Pelo fim do zoológico de Ondina, em Salvador, BA

Pelo fim do zoológico de Ondina, em Salvador, BA

As vereadoras Marcelle Moraes e Ana Rita Tavares (que sempre se pegam quando o assunto é o voto transversal dos animais) dessa vez estão certas em estrilar, chamar para o debate, chamar na chincha as autoridades. É preciso mesmo acabar com o zoológico de Ondina e outros zoológicos ou locais inadequados pela Bahia e mundo afora onde se exibem animais, onde se ganha dinheiro com o sofrimento dos bichos.

A Bahia está dentro da atual ordem mundial em que os animais são vítimas passivas. Vários estudos garantem que zoológico não é lugar para animais e a morte recente de um hipopótamo em Ondina acendeu o debate por aqui. O projeto de lei da vereadora Marcelle que proíbe a criação ou implantação de zoológicos, aquários e parques público e privados que exponham animais silvestres é bem-vindo. O discurso das vereadoras para fechamento do zoológico também. E tem de se estender através da Assembleia Legislativa, para alcançar a seara dos circos, lugares piores que os zoológicos, parques ou teatros dos horrores.

O direito dos animais é um assunto que envolve polêmica mundo afora, por seu fator social e jurídico. Existe o direito animal? Se existe o direito ambiental que tutela as relações entre as espécies animais, vegetais, não-humanas e humanas está tudo mais que claro e definido. Quer mais o quê? Até o papa sabe disso.

No Brasil, cabe ao Ministério Público assistir aos animais por decreto federal e isso enquadra os animais como sujeitos de direito. O poder público tem de proteger flora e fauna contra os riscos de provocar extinção, contra crueldade ou em justificação das suas funções ecológicas. Evitar o estresse é algo previsto e isso é o que mais acontece nos zoológicos.

Um deputado paulista apresentou na Câmara, em 2016,  um projeto visando encerrar as atividades dos zoológicos nacionais, aquários e parque. O projeto foi arquivado. Os direitos dos animais continuam sendo violados. Claro que os zoológicos podem ser transformados em locais de recuperação, de passagem. Em hospitais. Seria o ideal, mesmo que o avô, a avó, os pais achem que seus netos e filhos urbanos tenham direito de conhecer os animais que só veem na TV.

Alguns países já fecharam os zoológicos ou prometem fazer isso, como a Argentina, a Costa Rica e a Espanha, mas a discussão prossegue para se saber se algumas espécies são mais felizes em seu habitat ou dentro dos zoológicos. Na dúvida, que sejam levados para lugares mais adequados. Para os santuários, como se faz em boa parte dos países africanos, os mais civilizados.

Não sou ativista da causa animal,  mas defendo a transferência deles para locais naturalmente adequados e controlados. Animal não pode ser entretenimento para os humanos.

O zoológico de Salvador foi criado em 1958. Estive lá algumas vezes e saí triste em ver aves enclausuradas, onças inquietas e tantos outros animais com olhares tristes como se pedissem socorro. O Brasil tem 106 zoológicos. Mais de 30 milhões de pessoas os visitam anualmente. Quase todos cobram ingresso. Os animais são incomodados, bolinados, amedrontados, bullyingnados.

Animais sentem dor e medo. Você acha que os bichos estão felizes em seus cubículos? Você acha que animal em circo faz pirueta porque gosta ou por medo do que pode suceder se não fizer? A ideia de transformar o nosso zoológico em centro de apoio a animais vitimizados é muito boa. Teria uma função nobre. Basta o governo ter coragem. Lembrei daquele ministro que disse que bicho também é gente. Mesmo sendo uma má justificativa para seu erro, entendi o que ele queria dizer de verdade.

Por Jolivaldo Freitas 

Fonte: Correio 24 Horas

Os comentários abaixo não expressam a opinião da ONG Olhar Animal e são de responsabilidade exclusiva dos respectivos autores.