O mundo reagiu ao apelo por este elefante em cativeiro. Agora, ele tem uma vida nova

O mundo reagiu ao apelo por este elefante em cativeiro. Agora, ele tem uma vida nova
Gluay Hom, um jovem macho, em sua baia no Samutprakarn Crocodile Farm and Zoo pela última vez na terça-feira, 6 de agosto. Ele se alimenta de algumas frutas antes de ser levado para o seu novo lar no Elephant Nature Park, em Chiang Mai. - Foto de Save Elephant Foundation

O jovem elefante Gluay Hom, que já sofreu muito na Tailândia, começou uma nova vida há alguns dias.

Quando o vi pela primeira vez em junho de 2018, ele morava há anos na parte de baixo de um estádio onde eram realizadas as apresentações no Samutprakarn Crocodile Farm and Zoo, nos arredores de Bangkok. Suas patas estavam firmemente presas a correntes, sua perna estava inchada e curvada e ele tinha uma ferida na lateral da cabeça.

A National Geographic documentou a sua situação em uma matéria de junho de 2019 sobre o turismo de vida selvagem, gerando uma onda de protestos entre os leitores. Mais de 70 mil pessoas assinaram uma petição da Change.org apelando por ajuda para o elefante. Mas a perspectiva de resgate era complicada — de acordo com a lei tailandesa, o animal é um bem privado, e seu dono, Uthen Youngprapakorn, teria que concordar em vendê-lo ou renunciá-lo.

Mas após um período de negociação, sua compra foi garantida por Lek Chailert, fundadora da Save Elephant Foundation, uma organização sem fins lucrativos de reabilitação e resgate localizada em Chiang Mai. A entrega ocorreu há alguns dias, após uma viagem de caminhão de 14 horas, Gluay Hom está agora se acostumando ao seu novo ambiente no Elephant Nature Park, o local da fundação destinado aos elefantes, onde ele descobriu montes de terra e grama após ter passado anos sobre um piso de concreto.

Gluay Hom no caminhão de transporte durante sua viagem de 14 horas. O caminhão foi equipado com vigas de madeira, enchimento de espuma e muita comida de elefante. Foto de Save Elephant Foundation

“Quando ele viu o banho de lama — e normalmente todos os elefantes amam o banho de lama — ele olhou para todos como se estivesse perguntando: posso ir agora?” Chailert diz. “Ele ainda estava traumatizado. Ele anda devagar. Precisa de muito tratamento. Seus olhos ainda demonstram tristeza”.

Como tudo aconteceu

“Depois que Gluay Hom foi exposto na matéria de vocês”, diz Chailert, “as pessoas entraram em contato comigo. Então eu perguntei [ao dono] quanto ele queria pelo elefante”.

Youngprapakorn inicialmente pediu um preço muito alto, diz ela, mas Chailert se recusou a pagar qualquer valor que fosse próximo ao valor de mercado — cerca de US$ 80 mil — porque não queria que ele comprasse um novo elefante com o dinheiro. Chailert se recusou a divulgar o preço final de compra, mas diz que foi significativamente abaixo do valor de mercado.

Antes da publicação, Youngprapakorn não havia respondido ao pedido de comentários da National Geographic.

Embora alguns grupos de resgate se recusem a comprar animais — optando por alugá-los para evitar dar grandes somas de dinheiro aos proprietários — os grupos liderados por Chailert dizem que a compra transparente de animais garante que os proprietários não consigam simplesmente pegá-los de volta posteriormente. E, eles observam, ao pagar abaixo do valor de mercado por um animal, o proprietário tem mais dificuldade de voltar ao ramo e comprar um substituto.

O marido de Chailert, Darrick Thomson, estava presente no momento da entrega. O Elephant Nature Park disponibilizou um caminhão para transportar Gluay Hom com grades laterais de madeira forradas com material acolchoado antiderrapante, uma cobertura para servir como abrigo do sol, comedouro e um barril com água. Ele foi um passageiro paciente, Thomson diz, e usou uma jaqueta durante uma tempestade.

