O proprietário do zoo de Tiger King está agora proibido de exibir animais – para sempre

O proprietário do zoo de Tiger King está agora proibido de exibir animais – para sempre
Jeff e Lauren Lowe fotografados com a “ligre” Faith – a cria híbrida de um leão macho e um tigre fêmea – na sua casa em Wynnewood, Oklahoma, em 2016. O Departamento de Justiça dos EUA alegou que a família Lowe violou a lei federal ao colocar a saúde dos seus animais em “perigo grave”. Este ano, o Departamento de Justiça confiscou os 146 animais exóticos de Jeff e Lauren Lowe e proibiu o casal de exibir animais para o resto da vida. Fotografia de Ruaridh Connellan/BarcroftImages / Barcroft Media via Getty Images

Mirage e Caesar, nascidos em dezembro de 2020, foram os últimos tigres de uma longa linhagem de animais que começaram as suas vidas no zoo Greater Wynnewood (GW) – e entre os primeiros a escapar do ciclo de reprodução e alegados maus-tratos neste zoo em Oklahoma. O zoo está encerrado aos visitantes desde outubro de 2020 e, esta semana, uma decisão do tribunal proibiu permanentemente a exibição de animais por parte dos seus proprietários, Jeff e Lauren Lowe, quer seja ao vivo ou em plataformas online.

O Departamento de Justiça dos Estados Unidos confiscou as duas crias ao zoológico – que anteriormente pertencia a Joseph Maldonado-Passage, ou “Joe Exotic”, estrela da popular série documental Tiger King da Netflix – em janeiro de 2021, quando os animais tinham cerca de sete semanas de idade, juntamente com outras oito crias e quatro mães. Mirage e Caesar vivem agora juntos num espaço com mais de 5.000 metros quadrados de floresta no Santuário de Animeis Selvagens em Keenesburg, no Colorado. Em breve, estes tigres vão juntar-se a outras crias resgatadas num habitat de 9 hectares do santuário para o resto das suas vidas.

Em janeiro de 2020, Joe Exotic foi condenado a 22 anos de prisão por tentativa de homicídio e crimes relacionados com vida selvagem. O seu ex-sócio, Jeff Lowe, assumiu o controlo do zoo em 2016. Mas Jeff e Lauren Lowe também estavam envolvidos nos seus próprios problemas jurídicos. No mês passado, o Departamento de Justiça processou o casal Lowe num caso civil, alegando a violação repetida da Lei de Bem-Estar Animal e da Lei de Espécies Ameaçadas – por terem deixado de fornecer os cuidados veterinários, a nutrição, os recintos e condições sanitárias adequadas aos seus animais, colocando a saúde dos animais em “perigo grave”.

Entre as alegadas transgressões citadas estava uma cria de leão chamada Nala que foi encontrada inerte na lama pelos inspetores em junho de 2020. As autoridades também documentaram dois lobos com artrite enjaulados num chão de betão, um urso-pardo cujos ossos se projetavam na pele, um gato-pescador com uma perna coxa e os corpos de dois tigres enterrados debaixo de lixo queimado. Os cadáveres atraíam moscas que mordiam e feriam as orelhas dos tigres, ursos e lobos nas proximidades.

Em junho de 2020, um juiz federal ordenou ao casal Lowe que entregasse a sua propriedade a Carole Baskin, proprietária do santuário Big Cat Rescue, para resolver uma disputa legal de longa data.

Quando a licença de exibição de animais do casal Lowe foi suspensa em outubro de 2020, Jeff Lowe abdicou da licença permanentemente. Mas continuou a vender os seus vídeos “gritantes” com os seus animais na plataforma online Cameo. Naquele momento, ainda não existiam leis relativamente à exibição de animais online.

Entre janeiro e agosto deste ano, o departamento de justiça norte-americano confiscou os 146 animais à família Lowe – a maior apreensão de animais de zoológico feita até agora por este departamento. Os animais foram acolhidos por vários santuários.

Decisão judicial

Na quinta-feira, cinco semanas depois de estrear Tiger King 2, a segunda temporada da famosa série documental, um juiz federal do Distrito Leste de Oklahoma aprovou um acordo que proíbe o casal Lowe de exibir animais.

“O caso contra os Lowe marca a ação civil mais agressiva contra um expositor de animais na história da Lei de Bem-Estar Animal”, disse à National Geographic no início deste ano Carney Anne Nasser, advogada de direito animal.

“É extremamente invulgar o Departamento de Justiça abrir um caso como este”, diz Delcianna Winders, diretora do programa de direito animal da Escola de Direito de Vermont. Delcianna Winders diz que o departamento de justiça pode ter novas prioridades após a recente criação do seu Programa de Litígio de Bem-Estar Animal na secção de crimes ambientais, que se dedica ao cumprimento das leis federais relacionadas com o “tratamento humano dos animais de criação, cativeiro e companhia nos Estados Unidos”.

Delcianna Winders espera que isto seja um sinal de que o departamento de justiça “vai entrar em ação quando as pessoas violarem a lei da mesma forma que os Lowe o fizeram” e que “isso vai acontecer mais depressa do que se esperava depois de anos de sofrimento”.

