‘Petrópolis é um supermercado do tráfico de pássaros’, acusa biólogo
Ações de fiscalização têm sido deflagradas e o número de apreensões tem crescido na cidade.
Por Vinícius Ferreira
Segundo o estudo feito pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBio, a principal ameaça à existência de diversas espécies no Brasil é o tráfico de animais, que tem sido percebido de maneira mais intensa nas regiões do país que ainda contam com reservas biológicas. Este é o caso de Petrópolis, que na semana passada foi alvo de uma operação conjunta do ICMBio, com a Polícia Rodoviária Federal – PRF, que apreendeu 25 aves, entre as quais, nove espécies ameaçadas de extinção. Segundo o chefe da Reserva Biológica de Araras – que é administrada pelo Instituto Estadual do Meio Ambiente – Inea, Ricardo Ganem, essa apreensão representa uma triste realidade. “Petrópolis, é um supermercado para traficantes de aves”, afirma.
Segundo Ganem, o motivo é a presença de nativas aves canoras como trinca-ferros, canários da terra e xanxões, espécies apreciadas para a utilização em torneios e de alto valor no mercado negro. “Há ainda o mercado de caça (seja por esporte ou alimentação) onde os alvos são espécimes como a preá, o jacu e o macuco, comuns na Região Serrana do estado”, informa o chefe da Rebio Araras, que destaca ainda a captura de aves para fins decorativos. “Tangarás e papagaios, por exemplo, são alvos frequentes para serem utilizados como pets (animais domésticos)”, explica.
Ainda de acordo com o chefe da Rebio Araras, Petrópolis é um alvo constante de caçadores, por concentrar uma grande área de reserva. “O tráfico acontece onde há mata original preservada, já que esses lugares são os últimos redutos das espécies, especialmente as ameaçadas de extinção”, avalia Ganem, que aponta a BR-040 como rota de escoamento dessas aves capturadas. “Além das aves nativas, encontramos muitas aves de outras regiões do país, nas operações de fiscalização que fazemos na cidade”, explica o chefe da Rebio.
As operações consistem em localizar os cativeiros, recuperar as aves e reabilitá-las para o retorno à natureza. No dia 19, agentes da PRF foram a uma propriedade rural, no bairro Caxambu, apurar uma denúncia recebida pelo ICMBio, indicando a existência dos espécimes raros, mantidos em cativeiro. Um homem, de 41 anos, foi detido durante a ação e responderá pelo crime ambiental. Segundo o chefe da Rebio Araras, flagrantes como esse são comuns na cidade. “Temos notado pelo número de apreensões que realizamos, que vem aumentando a quantidade de aves em cativeiro”, afirma Ganem.
E o impacto da retirada dessas espécies da natureza pode ser desastroso. Segundo a coordenadora de Avaliação do Estado de Conservação da Biodiversidade – Coabio/ICMBio, Rosana Subira, “Cada espécie tem uma função ecológica. Tirar uma espécie da vida livre abre uma lacuna, porque não haverá outra para desempenhar aquele papel”. Ainda segundo a coordenadora, no Brasil, as aves são os animais mais capturados e vendidos no mercado negro, segundo dados da organização não governamental WWF.