Chailert acredita que as conversas diplomáticas com Youngprapakorn foram fundamentais para o sucesso da transação. Durante um resgate, conta ela, é muito importante desenvolver um bom relacionamento com os proprietários originais, mantendo as linhas de comunicação abertas. “Porque há vidas lá”, diz ela, referindo-se aos animais que ficaram para trás.

Gluay Hom, livre das correntes, joga lama em suas costas em um campo no Elephant Nature Park, em 8 de agosto.

Recuperação

Gluay Hom e a equipe de transporte chegaram em segurança ao Elephant Nature Park às 4h30 da manhã de quarta-feira. Chailert conta que ele está explorando a terra e as folhas com cautela, caminhando sem correntes em um ponto isolado da propriedade. Ela diz que a equipe irá deixá-lo relaxar por alguns dias e se adaptar ao novo ambiente. Posteriormente, eles irão avaliar a sua saúde, começando com uma radiografia da perna.

Edwin Wiek, fundador da organização sem fins lucrativos Wildlife Friends Foundation Thailand, trabalhou com as autoridades tailandesas para realizar verificações de bem-estar em Gluay Hom no ano passado. As lesões de Gluay Hom melhoraram um pouco após tratamento médico, mas sua condição de vida permaneceu praticamente inalterada. Wiek diz que está emocionado em saber que Gluay Hom “ganhou outra chance na vida”.

Ele acredita que o principal desafio para o elefante seja a atrofia muscular causada por sua condição anterior. “Ele não possui tecido muscular, pois ficava acorrentado. Assim que ele puder se movimentar, [sua força] deve aumentar rapidamente”.

A transação revelou novos detalhes sobre o histórico de Gluay Hom. Embora funcionários da instalação tenham informado à National Geographic que ele tem cerca de cinco anos, sua documentação revela que, apesar de sua pequena estatura, ele na verdade tem 10 anos, diz Chailert, e nasceu em Samutprakarn em 2009. Sua mãe, Moon Mi, foi trazida de Pattaya já prenhe. Foi lá que ela deu à luz Gluay Hom. Moon Mi ainda está em Samutprakarn.

O objetivo do Elephant Nature Park é finalmente apresentar Gluay Hom a outros elefantes.

Wiek diz que será importante apresentá-lo a outros machos, em vez de fêmeas, para sua própria segurança e a segurança de outros elefantes. Na idade adulta, os elefantes machos periodicamente passam por um ciclo hormonal chamado musth, durante o qual os níveis de testosterona se elevam consideravelmente e eles se tornam agressivos com os humanos. O musth normalmente ocorre quando os machos têm entre 20 e 40 anos de idade. Gluay Hom possui presas grandes e, segundo Wiek, elas poderiam torná-lo ainda mais perigoso do que um macho sem presas.

Por esse motivo, as atrações turísticas geralmente utilizam as fêmeas, e os machos são frequentemente negligenciados, mantidos isolados com as pernas presas e, às vezes, chegam a passar fome.

“Espero que Gluay Hom possa ser um embaixador dos elefantes machos na Tailândia”, diz Wiek, observando que até mesmo em santuários como o seu, cuidar de machos é muito difícil — ninguém conseguiu uma solução perfeita ainda. “Eu tenho um macho e ele destrói tudo. Ele não sabe a força que tem”, diz Wiek.

É evidente que os machos se saem melhor em recintos espaçosos, onde têm espaço para passear, seja sozinho ou com outros machos, possivelmente um elefante mais velho que possa orientá-los e guiá-los. O ideal seria que não tivessem contato com as pessoas, diz Wiek.

O Elephant Nature Park pretende atingir esse objetivo. “Nós queremos que ele fique com os outros elefantes. Não queremos que ele tenha muito contato com as pessoas”, diz Chailert, que espera que a sua organização possa finalmente dar a Gluay Hom um lar adequado. “Nós queremos fazê-lo feliz novamente. Queremos que ele volte a ser um elefante.

Fonte: National Geographic

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