ONG Galgos del Sur denuncia maus-tratos a uma ‘rehala’ de cães na Espanha
Falta de água e comida, condições de higiene deploráveis, maus-tratos. Os cães de caça de muitas ‘rehalas’ (rehala é um grupo de cães utilizados para caça) vivem em condições que a Associación Protectora de Animales Galgos del Sur define como “uma vida de maus-tratos”, e que se propôs a denunciar publicamente em uma série de vídeos. O primeiro refere-se a uma rehala de Los Barrios, que denunciou tanto ao Ministério do Desenvolvimento Sustentável como à Câmara Municipal do município e ao Seprona da Guarda Civil.
A denúncia pública é feita em conjunto com o jornal Diario Animalista e a organização Damac Juristas. No caso de Los Barrios, essas entidades divulgaram um vídeo que “mostra a terrível situação em que vivem esses cães, que estão feridos e vivem acorrentados entre as fezes e a urina”. Há também uma cachorra que acabou de dar à luz cerca de uma dezena de filhotes, deitada em um espaço “sem as mínimas condições de higiene e ao lado de um balde com pedaços de pizza como alimento”.
Além disso, asseguram as organizações de defesa dos animais, “estes cães são agredidos pelo dono, um rehalero cujo vizinho filmou em diversas ocasiões a espancá-los de forma selvagem. Os ganidos e os latidos dos cães são de partir o coração e mostram que se trata de maus-tratos aos animais que não estão sendo suficientemente punidos e perseguidos, pelos quais os caçadores se sentem impunes”.
A Associação critica não ter recebido qualquer resposta às suas denúncias (a do Seprona foi apresentada recentemente, as outras há dois meses). A este respeito, a Câmara Municipal de Los Barrios explica que recebeu um pedido de informação sobre as rehalas e uma denúncia por falta de licenças municipais, que tramitou junto à Polícia Local. Sobre a possível situação de maus-tratos de animais, destaca que é responsabilidade da Secretaria de Desenvolvimento Sustentável, pois tratam-se de rehalas e não de animais domésticos.
Crueldade nas rehalas
Galgos del Sur denuncia em um comunicado que milhares de cães das rehalas em toda a Espanha são usados como meros instrumentos de caça. “Cães que vivem isolados da sociedade, trancados em covis e canis insalubres, acorrentados 24 horas por dia, exceto nos fins de semana dos dias de caça durante a temporada. São cães sem convívio, com medo de gente, muitas vezes tratados com paus e que raramente recebem atendimento veterinária”, explica.
Quando não são mais úteis para os caçadores, esses cães das rehalas “tornam-se desperdícios, trocados como figurinhas ou vendidos em páginas de anúncios e em grupos privados de caçadores no Facebook”.
Em muitos casos, quando não são mais úteis ou não sabem o que fazer com eles, “os matam ou os deixam morrer presos a uma corrente. Depois os descartam em caixões que são usados como fornos crematórios ou os colocam em sacos, deixando-os nos olivais longe dos centros urbanos até que se decomponham”. Além disso, grande parte deles acaba abatida pelos serviços de coleta de animais, “financiados pelos conselhos a serviço dos caçadores”.
Tudo isso “sob a proteção do Governo da Espanha e dos Governos Autônomos, que inclusive lhes dão o apoio institucional necessário, como no caso da Junta de Andaluzia, que declarou a Montería (caça de javalis e animais maiores) e a rehala como Bens de Interesse Cultural, ou o Governo de Extremadura, que está em vias de o fazer”.
Tradição
A presidente da ONG Galgos del Sur, Patricia Almansa, confessa estar “indignada” pelo fato de a Junta de Andaluzia proteger e blindar esta crueldade, fazendo-a passar por cultura e tradição.
“As rehalas e monterías são maus-tratos aos animais. E com a declaração de Bem de Interesse Cultural da Andaluzia, o que a Junta de Andaluzia tem feito, com seu presidente Juanma Moreno Bonilla (PP) à frente, é institucionalizar os maus-tratos aos animais, da mesma forma que acontece com as touradas”, diz ela.
Por sua vez, o cofundador da Galgos del Sur, Javier Luna, considera “inadmissível” que a Câmara Municipal de Los Barrios, “face a uma denúncia sobre os maus-tratos e as condições insalubres em que vivem mal cerca de 50 cães”, deu como única resposta a “inação”.
O Intergrupo de Bienestar y Conservación de los Animales (WCA) do Parlamento Europeu dirigiu-se formalmente ao Governo da Espanha e às suas 17 comunidades autônomas para expressar sua “preocupação” com o tratamento dado aos cães usados para a caça.
Entre outros aspectos, denunciou que o tratamento dado aos galgos e outros cães de caça colide com os valores europeus e, especificamente, com a condição de ser “senciente”, reconhecida no artigo 13.º do Tratado de Lisboa.
Fonte: Europa Sur