Os outros animais, nós e a reposição de copos na cristaleira

É aparentemente inevitável a nossa confusão no discernimento do que percebemos em nosso contexto, e os equívocos geram conseqüências diversas. Isso é potencializado pelos inúmeros fatores envolvidos nos processos de racionalização, interpretação, comunicação, nas ambigüidades, crenças (o que pensamos ser verdadeiro sobre alguma questão) e essa lista pode ser enorme. Assim, o nosso esforço em enterrar os preconceitos que não encontram mais justificativa perante a razão também pode ser prejudicado em virtude dessas confusões.

Posso imaginar uma cristaleira (móvel onde ficam ou costumavam ficar guardados alguns itens da casa como copos, xícaras, pires e outras louças e cristais) contendo 15 copos. Numa fatalidade, deixo cair um dos copos que acaba despedaçado no chão. Prontamente adquiro outro e reponho no lugar do antigo. Tudo perfeito novamente. No dia seguinte, ao deixar cair outro copo, minha agilidade permite evitar que o copo atinja o chão. Um copo com detalhes em cor azul. Salvo o copo com detalhes em cor azul, mesmo com a possibilidade de comprar outro igual no bazar caso o acidente não tivesse sido evitado. Com esse copo na mão, lembro e penso: e se tivesse quebrado o copo com detalhes em cor azul? Ele tinha um valor único para mim, pois ganhei duma pessoa querida em ocasião rara e provavelmente não acharia outro igual. E ainda que achasse outro muito semelhante em aparência, o substituto não teria o valor simbólico que atribuí a esse em especial. Teria sido uma perda irreparável.

Considerando esse exemplo fictício da cristaleira com 15 copos, até esse momento não me foi demonstrado que do ponto de vista de qualquer um dos copos estar intacto seria um bem e quebrar-se configuraria uma perda (de desfrute, por exemplo; teriam uma boa existência abreviada) ou um mal para eles (estariam a sofrer enquanto não fossem totalmente despedaçados ou em agonia por estarem confinados na cristaleira), visto que copos não tem ponto de vista ou qualquer valor em si mesmos (inerente ou intrínseco) para que pudéssemos supor ou constatar isso; são coisas e todo e qualquer valor que possam ter são apenas valores atribuídos por nós e conforme nossos estados mentais ou práticos (indiretos), seja um valor instrumental, histórico, psicológico etc. Provar o contrário – que copos teriam um valor em si mesmos – é um desafio à luz de uma justificativa racional (ou, até esse momento, a aceitação de um convencimento por justificativas irracionais). Caso aquele copo com detalhes em cor azul quebrasse, seria uma perda irreparável para mim e não para o copo. Estando eu frustrado ou não, a cristaleira poderia acomodar 15 copos novamente (ou mais ou menos), cada um tão insignificante quanto o outro e quanto a própria cristaleira. Qualquer valor que esse conjunto ou itens individuais pudesse ter dependeria de mim ou da existência de alguém semelhante e seus estados mentais equivalentes.

Acontece que nosso planeta é numerosamente povoado por seres completamente o oposto dos copos, seres que tem valor em si mesmos independente do que eu ou qualquer um possa pensar ou atribuir a eles. Qualquer mal ou bem experimentado diz respeito inalienávelmente e primeiramente a eles, ainda que indiretamente possa gerar conseqüências em mim. Mesmo se não existíssemos, esse valor continuaria inabalado: basta imaginar que nossa ausência no mundo durante o século XV não teve o poder de anular o valor de Pero Vaz de Caminha para ele mesmo, ainda que, hipoteticamente, ele não soubesse da existência desse valor ou que desse o mínimo valor (ou valor algum) para a sua vida. Se algum dia Pero Vaz sofreu ao pisar num prego ou desfrutou de bem estar ao tomar banho de sol, foi uma experiência selada nele, mesmo que seu bronzeado tivesse desencadeado conseqüências na percepção alheia (e que seria uma experiência única desse afetado pela exposição visual ao bronzeado de Pero Vaz de Caminha). O mesmo não podemos afirmar sobre os copos, ainda que eles pudessem ter valor para alguém nesse mesmo século (um valor atribuído de fora por alguém e não uma experiência interna do próprio copo, algo impossível para uma coisa até hoje).

