Projeto da Prefeitura de Salvador (BA) destrói reserva ecológica no Rio Vermelho e revolta moradores

Projeto da Prefeitura de Salvador (BA) destrói reserva ecológica no Rio Vermelho e revolta moradores
Foto: Arquivo pessoal

Moradores do Rio Vermelho, em Salvador, estão inconformados com um projeto da prefeitura que está destruindo uma pequena reserva remanescente da Mata Atlântica no bairro. Localizada na esquina da Rua Carijós com a Oswaldo Cruz, a vegetação é refúgio de animais silvestres e está sendo desmatada sem razão aparente.

O projeto da Secretaria Municipal de Infraestrutura e Obras Públicas (Seinfra) surgiu após uma ação civil pública que pedia a contenção de uma encosta que colocava em risco um prédio à margem da Oswaldo Cruz. Ele se estendeu, porém, para a região que engloba a reserva ecológica.

A delimitação está prevista no mapa do Plano de Desenvolvimento Urbano (PDDU) como remanescente de Mata Atlântica. Para a intervenção, o espaço precisaria do licenciamento do Inema e da autorização de supressão de vegetação que, segundo os moradores, não teriam sido apresentadas. O manejo da fauna presente no ambiente também não teria sido feito.

“É uma área que tem um reconhecimento do estado, dada a importância ambiental dela. Tem picapau, gavião, outros tipos de aves, mais de 40 galinhas criadas ali, micos… uma série de animais naquele pequeno ecossistema”, afirma a moradora Carolina Rocha.

Por causa das irregularidades, Carolina vê o projeto como “ilegal”. “Uma série de coisas não foi contemplada. Os animais estão se evadindo e sendo atropelados”, diz. “Colocaram tapumes, impediram a nossa entrada, não conseguiram mais alimentar os animais”, lamenta.

“Todso mundo concorda que, na encosta, o trecho tem que ser feito, é segurança. Mas o restante, não”, explica a moradora. “Tem uma parte que, de acordo com o projeto, deveria ficar intocada e foi a primeira a ser desmatada. Agora pode ter o risco de deslizamento por causa disso. Temos medo que isso seja uma tática”, revela.

Visando impedir a extinção da área, um grupo de moradores criou a “SOS Reserva Carijós”. Eles se reuniram com o Ministério Público na segunda-feira (21) e solicitaram os estudos completos que fundamentam o projeto e que a prefeitura consulte a sociedade civil antes de prosseguir com a ação.

O grupo fez um abaixo-assinado para salvar a reserva, que já conta com mais de 1,7 mil assinaturas. Uma manifestação está prevista para acontecer no local neste sábado (26). “Estamos em vigília todos os dias no local, mas não conseguimos ver o que está sendo suprimdio, [a área] está totalmente tapada [por tapumes]”, afirma Carolina.

“É uma tristeza profunda. É a única área de Mata Atlântica que existe aqui. É de extremo carinho pela população, é cuidada. Tem até o santuário da ‘Mamusca’, que cuida das galinhas todos os dias. Todo o entorno cuida do lugar, dos animais, e está todo mundo indignado”, comenta a participante do grupo de protesto ao projeto.

Procurada, a Seinfra esclareceu “que a obra de contenção na Rua Oswaldo Cruz, no Rio Vermelho, foi autorizada por força do risco alto de deslizamento que o local apresenta para os moradores da região”. Segundo a nota, “para a realização da contenção – demanda antiga dos moradores e fruto de processo no Ministério Público da Bahia (MP-BA) – é necessária a retirada de parte da vegetação, no único sentido da preservação da vida das pessoas que residem e transitam pela localidade”.

A secretaria informou ainda que “o plano para manejo de fauna será concluído esta semana”. Além disso, diz que “recebeu representantes dos moradores nos últimos dias para esclarecimentos gerais quanto às dúvidas da comunidade”.

Por Adele Robichez

Fonte: Grupo Metrópole

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