a segurança de ambos. Não se aproximar ou tentar tocá-lo, pois ele pode se sentir ainda mais ameaçado e reagir com as garras afiadas”.
Brigão – Em julho, o Campo Grande News mostrou um tamanduá-mirim passeando com filhote nas costas na Rua Estevão Alves Correia, em Aquidauana, cidade que fica a 141 km da Capital. Ao perceber a aproximação de quem gravava as imagens, David Campozano, de 19 anos, o mamífero se levanta e abre os braços rapidamente.
O vídeo teve 14.498 mil visualizações e foi o mais visto da semana naquele mês. Um dos motivos da fama foi justamente a postura de briga.
Extinção – Embora o tamanduá-mirim não seja atualmente classificado como ameaçado de extinção pela UICN (União Internacional para a Conservação da Natureza), e pela Lista Brasileira de Espécies Ameaçadas, a espécie enfrenta diversas ameaças que merecem atenção.
Mariana acrescenta que em certas regiões do país, o tamanduá-mirim é caçado por sua carne, atacado por cães domésticos, e até mesmo capturado para ser vendido como animal de estimação.
“Além disso, a perda, degradação e fragmentação de seu habitat, as queimadas e, principalmente, os atropelamentos em estradas representam sérias ameaças em várias áreas de sua distribuição natural”.
Por Natália Olliver
Fonte: Campo Grande News