Então vamos imaginar que o copo está na área externa de um círculo – o círculo da consideração moral – e os seres vivos dentro. A distância entre o copo e ‘determinados seres’ que estariam mais próximos do copo é ainda polêmica, assim como seus possíveis desdobramentos caso ‘algum dia’ se prove que estávamos enganados quanto a esses ‘determinados seres’ e distâncias. No entanto, parece improvável que esse ‘algum dia’ chegará. Desse modo, o copo está do lado de fora; é uma coisa sem valor em si e só possui valor em virtude da nossa existência, pois somos seres capazes de valorizar alguma coisa; do lado de dentro, mas quase do lado de fora (perto do copo) estão os ‘determinados seres’ (vamos supor como exemplo plantas, bactérias e pessoas em estado vegetativo irreversível, ou seja – e até que se prove o contrário – são seres incapazes (ou agora incapazes) de valorizar qualquer coisa; supor que neles ocorrem instâncias de prazer e sofrimento, além de corromper o uso dos termos “prazer” e “sofrimento”, não faz sentido com base nos conhecimentos científicos vigentes, o que é totalmente diferente de demonstrar que respondem a certos estímulos).

Contudo, se muitos de nós humanos estamos no centro e nos arredores do centro desse círculo da consideração moral (portanto não apenas do lado de dentro como incrivelmente longe do copo), temos razões e elementos suficientes[1] para demonstrar que boa parte dos animais que temos conhecimento estão intimamente próximos de nós dentro dessa forma geométrica da consideração moral (possivelmente lado a lado ou ocupando virtualmente o mesmo lugar que nós). Dentre essas razões e elementos é irrefutável o fato de que para eles (os animais), assim como para nós, o prazer é um bem e o sofrimento é um mal (em resumo, essa capacidade de percepção sobre si mesmo é chamada de senciência) o que torna óbvio o mal em prejudicá-los.

Considerá-los como um copo ou como um ser próximo ao copo é um absurdo e um erro tão grande quanto considerar um de nós da mesma maneira (o que não significa que devemos tratar esses animais igualmente, mas sim ter a mesma consideração por eles quando o interesse em jogo é o mesmo que o nosso, independente de outras características irrelevantes presentes em cada ser; ex.: considerar o bem que é desfrutar a vida conforme sua espécie determina (desde que não cause mal maior a ele e a outros) e o mal que é o sofrimento imposto sem que isso possa desembocar num bem maior para ele mesmo, entre vários outros casos). De modo parelho para nós e para os animais, o desfrute de felicidade é algo bom e o sofrimento é algo ruim e não considerar igualmente essas semelhanças em virtude de diferenças que não dizem nada sobre o que está em jogo é um preconceito (especismo) sem qualquer justificativa imparcial e que dá continuidade aos crimes mais perversos que a história da humanidade já está a contar.

Desconsiderar o sofrimento alheio apenas porque ele se manifesta num ser nascido em outra espécie ou porque o ser em questão não tem a capacidade de raciocinar como um ser humano ‘padrão’ é avaliar o mal do sofrimento a partir de critérios irrelevantes à capacidade de sofrer e isso é inaceitável (independente de quais forem os critérios irrelevantes e por mais mirabolantes que possam parecer). Do mesmo modo, é inaceitável desconsiderar o bem que é poder desfrutar a vida e o mal que é ter esse desfrute interrompido simplesmente por, levianamente, eleger como balizador irrelevâncias que em nada dizem respeito a esse bem e mal. Qualquer criatura dotada de características que possibilite o reconhecimento de que o desfrute da vida em é um bem para ela e a interrupção disso é um mal deve ser considerada em pé de igualdade com qualquer outra criatura onde exista esse mesmo reconhecimento, seja esse ser um porco, uma criança, uma galinha entre outros, pois o que tem legitimidade não é a aparência externa (ou qualquer outro atributo irrelevante) do indivíduo, mas sim seu status íntimo já reconhecido e equiparado com outros semelhantes. Porém, desfrutar plenamente a liberdade em determinadas situações pode ser algo a ser contido.

Quando demonstramos que temos razões e provas suficientes para situarmos esses outros animais perto de nós dentro desse círculo de consideração isso não é arbitrário. É bem pelo contrário e incontáveis tratados sobre isso[2] aguardam refutação para dar continuidade ao debate de modo racional. Insistir na crença de que não existe problema em instrumentalizar os animais (fazer uso deles seja como for) ou que nossos deveres para com eles tem limites ingênuos é uma tolice (ou insanidade) tão grande quanto afirmar, nos dias de hoje, que a Terra é plana como uma moeda. Na verdade, é um crime sem precedentes que se prolonga a cada minuto e perpetua uma quantidade de agonia e sofrimento impossível de mensurar.

Acontece também que muitos coletivos humanos vivem numa estranha confusão, atribuindo um nivelamento ou semelhança entre os copos, a cristaleira, os animais e circunstâncias (logo, entre os copos, a cristaleira, eu, você que está lendo, todos os demais e nosso entorno). Para esses, “quebrar” algum animal é algo sujeito de reposição. O animal é tornado copo pela vontade de alguém (só que esse alguém não consegue explicar como um ser com valor em si mesmo é tornado coisa substituível como num passe de mágica; muito menos explicar como um ser único e insubstituível, com valor em si mesmo, portanto tendo valor inerente independente do que qualquer um possa pensar ou sentir por ele, pode ser substituído).

