Porcos e cães: especismo eletivo

Por Sônia T. Felipe

Quase todos os dias circulam notícias sobre o modo como os chineses usam animais em sua dieta. Também quase sempre aparece alguém xingando os chineses e os amaldiçoando por fazerem o que fazem com os animais, sem a menor piedade. As pessoas xingam os chineses, xingam o povo todo, querem a morte e a tortura de todos, para pagarem pelo que fazem aos cães, aos macacos ou sabe-se-lá a qual outro animal que matam para virar comida.

Quando as pessoas xingam pessoas de outra cultura, geralmente praticam o especismo eletivo. Os outros são xingados e amaldiçoados porque fazem isso ou aquilo aos cães, os únicos animais pelos quais muita gente sente algum afeto, porque pelos outros animais o único afeto ou impulso que sentem é mesmo o da gula. Pecado da luxúria.

Cuidado com a maldição que rogam sobre os chineses. O universo não vê diferença entre o mal praticado por um povo contra um tipo de bicho e o mesmo mal praticado por outro povo contra outro tipo de bicho. Sendo todos os animais sencientes, algo declarado em julho de 2012 em Cambridge, na Inglaterra, por toda comunidade de neurocientistas de todas as especialidades, não há distinção entre torturar um cão até a morte para comer suas carnes ou torturar um porco do mesmo modo e com o mesmo propósito.

Para o universo, a natureza e nossa consciência abolicionista vegana, todos os animais sofrem, e não comemos suas carnes por essa razão e pela outra, a de que todos os animais, se foram forçados a nascer, querem mesmo é continuar na vida a seu próprio modo, para atender aos apelos e ao destino de sua própria natureza, não para servir aos propósitos humanos.

Assim, lançar pragas e maldições sobre um povo, porque consome carne de cães escaldados vivos, pode ser o tipo de feitiço que um dia virará contra a feiticeira que o lança. Xingar os chineses pedindo que uma catástrofe se abata sobre o país como punição porque eles comem carne de cães, pode reverberar e levar o universo a entender que deve aplicar a mesma lei sobre o território brasileiro, porque aqui há animais mortos para extração de carnes com o mesmo método usado na China: porcos escaldados vivos.

Sim, bem debaixo do nosso nariz, fazem a mesma coisa com porcos no abatedouro. Segundo a médica veterinária Gail Eisnitz, que investigou por cinco anos 240 abatedouros norte-americanos, de cada três porcos lançados no tancão de água fervente para depilação, um ainda vive e respira. Respira, portanto, essa água fervendo do tanque para dentro do pulmão. Morre com o pulmão escaldado. Que dor!

Quem come sanduíche de presunto, rabada, costela, toucinho, bacon, linguiça, torresmo, banha ou qualquer alimento que contenha esses ingredientes ou derivados deles, come isso. Se os come, mesmo se for um simples pastel da 10 Pasteis, que bota banha de porco na massa, já está no alvo da maldição que rogou sobre os chineses.

Xenofobia não combina com abolicionismo animalista. Especismo eletivo, condoer-se de cães e não de porcos, também não. Todos os animais sofrem igual. Sejam cães, porcos, chimpanzés ou humanos.

Aliás, segundo a tese mais recente de Eugene McCarthy, somos descendentes mesmo é da cruza de uma chimpanzé com um porco, nossos genes não nos enganam mais. Que tal? Porcos morrerem por respirar água fervendo, pode? Não pode. Porcos são nossos ancestrais, como o são os chimpanzés. Vai faltar perdão para a xenofobia e o especismo eletivo!


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