Pensilvânia resiste ao fim do tiro ao pombo que já desapareceu de quase todo os EUA

Pensilvânia resiste ao fim do tiro ao pombo que já desapareceu de quase todo os EUA
A Pensilvânia é o único estado onde o tiro ao pombo é ‘praticado abertamente e regularmente’, diz Heidi Prescott da Sociedade Protetora dos Animais dos EUA. (Imagem: Michael Probst/AP Photo)

Heidi Prescott vem lutando para proibir o tiro ao pombo por quase 25 anos. Nenhum estado mostrou uma batalha maior do que a Pensilvânia.

“A Pensilvânia é o único estado onde o tiro ao pombo é praticado aberta e regularmente”, disse Prescott, vice-presidente sênior de campanhas da Humane Society dos EUA. “Outros estados devem ter um ao ano. E quando eu digo outros estados, eles são muito raros”.

A legislação para proibir o tiro ao pombo tem sido introduzida repetidamente na Assembleia Geral desde 1987. Mas esta falhou diversas vezes em conseguir o apoio necessário para proibir uma atividade que quase desapareceu no resto dos Estados Unidos.

Todos os anos, disse Prescott, ela recebe notificações sobre cerca de cinco tiros ao pombo em outros lugares do país. Isso não é nada comparado à Pensilvânia, onde cerca de 25 desses eventos ocorreram em 2016.

E muitos deles acontecem bem perto da Filadélfia.

O Clube de Tiro da Filadélfia na State Road, em Bensalem, Condado de Bucks, realiza vários tiros a cada ano em seu campo ao longo do Rio Delaware.

O clube privado vem recebendo nos últimos anos o escrutínio público de um grupo de ativistas dos direitos dos animais apoiado pelo antigo anfitrião do programa “Price is Right”, Bob Barker. Mas o clube de tiro persiste, tendo realizado o mais recente tiro ao pombo na primavera.

Durante tais tiros, pombos vivos são colocados em caixas acionadas por molas e jogados ao ar sob o comando do atirador. O atirador então dispara contra eles de uma distância de cerca de 30 jardas.

Centenas de aves são feridas ou mortas.

“É uma das atividades das mais cruéis e sem propósito nenhum que eu já vi”, disse Prescott.

“É equivalente às rinhas de cães e galos. É uma violência gratuita contra animais. Não há razão nenhuma para não substituir os pombos por argila”.

O tiro ao pombo é proibido por lei em 14 estados, incluindo Nova Jersey, de acordo com a Humane Society. Os sistemas judiciais ou promotores gerais de outros nove estados também opinaram que a prática é ilegal sob as leis de crueldade animal.

E a Humane Society acredita que os regulamentos de crueldade animal na maioria dos outros estados, incluindo a Pensilvânia, poderiam incluir o tiro ao pombo se o assunto chegasse a um juiz.

A organização vem lutando há décadas para aprovar a legislação que proibiria o ato na Pensilvânia, em vão.

Assim como a rinha de cães, “é indesculpável”

Os proponentes do tiro ao pombo argumentam que os pombos vivos apresentam mais desafios do que aves de argila. Alguns alegaram que o tiro ao pombo não é mais cruel do que os esforços de exterminação.

Outros temem que a proibição do tiro ao pombo acabe levando a restrições maiores de caça. O representante Mike Tobash, que defendeu o tiro ao pombo em 2012, disse ao jornal The Philadelphia Inquirer que isso é um “problema de direitos dos animais versus direitos dos esportistas”. Tobash, cujo pai uma vez organizou o agora extinto tiro público aos pombos em Hegins, no Condado de Schuykill, não retornou o pedido de comentário.

Os clubes de tiro da Pensilvânia realizam tiro ao pombo desde antes da Guerra Civil. Mas os ativistas dos direitos dos animais começaram a protestar contra isso nos anos 80, na tentativa de acabar com essa prática.

Um grupo chamado Showing Animals Respect and Kindness (SHARK – Mostrando Respeito e Bondade aos Animais) protestou contra o tiro realizado no Clube de Tiro da Filadélfia ao postar vídeos de pombos feridos e imagens aéreas dos eventos. O SHARK também publicou as identidades dos membros do clube, muitos dos quais vêm de fora da região.

“Nós realmente estamos pressionando-os bem pesado e expondo as pessoas que participam disso”, disse Stuart Chaifetz, ativista do SHARK. “Nós tratamos isso da mesma forma que quando se vê alguém promovendo rinha de cães – é indesculpável”.

No ano passado, um adolescente de Nova Jersey foi acusado de crueldade animal após o SHARK ter postado um vídeo com ele jogando pedras em pombos feridos.

Mas o clube de tiro contra-atacou. Ele entrou com uma ação federal contra o grupo SHARK três anos atrás, acusando os ativistas de perseguição, assédio, intimidação e invasão de privacidade. Um juiz anulou o processo em outubro do ano passado.

