Protetores de Montes Claros (MG) fazem campanha para levar cachorro resgatado com lesões graves para BH
Gabriela Meireles seguia em direção à casa do namorado Mateus da Silva, quando se deparou com um cachorro deitado embaixo de um cobertor. O casal, que mora em Montes Claros (MG), viu e resgatou o animal que estava ferido em um lote vago, que é usado irregularmente para o descarte de entulho. O bichinho, apelidado de Bidu, ficou por semanas internado em uma clínica na cidade, mas agora precisa passar por procedimentos que são realizados somente em Belo Horizonte. Para isso, uma campanha está sendo feita na internet.
“Encontramos ele no dia 16 de julho, estava sangrando pela boca, não se mexia, chorava de dor e não conseguia beber nem água. Inicialmente, meu namorado chegou a pensar que ele pudesse estar morto, mas quando vimos que estava vivo, a gente pensava, temos que ajudar esse bichinho”, lembra.
Como Gabriela e Mateus estão desempregados, eles se mobilizaram para conseguir arrecadar dinheiro para fazer o resgate do cachorro. “Percebemos que ele tinha que ser retirado do local por pessoas especializadas, já que sequer se movimentava. Até conseguirmos ter o valor necessário, improvisamos umas telhas para, pelo menos, protegê-lo do sol”, completa. Depois, o animal foi resgatado por profissionais acostumados a lidar com esse tipo de situação.
Após o resgate, o cão foi levado para uma clínica, onde permaneceu por semanas. Nesse local, ele ganhou o nome de Bidu. “O tratamento ficou por R$ 3 mil, eu ligava para os conhecidos e divulgava nas redes sociais, teve noites que dormi sem saber se ia ter o dinheiro na clínica para o dia seguinte, mas graças à solidariedade das pessoas, o tratamento foi totalmente pago”, fala Gabriela.
Trauma grave
O médico veterinário Raul Dornas, foi um dos especialistas que atendeu Bidu. Ele explica que o cachorro teve um trauma grave, que pode ter sido causado por agressões ou um acidente, por exemplo. Não há confirmação de que como o animal ficou ferido.
“O pessoal que resgatou Bidu me procurou com um exame radiográfico, que permitiu identificar que ele tem uma lesão na coluna. Mas o raio-x não permite revelar todo o quadro clínico, que segue indefinido e precisa de uma tomografia ou ressonância. Já tratei de várias lesões, mas a do Bidu afetou a primeira vértebra, o que é uma condição incomum”, explica.
Dornas fala ainda que esses exames não são feitos em Montes Claros, o local mais próximo onde poderiam ser realizados é Belo Horizonte. Os equipamentos usados na tomografia ou ressonância dos bichinhos funcionam como os utilizados em humanos, mas não são comuns nas clínicas porque tem um custo alto, que chega a R$ 1 milhão. Na capital mineira, o veterinário diz ter conhecimento de apenas dois locais que disponibilizam destes exames.
Apesar do animalzinho estar com os movimentos do corpo restritos, ele mexe o pescoço para cima e para baixo. “Sem a extensão total da lesão e visando dar mais qualidade de vida para ele, colocamos uma bandagem acolchoada com muito algodão no pescoço do Bidu, até que o quadro clínico dele seja todo definido”, diz Raul Dornas.
Lar temporário
Antes de receber alta da clínica, Bidu já tinha um lar temporário para ser levado; ele está na casa de Raquel Carvalho, que cuida de bichinhos que são resgatados por protetores, até que eles sejam adotados, há cinco meses. A “mãe temporária” viu a história do cachorro pelas redes sociais e entrou em contato com Gabriela. Ela é quem troca a sonda, dá os quatro remédios que Bidu usa para dor e anemia, e acorda durante várias vezes na madrugada para ver se ele está bem.
“Descobri meu amor pelos bichos há poucos meses, depois de ganhar uma dálmata, que acabou morrendo, e adotar a Jujuba, que estava com uma protetora até que fosse adotada”, conta Raquel Carvalho, que atualmente cuida de Pretinho, Loba e João.
Os pets cuidados por Raquel dividem o espaço da casa com os filhos e o marido dela. “Quando um deles é adotado é um chororô danado, eles ficam perguntando porque eu deixei o bichinho ir embora. Mas o trabalho é feito com esse objetivo, de que alguém que possa adotar e dar amor e atenção para eles”, diz.
Quem quiser ajudar
Uma vaquinha online foi feita para ajudar nas despesas com Bidu. Gabriela Meireles explica que o valor definido, de R$ 7 mil, é para custear os exames e uma possível cirurgia. Dois telefones também estão sendo disponibilizados (38) 9 8811-2641e o (38) 9 9978-4741
“Não sabemos se uma cirurgia será necessária, mas queremos leva-lo para BH já com o recurso para fazer tudo. Estamos prestando contas dos gastos e, se sobrar dinheiro, iremos destinar às instituições que cuidam de bichinhos”, explica.
“As pessoas já se sensibilizam com a causa animal há muito tempo, e estão criando consciência para um processo mais ativo. Olhar um cachorro na rua e falar que ele está sofrendo é simples, é preciso se empenhar mais em ajudar, cada um pode fazer sua parte de acordo com a realidade que vive”, ressalta o veterinário Raul Dornas.
Por Michelly Oda, Grande Minas
Fonte: G1