O debate sobre os ‘correbous’ também atinge as festas de Cardona, Espanha

O debate sobre os ‘correbous’ também atinge as festas de Cardona, Espanha
O debate sobre os “correbous” também atinge as festas de Cardona, Espanha

A maior festa de Cardona, na Espanha, começou no dia 7 de setembro com três feridos no primeiro “correbous” dos seis que seriam celebrados até o fim de semana seguinte. No município de Bages, um dos municípios que estão autorizados na Catalunha para celebrar confinamentos, foram usados vinte animais, entre touros e novilhos, alugados de diferentes fazendas. Uma semana depois do acidentado “correbous” de Vidreres, onde mais de vinte pessoas ficaram feridas e um touro foi abatido a tiros pela polícia, todos os olhos estavam voltados para uma festa que os ativistas criticam por ser anacrônica e que algumas prefeituras, como Santpedor e Vidreres, não descartam de eliminar nos futuros programas de festas.

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“É triste que tenha que acontecer algo como em Vidreres para que o assunto venha à tona e se contemple a proibição desta tradição que já se demonstrou ser perigosa, porque não é a primeira vez que acontece algo parecido”, explica uma das porta-vozes da Coordenadoria para a Proibição do Correbous, Helena Escoda, em referência ao acidente de trânsito que ocorreu há dez anos justamente na mesma localidade quando uma dezena de novilhos escaparam da praça. Os caçadores recuperaram todos, exceto um que provocou um acidente na rodovia.

Escoda e outros membros da coordenadoria se deslocaram ao município de Selva para recolher provas em caso de descumprimento do regulamento dos “correbous”, que proíbe, entre outras coisas, que haja menores de 14 anos na praça e o consumo de álcool entre os participantes. Em Vidreres registraram ambas as violações. “Comprovamos que a praça de touros que montaram em Vidreres era uma das mais seguras, ainda mais se a compararmos com as que foram montadas em Terres de l’Ebre, que costumam ser precárias”, acrescenta a ativista.

Protesto em frente ao Parlamento

Várias entidades ativistas se reuniram na frente do Parlamento para pedir a todas as forças políticas que decidam pela proibição do “correbous”. “Pedimos coragem política para iniciar um debate firme e sério”, sinalizou a diretora da Anima Naturalis, Aïda Gascón, acompanhada por representantes de outras entidades de defesa dos direitos dos animais como ADDA, Libera, Fundação Fauna e Anima Lex, entre outras. “Estamos há muito tempo trabalhando neste tópico e tentando somar forças”, garantiu Gascón ao jornal El Periódico.

A Anima Naturalis está realizando uma campanha para coletar assinaturas, já são mais de 64.000, e uma rede colaborativa (fiestacrueles.org) para denunciar os maus-tratos que sofrem os touros em muitas festas. “Estamos realizando a maior e mais profunda investigação de mais de 18.000 festas cruéis com animais que ano após ano são realizadas na Espanha, e que infelizmente vêm aumentado”, detalha a rede. “Agora voltamos a falar dos “correbous” e não queremos que volte a ser ocultado por outros assuntos como os atentados em Rambla”, detalha a ativista da Anima Naturalis.

Consulta popular em Santpedor

Um dia depois do polêmico ocorrido, a equipe do governo da prefeitura de Vidreres realizou uma reunião de urgência com a entidade que organiza o “correbous” há três décadas e anunciou que nos próximos dias informaria “o futuro deste evento” no município, deixando assim a porta aberta para que seja proibido. O conselho de Santpedor, por sua parte, decidiu que fará uma consulta popular sobre o futuro dos novilhos durante a festa e espera ter pronto o processo participativo antes de acabar o ano. Em Cardona, entretanto, não querem nem ouvir falar na proibição da sua “corrida de touros”, que se celebra desde o ano 1674 e coincide com a festividade da Virgem do Patrocínio.

Os confinamentos que se organizam na localidade se desenvolvem “escrupulosamente”, de acordo com o que dita a lei, conforme o prefeito de Cardona, Ferran Estruch, em declaração ao jornal “Regio 7”. De fato, fontes municipais explicam que a participação destes animais cumpre com as exigências da normativa legal. Por exemplo, se a lei limita a atividade dos touros na praça em 15 minutos, em Cardona eles ficam somente por 10 minutos antes de voltarem ao curral. A festa conta com a presença constante de um veterinário que supervisiona o estado dos touros e dos novilhos e pode decidir que saiam antes da praça, se considerar que o animal está cansado ou se apresenta algum problema.

Alguns defensores dos “correbous” se protegem com o cumprimento da lei 34/2010, que regulamenta as festas tradicionais com touros. Esta norma estabelece “os requisitos e as condições” com o objetivo de garantir “os direitos, os interesses e a segurança dos participantes e do público e, ao mesmo tempo, a proteção dos animais”. A mesma lei que proibiu as corridas de touros ampara outras festas com touros como os “correbous”, onde o animal não morre, mas pode ser amarrado pelos chifres, embolado e, de acordo com ativistas, submetido a um grande estresse. Conforme o preâmbulo da lei catalã, estes espetáculos marcam “todo o ritmo festivo de um evento extraordinário, próprio das raízes mais profundas da Catalunha” e geram postos de trabalho.

A tauromaquia catalã recebeu um duro golpe, reconhecem os animalistas, mas consideram que a tortura continua ao excluir a proibição em terras catalãs de festas com touros sem a morte do animal (artigo 6.2 do Decreto 2/2008). “Temos visto esta barbaridade desde sempre e, por isso, os “correbous” parecem pouca coisa, mas não são”, acrescenta Escoda.

“Raízes catalãs”

A respeito das raízes catalãs dos “correbous”, a coordenadora a favor da proibição desta festa tem sérias dúvidas. “Não acredito que seja uma tradição tão catalã assim. Mais de 90% dos catalães poderiam estar a favor de os eliminar, de acordo com algumas pesquisas realizadas nestes dias em meios catalães”, garante Escoda.

Na mesma linha, o partido animalista PACMA considera que é “o momento de insistir”. De acordo com um de seus porta-vozes, David Martínez, “os “correbous” se concentram em zonas muito determinadas e a grande maioria dos catalães rejeita esta tradição”. Em um comunicado, este partido exigiu que a Prefeitura de Vidreres suspenda qualquer festa taurina ao considerar que os “correbous” são “práticas perigosas, tanto para as pessoas como para os animais”. Se este tipo de festa estivesse proibido, acrescentam, teriam evitado os feridos e “a morte a tiros” do animal.

Os animalistas falam sobre a necessidade de adaptar estas festas aos tempos modernos. Em alguns municípios catalães, como Canovelles e Mataró, são utilizados touros de papelão, e em outros os animais são substituídos por uma enorme bola inflável. Trata-se de manter as tradições, dizem, mas excluindo os maus-tratos aos animais.

Por Luis Benavides / Tradução de Alice Wehrle Gomide

Fonte: El Periódico 

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