O Clube de Tiro da Filadélfia não respondeu à mensagem oferecendo uma oportunidade para defender a prática. Seu advogado, Sean M. Corr, negou-se a comentar, alegando litígio em curso.

Mas o clube de tiro não é o único que realiza tiro ao pombo. Ele também ocorre em clubes de tiros privados em Berks e no Condado de Dauphin.

Durante décadas, um tiro público ao pombo era realizado em cada Dia do Trabalho em Hegins, Condado de Schuykill. Realizado de 1934 a 1998, o evento já atraiu 10.000 pessoas. Mas foi suspenso em 1999 depois de anos de protestos e uma batalha legal que chegou à Suprema Corte do estado.

Nesse ponto, disse Prescott, os esforços para aprovar uma legislação que proíba o tiro ao pombo diminuíram.

“Os advogados pensaram que isso iria detê-los no estado”, disse Prescott. “Você via então uma queda na discussão sobre leis do tiro ao pombo em prosseguimento”.

Projeto de lei definha em comitês

Em 2000, a Câmara estadual votou contra uma emenda de lei que proibiria o tiro ao pombo. Uma legislação similar não foi introduzida por mais seis anos. E outra votação ocorreria somente em outubro de 2014.

Foi quando os oponentes ao tiro ao pombo chegaram o mais perto de ganhar uma lei que proibisse a prática.

O Senado estadual aprovou de forma esmagadora uma legislação que proibiria não só o tiro ao pombo, mas também a venda de cães e gatos para consumo humano. O ex-governador Tom Corbett se comprometeu a assinar o projeto de lei.

Mas ele morreu na Câmara quando o Comitê de Normas rejeitou levar para votação. Descobriu-se que o Flyers Victory Fund da Pensilvânia, um lobby para atiradores de pombos que foi apoiado pela National Rifle Association (NRA – Associação Nacional do Rifle), tinha doado US$ 1.000 para 17 membros do comitê e US$ 3.000 para o representante Mike Turzai, o então líder da maioria da Câmara.

Sem a oposição da NRA, Prescott insiste que o tiro ao pombo acabaria de uma vez.
“A NRA, chega no último minuto”, disse Prescott. “Eles dão uma surra nos legisladores e mudam os votos. É algo incrível de se ver”.

Um porta-voz da NRA não retornou ao pedido de comentário.

O Senador Pat Browne introduziu projetos de lei em cada uma das duas últimas sessões legislativas para proibir o tiro ao pombo. O último projeto de lei, introduzido em abril ainda permanece no comitê, onde o projeto anterior foi negado.

Browne não retornou os pedidos de comentários. Tampouco o senador Robert Tonlinson e o representante estadual Gene DiGirolamo, uma dupla de legisladores republicanos que representam Bensalem, onde o Clube de Tiro da Filadélfia realiza seu tiro ao pombo.

Tomlinson votou por acabar com o tiro ao pombo em 2014. Tanto ele como DiGirolamo foram previamente apoiados pela Sociedade Protetora.

A legislação atual dificilmente ganhará força, já que os legisladores trabalham para aprovar o orçamento estadual antes de irem para o recesso de verão.

Mesmo assim, Prescott acredita que os votos positivos estarão lá para proibir o tiro ao pombo se os líderes legislativos levarem isso para votação. E, em todo o estado, 75 por cento dos cidadãos apoiam a legislação para proibir isso, de acordo com uma pesquisa de 2013 conduzida pela Mason-Dixon Polling and Research Inc.

Mas lutar pelos pombos, uma espécie não nativa frequentemente considerada um incômodo, não é algo que faz com que as pessoas queiram se engajar.

Mesmo assim, Prescott acredita nessa causa e está determinada a ver isso mudar.

“Se houvesse um tiro ao gatinho ou cachorrinho agendado para amanhã, este seria impedido de seguir em frente amanhã bem cedo ou ainda hoje à noite”, Prescott disse. “Seria o projeto de lei mais fácil das nossas vidas. Mesmo se você pensar em outra ave, imaginando se eles fizessem isso com um sabiá ou um cardeal, isso seria impedido em um segundo, como deveria ser”.

Por John Kopp / Tradução de Alice Wehrle Gomide

Fonte: Philly Voice


Nota do Olhar Animal: Em São Paulo há uma rua e um bairro que levam o nome desta prática grotesca, que no Brasil é crime previsto na Lei dos Crimes Ambientais. Chamam-se “rua Tiro ao Pombo” e “Jardim Tiro ao Pombo”. Será que algum vereador de SP se dispõe a propor a alteração destes nomes anacrônicos e enaltecedores de uma inaceitável violência contra as aves? São uma péssima referência para a comunidade.

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