Pra fechar o ano: balanço 8° Bazar Vegano Floripa

Pra fechar o ano: balanço 8° Bazar Vegano Floripa
Próxima edição será no centro sábado dia 29/2/2020 com local a se confirmar (veja no fim da matéria).

No dia 18 de maio (dia da luta antimanicomial) ocorreu a nossa única edição do Bazar Vegano Floripa em 2019. Quase oito meses após a data aqui estamos vivas para publicar alguns registros, um dos motivos dessa demora foi a necessidade de ouvir muitas vozes para emitirmos o balanço, nesse que foi o nosso primeiro bazar vegano de atuação no centro da cidade de Floriano-polis. O “centrão” é um sonho que já estávamos querendo desde a nossa quinta pra sexta edição. Até então o evento tinha sido realizado numa associação do bairro na Lagoa da Conceição, que mesmo não sendo um local privado, nos limitava em uma série de fatores, como o do acesso a população socialmente sabotada, que é o motivo de nossa existência, as relações, para alguma relevância.

E ocorreu no Instituto Arco-Íris de Direitos Humanos, mesmo num dia com chuva, incapaz de afastar as pessoas.

O dia já começou com a aula de Paulo Nogueira sobre a invisibilidade preta em Florianópolis. Paulo trabalha nas ruas e conta a história da cidade pelo lado de quem sofre na pele, diferente das academias que sequestram e se apropriam dos saberes ancestrais.

Na sequência, a jornalista e ativista Márcia Cris, do Movimento AfroVegano, coorganizadora do bazar, veio de São Paulo para falar sobre o Nutricídio, que é uma política racista proposital para manutenção da vulnerabilidade periférica, pobre, preta, saqueada desde o início da colonização europeia que sequestrou o povo africano. Pesquise sobre diáspora!

Enquanto isso, simultaneamente na outra sala oficinas gratuitas foram ministradas como a cultura ancestral da Xilogravura por Sebastião, e o Teatro de Jornal com a Calorina que já trabalha com a POP-rua toda semana no instituto, dentre outras atividades…

Com seus mais de 60 anos, Zé Vivo vindo especialmente de Brasília, expôs sobre a relação da alimentação viva para com autonomia social, no processo de redução de danos inclusive na luta antimanicomial. Ex-dependente químico, “vive de vivo” há mais de 25 anos.

O peso chegou na hora em que Bruna contou sua vivência falando sobre as familiares correntes conectadas que nos prendem: o racismo, o machismo e o especismo, que são discriminações e explorações sofridas por seres que vivem em corpos de características e aparências diferentes do homem branco, inclusive dito vegano. Uma corrente colonialista onde não há consentimento pelos seres que sofrem. Fica a lição para que nossa atenção seja diária e permanente, de ver as atitudes estruturalmente naturalizadas.

Outra geração veio escurecer com suas experiências dos reflexos nas vidas negras sobre a Luta Antimanicomial, com a Enfermeira e Naturoterapeuta especializada em saúde da mulher, Valdirene junta a professora Vanda militante do MNU-SC, integrante do Fórum das Religiões de Matriz Africana e Movimento Negro Unificado SC.

E nas ruas, manifestação artística Antimanicomial, pela Verônica que nos procurou dias antes do evento, forte e inusitado pra quem tava à toa pelo bazar. Ela atuou entre a discotecagem do DJ Telinho, o som do Mensageiro do Asé, que teve break e tudo mais!

A População de Rua teve que intervir, pois um dia antes do bazar, a política colonial fascista de SC fechou com tapumes o acesso a marquises de ruas e no coreto da praça central de Floriano-polis. André Sheifer puxou a frase: “aí bazar vegano, acordem, estão nos excluindo novamente!”.

Máximo respeito a Capoeira Angola com o Grupo AfricaNaMente, que se improvisou achando um mágico espaço próximo a “Encruzilhada das Dádivas”, espaço para deixar e/ou pegar objetos sem monetização.

Como pode o evento “vegano” mais preto em plena capital mais fascista do país?

Tivemos almoço popular, com feijoada vegetariana (nada animal) por 10 reais, sem contar as mais de 70 refeições distribuídas pra quem tava trampando no evento ou que não tinha os 10 reais. Uma energia tão forte que resultou numa nova iniciativa independente anti-patrão, pós bazar, que se mantém na Travessa Ratcliff, diariamente com buffet antiespecista livre a 10 reais. Infelizmente ainda o único ponto em toda a ilha com essa política.

As rodas abriram espaço pra Oficina de Dança oferecida por Jermannye, pra soltar a alma.

Teve também Oficina de Agricultura Antiespecista com Alcir do Timbaê.

No escurecer o som orgânico da Bogona com o nosso amigo imigrante senegalês Kara Modou.

Seguido pelo Africatarina, grupo de resistência negra puxado pelo maestro Edinho, que semanalmente ensaia no Instituto Arco Iris. O axé do batuque trouxe a chuva e ainda mais gente!

Até chegar na apresentação de Negro Rudhy e cia! A noite é linda e é preta!

Foi uma honra ter a coletiva NEGA, grupo feminino negro estreando a sua apresentação em nosso evento!

Fechando a noite com Batalha das Mina que fez a sua última atuação aos sábados, agora sendo nas noites de sextas feiras na Av. Hercilio Luz! As manas fazem o que o estado empresarista não faz!

Devido a tanto volume de atividades, falhamos em muitas questões internas que servem de experiencia para melhorar, como por exemplo o lixo. Mesmo sem o nosso evento promover lixo, por agora ser um evento de rua, acaba atraindo muitos resíduos dos visitantes, e o nosso corpo de voluntariados não deu conta, fomos insuficientes praquela data. Coisas básicas e primárias como deixar o banheiro limpo imediatamente após o evento, e relacionamento para com os bares e trabalhadoras do instituto. A sobrecarga gera stress e nos cega, por todos esses oito meses lamentamos, só que uma consequência disso é que hoje estamos com mais gente que apareceu pra somar em tudo e melhorar na potência do evento, para estreitarmos o abismo entre os ideais e a realidade. Se antes tínhamos de uma a quatro pessoas pra mão na massa, agora temos oito. Quanto mais pessoas de atitude anônimas puderem somar melhor, sem palanques políticos ou interesses privados, nem ongs ou qualquer coisa do tipo.

Não há palavras para dizer o quanto foi relevante estar no Instituto Arco-Íris que já faz um trabalho único a quase 23 anos, praticamente sem recurso algum. Valeu Gabriel, Carolina, Denilson, Tatiana, Irma, Claudia, Aline, André… Mantemos o sonho de estarmos juntes pra somar forças.

Nossa chamada que tinha estampado um coração preto foi: Como pensar e agir sem excluir outras vidas?

Se você gostou, fique atenta(o), pois pela segunda semana de janeiro vamos lançar o 9° Bazar Vegano Floripa que ocorrerá sábado dia 29/2/2020! Tem muita novidade por vir!

EXPOSITORAS: FALAR COM NOSSA CURADORIA

No evento passado tivemos mais de 40 expositoras sem patrão (De ambulante até no máximo MEI). Não temos um fundo monetário para bancar o evento. São vocês comerciantes autônomas que viabilizam a parte cultural. Pessoas interessadas em expor é importante enviar email com número de seu celular/watts para contato + a sua descrição de contribuição monetária: [email protected]

Fonte: Bazar Vegano Floripa

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