Pandemia da gripe suína ou quando vai dar pra comer um porquinho?

Pandemia da gripe suína ou quando vai dar pra comer um porquinho?

Por Marcio de Almeida Bueno 

Quantos telespectadores que ouviram os termos ‘OMS’, ‘pandemia’ e ‘gripe suína’, nos últimos dois dias, foram capazes de pensar um pouco além do espetáculo das máscaras modelo Michael Jackson, e duvidar, um pouco que seja? O benefício da dúvida. O mesmo cidadão médio que repete seu mantra boca-suja contra o governo e contra os políticos – mas veste o cabresto por conta própria, toda vez que tem eleição – é incapaz de questionar algo que vá mexer com sua própria vida, ou com o que lhe parece confortável e aprazível. Como ter carne de porco à disposição no comércio.

A grande preocupação de muitos desses que se atropelam nos calçadões e disputam um lugar nas filas mais compridas é apenas ‘quando é que já vai dar pra comer um porquinho tranquilo?’ – porque o que quer que o governo ou a televisão digam, está valendo. A indignação é seletiva, e nesses casos é como a criança liberada de um castigo, o raciocínio se resumindo a ‘algo errado – proibido de fazer – esperar algum um tempo – livre novamente’.

Para quem já vive uma vida domesticada, marcado a ferro no RG, a gripe suína – perdão, eu não decorei o mais recente eufemismo ditado pela bancada ruralista – é apenas um problema a mais a ser comentado, algo que os jornais falam, morre gente em países distantes, tem que lavar melhor as mãos, e pronto. Ninguém vai pensar que a suinocultura está, neste momento, mantendo presos animais e contabilizando os lucros dos filhotes vindouros, enquanto o dono de tudo – eis a raiz – envia seus próprios filhotes para estudar Zootecnia ou similar em uma universidade paga por todos. Até pelos que não concordam com a escravidão, digo, criação.

Alguns poucos, e aí se incluem muitos dos autointitulados ‘protetores de animais’, avançam um pouco no pensamento, e se confortam em repetir o mantra – ô coisa útil – ‘… pelo menos são bem tratados, meu cunhado tem fazenda e blablablá’. Esquema ‘Babe, O Porquinho’, fazenda da Vovó Donalda e tal. Lembrei também do Patolino e do Gaguinho brigando por um pernil assado.

Nesse mar de bosta líquida oriunda dos chiqueirões é que os abolicionistas têm que nadar enquanto levantam o dedo para pedir a palavra e apresentar alguns argumentos razoáveis. Mas a audiência geralmente está com os beiços lambuzados e deseja mesmo um chá digestivo, e não desconfortos filosóficos como guardanapo. E a resposta mais provável é um arroto.

Fonte: ANDA


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