O Departamento de Justiça dos EUA não respondeu aos pedidos para comentar.

Jeff Lowe considera o acordo uma vitória. “O departamento de justiça não teve outra opção a não ser retirar todas as acusações que tinha contra nós. Isto é o que acontece quando as evidências não sustentam as alegações”, diz Jeff Lowe, acrescentando que “o departamento de justiça foi alimentado com uma série de mentiras obscenas para justificar o roubo dos meus animais”.

Um homem segura num biberão para uma cria no zoo GW em setembro de 2018. O contacto com os animais, que era uma atividade muito popular neste zoo, dependia de um abastecimento constante de crias jovens o suficiente para serem manuseadas com segurança. Para terem crias disponíveis para os visitantes, os zoos ambulantes geralmente criam híbridos de tigres e leões, separando mais cedo as crias das suas mães para as fêmeas entrarem novamente no cio mais depressa. Fotografia de STEVE WINTER, Nat Geo Image Collection
Um homem segura num biberão para uma cria no zoo GW em setembro de 2018. O contacto com os animais, que era uma atividade muito popular neste zoo, dependia de um abastecimento constante de crias jovens o suficiente para serem manuseadas com segurança. Para terem crias disponíveis para os visitantes, os zoos ambulantes geralmente criam híbridos de tigres e leões, separando mais cedo as crias das suas mães para as fêmeas entrarem novamente no cio mais depressa. Fotografia de STEVE WINTER, Nat Geo Image Collection

No acordo decretado pelo tribunal, todas as acusações civis vão ser retiradas. Mas o acordo reitera as alegações feitas pelo departamento de justiça contra o casal Lowe e o departamento pode enveredar por uma acusação criminal.

Estabelecer um precedente

O acordo também esclarece pela primeira vez que a Lei de Bem-Estar Animal – aplicada pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos e a única lei federal do país que protege o bem-estar dos animais selvagens exibidos em zoológicos, aquários e circos – também se aplica aos animais exibidos online para fins lucrativos.

No caso apresentado pelo departamento de justiça é citada a venda de vídeos por parte do casal Lowe na plataforma online Cameo, uma informação avançada pela primeira vez pela National Geographic. O acordo não se limita a proibir a família Lowe de exibir animais num ambiente de zoológico, também define expressamente a proibição de exposição de animais “através de qualquer outra plataforma, incluindo online, para fins lucrativos”.

“Isto é significativo”, diz Delcianna Winders. “Se qualquer outra pessoa tentar expor animais online sem licença, o Departamento de Agricultura dos EUA ou o Departamento de Justiça podem aplicar rapidamente a lei e dizer que existe um precedente. É inequívoco. Não há falhas.”

Um novo começo para 146 animais

Ao todo, o Departamento de Justiça confiscou ao casal Lowe 69 grandes felinos, 11 lémures de cauda anelada e mais 52 animais, incluindo primatas, ursos, lobos e guaxinins. Os animais foram enviados para vários santuários, incluindo o santuário Lions, Tigers and Bears, na Califórnia, e o Refúgio de Vida Selvagem de Turpentine Creek, em Arkansas.

O Santuário de Animais Selvagens, no Colorado, não acolheu apenas Mirage e Caesar, também recebeu outros 79 grandes felinos e vários animais. Pat Craig, fundador do santuário, visitou a propriedade dos Lowe várias vezes durante o ano passado para ajudar a resgatar os animais.

“Estes animais foram sempre mal alimentados desde que nasceram e viviam no meio de coisas em putrefação”, diz Pat Craig. “Algumas jaulas foram construídas exatamente sobre a terra, pelo que os animais tinham muita areia nas patas. Há muitas pernas lesionadas e doenças nos ossos devido à falta cálcio.”

“Entre os animais que sobreviveram, quase todos estavam afetados devido à desnutrição. As mães tinham uma condição neurológica que se manifesta através da falta de controlo muscular. Vários tigres-brancos tinham olhos cruzados devido à consanguinidade. No entanto, quando chegaram ao santuário, a maioria começou a correr e a saltar, começaram a explorar e a divertirem-se. Aposto que é a primeira vez que estes animais correm na vida – aquelas jaulas em que estavam eram minúsculas.”

“O Caesar e o Mirage estão a prosperar”, acrescenta Pat Craig. “Estou certo de que teriam uma doença óssea metabólica se não os tivéssemos resgatado. E é muito bom saber que escaparam de todo aquele contacto forçado.”

Jeff e Lauren Lowe continuam a partilhar fotografias e vídeos dos seus antigos animais no Instagram, onde têm 90.000 seguidores, sem reconhecer que os animais foram confiscados. Enquanto isso, Carole Baskin, a atual proprietária do zoo Greater Wynnewood, acaba de anunciar que vai participar no seu próprio reality show, onde alegadamente irá documentar os seus esforços para revelar os abusos sofridos pelos animais nestes tipos de zoológicos.

Por Natasha Daly

Fonte: National Geografic

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