Peixes-bois gêmeos e outros 13 mamíferos aguardam em fila de espera para serem devolvidos ao mar

Peixes-bois gêmeos e outros 13 mamíferos aguardam em fila de espera para serem devolvidos ao mar
Animais vivem em 'hospital' no Ceará e agurdam condições adequadas para voltar ao mar. — Foto: José Leomar/G1

Erê e Ju são irmãos gêmeos que já passaram por muitas coisas juntos. Separados da mãe logo recém-nascidos, foram resgatados, tratados e hoje recebem total atenção na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). Eles pesam cerca de 600 quilos. Não são parentes convencionais. São dois peixes-bois de médio porte, de uma espécie em extinção, que hoje passam por reabilitação e compõem uma fila de espera com mais 13 animais para serem devolvidos ao habitat natural.

Os animais vivem no Centro de Reabilitação de Mamíferos Marinhos do Projeto Manatí, vinculado à Organização Não Governamental (ONG) Aquasis. Os primeiros da fila de espera são Alva e Maceió, os mais velhos do Centro de Reabilitação, de cinco anos e meio e cinco anos de idade, respectivamente. A previsão é que sejam soltos no fim deste ano. Será a primeira vez que a marcação com o chip (para monitorar) e essa soltura será realizada no Ceará. Após a liberação no mar, a equipe re-monitora os animais por mais um ano até que se certifique que os bichos estão em condição para viver sozinhos na costa.

Semanalmente, os animais passam por uma bateria de exames de sangue, medição de tamanho e manejo. Eles são assistidos por biólogos, veterinários e voluntários do projeto. O G1 teve acesso, com exclusividade, a este processo, na manhã desta quinta-feira (2). Inaugurada no fim de 2012, a ONG cuida da vida animal e da preservação do meio ambiente no Ceará.

Nesta quinta-feira (2), cerca de 17 pessoas uniam forças para retirar os bichos da água e colocá-los na superfície para as avaliações. A reportagem acompanhou dois peixes-bois: Erê e Minotauro, ambos com dois anos e meio de vida. Eles encalharam na Praia de Beberibe, no litoral cearense, quando ainda eram recém-nascidos e foram trazidos à sede do Centro, no Sesc Iparana, em Caucaia, Região Metropolitana de Fortaleza (RMF).

Durante o manejo, Minotauro foi trocado de tanque e passará a viver no oceanário, um reservatório de água de porte maior para animais mais velhos e que esperam na fila para serem devolvidos ao mar. Amanda Oliveira, 30, era uma das integrantes da equipe de cuidados. A bióloga trabalha no Projeto Manatí há cerca de três anos e ressalta a importância de preservação dos peixes-bois, espécie em extinção. “Cada resgate faz a diferença. É importante cuidar deles para manter e conservar a espécie, já tão ameaçada. É um trabalho muito gratificante”, pondera.

Todos estes trabalhos culminam no processo de soltura no mar, que será na Praia de Peroba, no município de Icapuí; o retorno tão sonhado para os 15 peixes-boi que atualmente vivem no Manatí. De acordo com Victor Luz, veterinário responsável pelos cuidados dos bichos, o processo é longo e intenso. “Estamos dependendo de algumas licenças ambientais. A estrutura funciona como um semi-cativeiro, ele tem o formato de um tanque-rede e será em uma área bem próxima à praia. Diariamente, a nossa equipe vai ao cativeiro para alimentá-los e monitorar o comportamento deles. O período em cativeiro varia de três meses a um ano”, afirma.

Voluntariado

Trabalho de cuidado de animais marinhos conta com apoio voluntário. — Foto: José Leomar/G1

O Projeto Manatí conta com uma vasta de equipe de voluntários, que participam ativamente do processo. Isabelle Aviolo, 21 anos, é uma delas. Graduada em Biologia, a estudante paulista, do município de São Carlos, passou todo o mês de abril em atividades no projeto.

“Foi uma experiência muito enriquecedora aprender como que é o animal e como funciona a reabilitação dele. Participei de preparação da alimentação, do processo de manejo e também das atividades externas, como o resgate e a necrópsia de outros animais”, conta Isabelle, que também já fez um estágio monitorando baleias jubarte na Bahia.

Conscientização

Para além do trato com os animais, o Manatí trabalha com educação ambiental. A equipe desenvolve trabalhos de práticas de pesca responsável e de conscientização acerca da soltura de animais, voltado principalmente para comunidades praianas e onde mais aparecem peixes-bois.

Conforme Thais Chaves, coordenadora de Educação Ambiental do Projeto, são realizadas rodas de conversa com a finalidade de despertar a sensibilidade da comunidade e fazer com que eles passem a pensar de maneira diferente a sua relação com o meio ambiente.

“Nos dois últimos meses, nós fizemos reuniões em comunidades próximas à praia, conseguimos atingir 237 pessoas entre donos de barco e pescadores. A gente faz uma roda de conversa e damos espaço para eles também darem sugestões. É uma responsabilidade com o ambiente e com os animais mas que acaba afetando o ser humano. Nós fazemos parte do meio ambiente”, pontua a bióloga.

Por Matheus Facundo

Fonte: G1

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