ONG deixa sede após vizinhos moverem ação por causa do barulho de cães em Ribeirão Preto, SP

Uma associação que cuida de cães abandonados em Ribeirão Preto (SP) terá que deixar a atual sede no bairro Recreio Internacional, zona Leste da cidade. O motivo é uma ação movida por moradores vizinhos, que pediram a saída devido ao incômodo causado pelo barulho dos animais.
Para evitar uma possível ordem de despejo, a Associação Amigos dos Animais firmou acordo com os autores da ação para deixar o terreno até abril deste ano. O problema é que o novo local que vai abrigar os cães não está pronto e a ONG precisa de cerca de R$ 500 mil para concluir a obra.
“É muito triste ver que estamos fazendo um trabalho para a sociedade e tentarem tirar a gente daqui”, diz o aposentado Virgílio Martins, fundador da ONG e voluntário responsável por acompanhar os cachorros no abrigo.
A associação atua na cidade há dez anos. Ao longo do período, resgatou pelo menos dois mil animais das ruas.

Para ajudar a ONG a manter os serviços, em fevereiro de 2022, a Prefeitura de Ribeirão Preto cedeu, por meio da lei complementar nº 3.117 aprovada na Câmara dos Vereadores, um terreno na Zona Norte para abrigar a nova sede do grupo.
A associação poderá usar o terreno pelos próximos 30 anos, mas precisa concluir a construção da nova sede até 2024 para garantir o espaço.
Mas o prazo real para a saída do atual endereço é ainda mais próximo: em novembro de 2022, representantes da ONG e dos moradores do Recreio Internacional entraram em acordo no qual a associação se comprometeu a deixar o local até abril deste ano.
Segundo Martins e o advogado da ONG, David Cardoso, a associação preferiu o acordo por temer que a decisão do juiz desse menos tempo para o grupo desocupar o local.
“Caso acontecesse alguma coisa no sentido de o juiz determinar a retirada da associação daquele local em um prazo de 30, 40 dias, obviamente a associação estaria em apuros”, diz Cardoso.

Nova sede custa caro
No entanto, as obras de construção da nova sede ainda estão longe do fim: já foram gastos R$ 200 mil e ainda faltam cerca de R$ 500 mil para finalizar o trabalho. Mesmo assim, o advogado explica que Martins começou a levar os cachorros para o novo espaço neste mês para evitar mais problemas.
“Com uma certa precariedade, mas com os muros já levantados, a associação vai pra lá e aí, durante o ano, a gente vai buscar recurso pra poder funcionar com mais dignidade, não só para os protetores, mas principalmente para os animais”, afirma o advogado.
No novo espaço, será possível abrigar cerca de 200 animais em 53 canis de 20 metros quadrados cada – do total, 17 foram finalizados. Cada canil custa R$ 7,4 mil para ser construído.
O local deve contar também com galpão com um quarto, banheiro, cozinha, consultório, e depósito para ração, medicamentos, cobertores e outros itens, além de muros para garantir a segurança dos animais.

Martins explica que, no momento, as obras foram paralisadas por falta de recursos. “A obra é muito cara, e ainda falta muito para terminar”, lamenta. Ainda falta construir os telhados dos canis, o cimentado, fazer as grades e os portões, instalar o encanamento e construir o muro e o galpão.
Despesas
Segundo o voluntário, as despesas mensais giram de R$ 20 mil a R$ 25 mil. Os cachorros consomem, em média, 30 quilos de ração por dia, o que equivale a quase uma tonelada por mês. Como a associação também se dedica a cuidar de animais que chegam debilitados ou feridos, o gasto pode ser ainda maior.
Recentemente, a ONG resgatou uma cachorra em situação de maus-tratos que recebeu o nome de Catarina. Entre vários problemas, ela tinha um ferimento no olho que estava cheio de bichos.
Os procedimentos veterinários para ajudar Catarina custaram, aproximadamente, R$ 7 mil. “Às vezes, um único cachorro consome o que seria equivalente para manter vários outros animais”, diz Martins.
E os voluntários ainda precisam lidar com situações adversas. Apesar dos esforços, Catarina não resistiu à gravidade dos ferimentos. Mas Martins garante que nada foi em vão.
“Não nos arrependemos, de jeito nenhum, porque pelo menos nesse fim de vida, ela teve dignidade, foi amada e amparada”, afirma.

Como ajudar
A Associação Amigos dos Animais conta com o apoio de 42 voluntários, incluindo Martins, e um funcionário que trabalha de segunda-feira a sábado em horário comercial. O dinheiro para custear a operação vem de doações e de ações como bazares e feiras.
Segundo Martins, quem quiser, pode contribuir com a doação de materiais de construção como areia, cimento e blocos padronizados. No entanto, o que a organização mais precisa neste momento é de dinheiro para retomar a obra do novo abrigo.
“A gente não pode parar lá. Precisamos muito desses recursos, o mais urgente o possível”, afirma.
Quem tiver interesse em ajudar, pode acessar as redes sociais da ONG para obter mais informações.
Por Bárbara Marques
Fonte: g1