Orientações sobre como a população deve proceder em caso de farra do boi
O feriado de Natal foi tenso para os moradores do Norte da Ilha de Florianópolis. Foram mapeadas 4 farras pelo grupo Brasil Contra a Farra do Boi. As denúncias não pararam de chegar desde a semana passada, intensificando-se na véspera do Natal até a madrugada deste terça-feira (26).
A mobilização tomou conta das redes sociais desde o início de domingo (24), quando a equipe redirecionou as informações de denúncias anônimas para o Whatsapp dos agentes da PM e publicou postagens que indicavam a localização exata onde ocorria a farra, para que as pessoas pudessem acionar a Polícia Militar através do 190.
Segundo a advogada do grupo e Presidente da Comissão de Defesa dos Animais da OAB de São José (SC), Barbara Hartmann Cardoso, o maior problema da farra é a quantidade de pessoas que ainda participa deste tipo de tradição criminosa. “É muito difícil para a polícia identificar todos os participantes e enquadrá-los em crimes de maus-tratos, o que acaba facilitando o escárnio e a impunidade. Ao todo, foram mais de 20 pessoas envolvidas em cada farra, entre eles, idosos e crianças expostas a todo tipo de riscos. Outro problema é a falta de incentivo nas ações da PM e os diversos focos ocorrendo no mesmo momento. Na verdade, a farra do boi já é crime e deveria seguir o procedimento criminal padrão, ou seja, após haver uma denúncia da Polícia Militar, o Ministério Público deveria abrir processo mediante inquérito concluso encaminhado pela polícia civil, por crime ambiental.”
Foram muitas as ligações para o 190 acionando a Polícia Militar e, para a equipe, é muito importante que as pessoas não desanimem, pois é isso que os farristas querem. Portanto, a orientação da equipe ativista é que continuem, mesmo que descrentes, efetuando as ligações pois somente a pressão pública mostra o descontentamento da população diante da farra do boi.
Na ocorrência registrada no bairro Rio Vermelho, o bovino foi apreendido e encaminhado para um fiel depositário (não identificado). Na tarde da segunda-feira (25), ao norte da Ilha, em Florianópolis, a Polícia Militar foi recebida mais uma vez a pedradas o que dificulta a abordagem da PM. As ligações com denúncias de moradores indicaram o local próximo da Rodovia João Gualberto Soares, no bairro Rio Vermelho.
O animal recolhido apresentava diversas escoriações de maus-tratos além de todo o estresse envolvido durante as horas de fuga. Outro grande problema, segundo a ativista do Brasil Contra a Farra, Thalita do Valle, é que Ongs não possuem dinheiro para tutelar todos os animais, sendo que, quando recolhidos, estes são, ou encaminhados de volta a quem comprou o boi ou ao órgão da Cidasc que também promove o abate. Para a advogada Bárbara, “O abate é uma normativa da Cidasc que não inclui o encaminhamento de animais vítimas de maus-tratos para Ongs e grupos de proteção animal, conferindo os animais como “clandestinos”, pois os farristas retiram os brincos que permite a identificação de sua procedência. É preciso mudar as normativas da Cidasc para que seja incluído o bem estar animal em casos de resgate quanto a farra do boi. Infelizmente normatizas só são modificadas através de pressão popular e a mudança de gestores públicos. ”
A advogada está agora tentando uma audiência com o prefeito de Florianópolis, Gean Loureiro, para entender como sua gestão pode ouvir a população e desenvolver subsídios para acabar com a farra, uma vez que se elegeu também com propostas e votos da causa animal.
A artista, Nana Índigo, propõe uma hashtag #BoicoteSantaCatarina, já que é um Estado que se beneficia muito do turismo e está propagando uma imagem de descaso ambiental e de maus-tratos aos animais muito ruim para o Brasil. “É importante que os turistas também demonstrem descontentamento com o Estado, promovendo até o boicote para sacudir a boa vontade dos governantes. Quando mexe no bolso, eles se movimentam”, ressalta.
O grupo Brasil Contra a Farra do Boi mapeou mais 12 bois que foram comprados para um verdadeiro massacre que é prometido pelos farristas nas vésperas e Réveillon (30 e 31). Desta vez, a equipe solicita que todas as pessoas liguem diretamente de todo o Brasil para o número do Comando da Polícia Militar (48) 3226-6000 com a finalidade de direcionar as ocorrências direto ao BOPE (Batalhão de Operações Policiais Especiais) já que a PM necessita de reforços para conter tantos focos de farra. A equipe orienta ainda que continuem ligando informando todos os endereços que estarão fixados no topo da página nestas datas até que tenham a certeza que a situação estará sob controle. Segundo a equipe, se toda a população trabalhar em conjunto, a atuação dos farristas não será facilitada. Os ativistas também ressaltam a importância das denúncias anônimas pelo inbox da página, e que enviem fotos, vídeos, vazamento de informações de grupos de farra do boi.
Por Luh Pires
Nota do Olhar Animal: Gean Loureiro, prefeito de Florianópolis, não tem compromisso com a causa animal. Basta lembrar de seu apoio a rodeios* e do massacre de cães diagnosticados com leishmaniose (aliás, diagnósticos bastante questionáveis) que vêm ocorrendo em sua gestão. Tomara que a advogada tenha êxito e estejamos errados, mas dificilmente o prefeito agirá em defesa dos bois, o que criaria uma indisposição com os eleitores praticantes deste crime.
* Com relação aos rodeios, toda a proteção animal de Florianópolis sabe do apoio de Gean Loureiro, pois denunciamos este fato tempos atrás, inclusive veiculando as imagens abaixo: