Projeto resgata animais vítimas de maus-tratos e alimenta mais de 150 com comedouros em praças públicas de Petrolina, PE
Com a pandemia do novo coronavírus, os animais de rua estão enfrentando dificuldades para sobreviver. O fechamento do comércio e a redução de pessoas circulando nas ruas de Petrolina, no Sertão de Pernambuco, agravou ainda mais o cenário. Os bichinhos vagam pelas ruas da cidade noite e dia em busca de algo para comer.
Para aliviar a situação dos cachorros e gatos abandonados, o ‘Projeto Oxente’ lançou uma campanha de arrecadação de materiais para instalar comedouros e bebedouros em praças públicas. A iniciativa foi da comerciante e idealizadora do projeto, Márcia Borges, de 44 anos, que ajuda mais de 150 animais diariamente nos bairros Jardim Maravilha, Gercino Coelho, Orla, Areia Branca, Quati, João de Deus e Palmares em Juazeiro.
“Tenho uma moto e ela já viveu todas as emoções possíveis e impossíveis comigo. Saio todos os dias com a ração e vou colocando, independente que seja a minha rota ou não, onde encontro o animal, desço e boto”.
Com o projeto desde 2018, Márcia decidiu otimizar seu tempo e expandir a ideia que viu em outras cidades. Passou a instalar tubos de plástico com água e ração em vários bairros de Petrolina e Juazeiro, na Bahia. Os seguidores interessados se tornam padrinhos e madrinhas dos comedouros e passam a ser responsáveis em fazer a limpeza, abastecer, cuidar, vigiar e divulgar a iniciativa na vizinhança. “Foi uma ideia de multiplicar a questão de alimentar esses animais em estado de abandono”.
Ao ver as publicações da iniciativa nas redes sociais, o empresário, Alysson Cerqueira, de 20 anos, decidiu ser um dos padrinhos dos comedouros e bebedouros do projeto. “Sempre tive um carinho especial pelos animais, desde criança, sempre gostei. Com essa crise que a gente está passando e o pessoal dentro de casa, [os animais] ficam sozinhos, não tem ninguém por eles”.
Alysson se responsabilizou pelos comedouros de três bairros de Petrolina. O jovem sempre ajudou os animais de rua, mas passou a divulgar as ações para motivar outras pessoas a fazerem o mesmo. Ele costuma abastecer apenas uma vez ao dia. Algumas vezes, ao chegar nos locais, percebe que moradores do bairro já limparam o comedouro e colocaram mais ração e água.
“Seria bom as pessoas se conscientizarem e ajudarem, porque eles são seres vivos como a gente. Eles merecem comida, merecem um lar, merecem tudo. Por que a gente tem que dormir bem, de barriga cheia e eles não? Não pode”, destaca Alysson.
Ao longo dos últimos anos, Márcia precisou fazer o resgate de diversos animais vítimas de maus tratos na região. Sem condições para arcar com todos os gastos envolvidos nesse tipo de situação, ela começou a realizar campanhas para arrecadar dinheiro e custear os tratamentos. Em 2019, mais de 190 animais foram castrados pelo pelo projeto. “Eu sempre digo que meus voluntários são meus seguidores, eles me doam ração, remédio e pagam as contas nas clínicas. Nosso projeto não tem conta pessoal, todas as doações são feitas diretamente nas contas dos veterinários parceiros do projeto”, destaca a protetora dos animais.
Recentemente, a comerciante precisou fazer um dos resgastes mais tristes e dramáticos da sua vida. Em Juazeiro, na Bahia, ela recebeu o chamado de moradores porque havia um gata machucada e presa em uma porta de rolo há dias. As pessoas já haviam tentado tirar o animal de lá, mas, a gata não saía. Com a ajuda de um rapaz, Márcia conseguiu. Infelizmente, precisou lidar com o fato de que alguém havia furado os dois olhos da gatinha que hoje se chama, Ray.
“Ela vive comigo, cuidei durante todo o pós-cirúrgico. Os olhos precisaram ser retirados e ela tem um problema hepático também pela quantidade de dias que ficou sem se alimentar. É incrível como ela é carinhosa, mesmo tendo sofrido a agressão do ser humano, ela só consegue transmitir amor”, conta emocionada.
Márcia atualmente cria 20 animais que foram vítimas de agressões ou maus tratos e que após os cuidados não foram adotados por ninguém. O cachorrinho Jack, é um dos que mais fazem sucesso na página do projeto. Os seguidores fizeram uma campanha na internet para que ele não fosse adotado e a comerciante ficasse com ele. Jack foi abandonado porque estava com sarna e por não saber viver na rua, acabou sendo atropelado. Com isso, um dos olhos precisou ser retirado. Além dele, Márcia também cria Dominique, outra gatinha que foi vítima da maldade humana com um tiro no olho enquanto estava grávida.
A comerciante não consegue atender todos os pedidos de resgate, mas se desdobra nas situações onde o animal está entre a vida e a morte. “É um sentimento que já enche meus olhos de lágrimas, sabe? Porque eu fico tentando entender, o que passa pela cabeça de um ser humano ao sentir prazer em maltratar um ser indefeso?”, lamenta. Diante de tantos casos de maus tratos e abandono, a comerciante fez um pedido a população da região.
“As pessoas que pensam em abandonar um animal, se coloquem no lugar dele. Que olhem nos olhos dele e vejam o quanto ele te ama, o quanto eles são fieis a você. Que você se coloque no lugar dele por um minuto e se imagine sendo abandonado, sofrer maus tratos e morrer”.
As pessoas interessadas em ajudar o projeto e fazer a doação de ração, remédios ou produtos de limpeza, podem entrar em contato pelo número (87)9 9606-4244. O material dos bebedouros e comedouros custa R$ 48. Todas as doações são feitas diretamente nas contas dos veterinários e parceiros do projeto.
Por Pedro Miranda, estagiário, com supervisão de Amanda Lima
Fonte: G1