Protetores fazem ato após suspeito de arrastar e matar cadela em Betim (MG) ser solto

Revoltadas com a decisão da Justiça de soltar o idoso de 72 anos, preso na sexta-feira (18), suspeito de ter matado uma cadela após tê-la arrastado amarrada por uma corda em um carro em Betim, na região metropolitana de Belo Horizonte, protetoras dos animais fizeram um manifesto na manhã deste sábado (19), no bairro Angola, na região Central da cidade. Com cartazes nas mãos, elas pediram “justiça” pela morte da Fila chamada Bruna.
Uma das protetoras que participou do ato foi Zilda Cabral, que é de Betim. “Nós queremos justiça, a prisão para quem assassinou a cadelinha”, disparou.
Outra protetora Leilane Xuxa, de Contagem, reivindicou a criação de uma delegacia especializada em crimes contra animais em Minas Gerais. “Precisamos ser a voz dos bichos, porque eles não falam. Então, temos que falar por eles, nos unir para protegê-los”, argumentou.
Dayse de Oliveira Guimarães salientou que, se a população não se posicionar sobre o caso, ele pode cair no esquecimento e se tornar mais um “Sansão” – o cachorro da raça pitbull teve suas patas traseiras arrancadas por agressores com o uso de um facão e inspirou o deputado federal Fred Costa (Patriota) a criar a Lei Sansão, que punir com mais rigor quem pratica maus-tratos contra os animais.
“Queremos justiça pela cadelinha que foi arrastada. O ser humano precisa aprender a ter respeito. Todos nós somos criatura de Deus e, então, todos os mesmos direitos. Os animais têm o mesmo direito de viver como nós”, defendeu Dayse.
Protetora dos animais em Igarapé, Eunice Heitznann afirmou que “a cadelinha Bruna foi assassinada violentamente por um indivíduo que não tem coração”. “Somos todos criatura de Deus e temos todos direito a vida. Vou até o fim procurar por justiça”, reforçou.
Já a protetora Débora Matos, também de Betim, convidou a população e os protetores de região metropolitana para participar de mais uma manifestação por justiça pela morta da cadelinha Bruna. O ato vai acontecer no próximo sábado (26), às 10h, na praça Tiradentes, na região Central de Betim. “Somos protetores, não vamos nos calar. Queremos justiça”, afirmou.
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Soltura do suspeito
A decisão foi expedida pelo juiz Leonardo Cohen Prado, da 3ª Vara Criminal da cidade. De acordo com o processo, a defesa requereu a concessão de liberdade provisória, alegando que o homem é “pessoa com mais de 72 anos de idade e que foi um acidente por falta de atenção, não sendo tal conduta tipificada como dolosa”.
Ao analisar o caso, o magistrado observou ainda que havia passado o prazo do flagrante, pois esta ocorre “no momento em que o flagrado está cometendo a infração ou tenha acabado de cometê-la, tenha sido perseguido ou encontrado logo depois”. Prado ainda complementa que o investigado não foi preso em nenhuma dessas circunstâncias
Diante dos fatos, o juiz expediu o alvará de soltura, determinando que o suspeito seja solto imediatamente.
A reportagem entrou em contato com a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) para saber se o homem já estava em liberdade. Em resposta por email, a pasta informou, às 17h30, que o homem ainda permanecia preso no Centro de Remanejamento do Sistema Prisional (Ceresp) de Betim.
Relembre o caso
O vídeo que mostra a cadela sendo arrastada viralizou na internet e ajudou equipes da Polícia Militar, da Guarda Municipal e da Superintendência de Proteção Animal (Sepa) de Betim a localizarem a residência do idoso, no bairro Vianópolis. A reportagem de O Tempo Betim acompanhou os trabalhos.
O homem chegou a ser levado até a sede da Guarda Municipal para ser ouvido e retornou acompanhado das equipes para mostrar o local onde afirmou ter enterrado a cadela. No terreno onde vive, foram encontrados um cachorro e dois filhotes da raça fila – a cadela também era dessa raça.
Além deles, dois outros cães, sem raça definida, e um porco estavam no lote. Segundo moradores, o homem vendia filhotes dessa raça. A Sepa recolheu todos os animais, que estariam com sinais de maus-tratos.
No local, segundo a Guarda Municipal, foram encontrados uma corda, o veículo e uma marreta, todos sujos de sangue. No carro, havia um porrete com marcas de sangue. “Tão logo a Guarda tomou ciência do ocorrido, começamos as diligências. Aqui, próximo ao condomínio Vale da Serra, encontramos o carro do autor e permanecemos na propriedade fazendo buscas para ver se o encontrávamos”, contou o guarda municipal Leonardo Gonçalves, que atuou na ocorrência.
“Ele chegou depois, em outro veículo. Ele contou pra gente o que tinha acontecido, e, de imediato, o colocamos na viatura e o levamos para a delegacia para ele dar a versão [DELE] para o delegado”, relatou o guarda.
À polícia o homem disse que a cadela era muito apegada a ele e teria corrido atrás do carro no momento em que ele saía. Ainda segundo o relato, a corda em que ela estava presa teria se enroscado no reboque, e ele não percebeu.
Preso por homicídio
O idoso já foi condenado há cinco anos de prisão por homicídio. Segundo uma fonte da polícia, a sentença foi em regime semiaberto, e o mandado foi cumprido contra ele em 2010. Um ano depois, o idoso obteve um alvará de soltura.
A reportagem de O Tempo Betim tentou descobrir detalhes sobre o crime, no entanto, como na época as ocorrências eram manuscritas e não havia o sistema informatizado de inquéritos, não foi possível levantar as informações sobre o caso.
Por Lisley Alvarenga, Daniele Marzano, Iêva Tatiana e Sara Lira
Fonte: O Tempo