Estando a “cristaleira”, que como exemplo para esse caso pode ser um determinado bioma, com o número de copos/animais reposto satisfatoriamente conforme algum julgamento de classe, então estaria tudo bem. Essa, normalmente, é a visão ambientalista que gera confusões extraordinárias entre anti-especismo e ambientalismo e está muito arraigada dentro do próprio movimento de direitos animais. Que confusão magnífica misturar o domínio do raciocínio matemático ou descrição de determinadas interações ambientais com a vida alheia, individual, única e insubstituível. Essa “cristaleira” também pode ser imaginada como um plantel de gado de corte, ou um biotério de alguma universidade ou laboratório e mais exemplos não faltam. E os animais, de maneira maligna, tornados copos. Muito mais impressionante é que esses coletivos reconhecem que esses animais não são como copos, mas criam regras ou justificativas falaciosas para tratá-los como tal. Uma contradição suprema, outro ato mágico. Admitem eles: não são copos, mas com “essas regras” ou com “essas justificativas falaciosas” passam a ser quando conveniente. Um dilema calcado em miopia, oportunismo, nos “fins justificam os meios” e toda sorte de obscurantismo. Disso, surgem os famigerados comitês de “ética” em experimentação animal, o paradoxal abate “humanitário”, as atividades acadêmicas duvidosas em diversas carreiras universitárias e assim por diante.

Ainda, nesse emaranhado, mistura-se e falaciosamente procura-se justificar o mal em “quebrar” e fazer um animal sofrer e a impossibilidade de substituir um ser único com o bem que pode ser feito ao trazer outro ser único, insubstituível e com valor próprio para a vida (fazer nascer), como se esse novo ser fosse desfrutar de uma vida agradável de ser vivida. Podemos sustentar que trazer alguém à vida para sofrer é um mal. Antes nunca tivesse existido do que ser trazido para padecer. Mas mesmo que esse bem fosse feito (trazer um ser à vida para desfrutar positivamente no lugar do anterior), isso não neutralizaria nem anularia o mal prévio deliberado. Aquilo continuaria sendo um crime irreparável e que não deveria ter sido cometido contra a vítima antecedente. Pensar diferente é esvaziar o valor da própria (minha, tua) vida.

Fatalmente, todo esse composto também está impregnado naqueles que tentam se desvincular do preconceito do especismo e que procuram levar suas vidas com o mínimo possível de danos diretos (e indiretos) aos seus semelhantes animais. Dentro desse movimento político e social de justiça, o que é nomeado como veganismo é um exemplo emblemático onde os integrantes buscam em seus modos de vida esse objetivo de livrar os animais de toda a malevolência humana. Ainda assim, muitas vezes a mentalidade ainda está contaminada por confusões, preconceitos e ilusões.

Uma pessoa que opta em não se tornar uma assassina de outras pessoas não pode ter a ilusão de que sua postura ética (o dever negativo de não assassinar gratuitamente) salva alguém que nesse momento está sendo vítima de assassinato em algum lugar do mundo. Para salvar essa vítima (o dever positivo de evitar o dano) é preciso algo a mais que isso, mas a falta desse algo a mais não invalida essa postura ética duma pessoa que não está em condições de tomar essa decisão (pode estar do outro lado do planeta no momento do crime ou não ter condições de enfrentar o assassino), além de ser um a menos a cometer atrocidades injustificáveis contra inocentes por aí. Igualmente, não estar em condições de salvar alguém não pode ser um argumento para então iniciar a matança ou ser conivente com ela. Que adjetivo atribuiríamos a alguém que pensa que “já que não consigo evitar os assassinatos ao redor do mundo então vou começar a matar e financiar mortes por aqui também.”? Mas pensar que o fato de que não matar é salvar alguém (como se não matar e salvar fossem equivalentes) que está em vias de ser abatido por outras mãos e onde a nossa interferência para evitar isso não tem alcance é confudir deveres negativos com deveres positivos (nesse caso), não reconhecer as circunstâncias e as próprias limitações[3], além de criar um terreno inseguro para seu pensamento e argumentação, mas um solo seguro para uma decepção que não precisa ocorrer.

No exemplo hipotético, o copo com detalhes em cor azul, nesse sentido, foi “salvo” em decorrência da minha agilidade. Evitei que fosse despedaçado pelo impacto com o chão. Mesmo esse copo sendo uma coisa substituível, diferente de um animal, eu só pude evitar o evento de esfacelamento devido a sua existência prévia. Então aqui ouso fazer uma comparação entre a coisa, nós e os outros animais. Para limitar no âmbito da alimentação, dizer que ao parar de comer animais estamos “salvando” um animal (ou mais animais) é uma tremenda confusão. Deixar de comer é uma coisa e salvar é outra. A postura ética de deixar de comer animais, entre outras ocorrências valiosas decorrentes dela, tem o poder de diminuir ou extinguir a demanda. Assim, menos (ou nenhum) animais seriam trazidos à vida. Desejamos ver o dia em que menos (ou nenhum) animais sejam trazidos ao mundo para sofrer e esse mérito será “nosso” também (mas o dever urgente residirá em livrar do sofrimento os poucos que forem trazidos ao mundo em situação de exploração). Mas para salvar alguém é preciso algo a mais e é preciso que esse alguém (o animal) já exista e necessite ser salvo. Salvar é livrar um ser único já existente (eu ou você) duma circunstância que exige salvamento. Os únicos animais passíveis de salvamento são os que estão nas fazendas de criação e outros locais desgraçados nesse exato instante. Crer o contrário (que deixar de comê-los vai salvá-los) é, a partir de alguém que se julga afastado do especismo, afirmar que os animais são como os copos, uma vez que os animais que estão sendo arruinados nesse instante de leitura seriam passíveis de substituição por menos (ou nenhum) animais imaginários num futuro fictício.

Contudo, novamente, isso não é motivo de depreciação das posturas éticas urgentes e necessárias, nem motivo para alguém se sentir desanimado. Muito pelo contrário. É se afastar de ilusões e preconceitos, é solo seguro e a constatação de que estamos dando passos iniciais valiosíssimos, de que nos situamos no extremo oposto da lógica da dominação, opressão e destruição violenta de seres tão sensíveis quanto nós e de que muito mais tem de ser feito[3] para livrar-los do mal real, imediato e futuro.

Um passo inicial de extremo valor é não praticar nem ser conivente com um mal injustificado contra quem é submetido. Mas se de modo inadmissível o mal ocorre, bastaria eu me satisfazer com a crença de que se eu não pratico o mal então isso seria suficiente para que esse mal tivesse fim[4]? Eu não deveria procurar maneiras de erradicar esse mal, com o recurso peculiar que fosse, ao invés de encerrar o assunto na minha suposta não contribuição mesmo ciente de que o mal continuará a ocorrer?

Examinando tudo o que foi dito até agora, e sem a intenção de menosprezar qualquer avanço pessoal (por mais singelo que for), uma reflexão pertinente aqui é: se estamos mesmo a considerar as terríveis conseqüências que os animais estão a sofrer em virtude das decisões, sejam elas nossas ou de outros, ações ou omissões e circunstâncias do mundo, salvaremos qualquer um daqueles que estão agora, nesse exato instante, a clamar por salvação e/ou estamos mesmo empenhados em minimizar tanta barbaridade para além da nossa obrigação moral de não fazer, não fomentar nem ser conivente com esse mal?

No ínicio desse texto, sugeri que o nosso esforço em enterrar os preconceitos que não encontram mais justificativa perante a razão também pode ser prejudicado em virtude das confusões e crenças que temos (o que pensamos ser verdadeiro sobre uma questão). Mesmo que não possamos fazer nada (ou quase nada) de substancial para modificar certas questões urgentes nesse período em que vivemos, um passo fundamental é o exercício de questionarmos até que ponto ainda estamos imersos no especismo. Então, imaginando uma imensa cristaleira repleta de copos como metáfora para nós e os outros animais nesse mundo, recomendo o texto “Sobre danos naturais”[5] do mestre em Ética e Filosofia Política Luciano Carlos Cunha como ferramenta para esse questionamento.

* Agradeço ao mestre em Ética e Filosofia Política Luciano Carlos Cunha pelas revisões, críticas e sugestões.

Sugestões de referências:

[1] Declaração de Cambridge sobre a Consciência em Animais Humanos e Não Humanos. Disponível em http://www.ihu.unisinos.br/noticias/511936-declaracao-de-cambridge-sobre-a-consciencia-em-animais-humanos-e-nao-humanos

[2] Porque temos o dever de dar igual consideração aos animais não-humanos e as implicações práticas desse dever. Disponível em https://olharanimal.org/porque-temos-o-dever-de-dar-igual-consideracao-aos-animais-nao-humanos-e-as-implicacoes-praticas-desse-dever/

[3] Os limites do veganismo (série de vídeos do Consciencia.VLOG.br). Disponível em http://consciencia.blog.br/os-limites-do-veganismo#.UO2ZyeT7IhU

[4] Omitir-se de praticar o mal não basta. Disponível em http://www.anda.jor.br/16/05/2011/omitir-se-de-praticar-o-mal-nao-basta

[5] Sobre danos naturais. Disponível em https://olharanimal.org/sobre-danos-naturais/

Fonte: ANDA


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