Regiões da Catalunha se negam a proibir os correbous
Enquanto em localidades de Girona e Barcelona é abolida a maioria das festas com animais, Tarragona mantêm o pulso para perpetuá-las.
Sem que a resolução aprovada recentemente pelo parlamento que apela ao governo para proibir os correbous tenha conseguido apaziguar o debate em torno da polêmica festa com animais, amplificado após o incidente de Vidreres (Girona), a organização de consultas populares para decidir seu futuro continua, gota a gota, e se estende pelo território catalão.
A última dessas em Santpedor (Barcelona), localidade que há pouco tempo decidiu colocar um fim à polêmica festa depois de uma votação onde o “não ao correbous” conseguiu se impor com uma margem de somente 46 votos. “Finalmente, Santpedor decidiu ser um povo anti touradas depois de 38 anos e de que alguns vizinhos tenham proibido essa festa”, explica o membro da Plataforma Animalista Santpedor Mercè Balza.
A decisão não agradou o grupo favorável à continuidade dos correbous, que não somente advertiram que seu fim afetaria outros eventos relacionados, mas também ameaçaram o prefeito do município, Xavier Codina (ERC), e sua equipe do governo quando se apresentaram no local onde era feita a recontagem dos votos. “O povo decidiu e agora temos que aplicar o resultado“, expressou Codina, que ainda não se pronunciou sobre uma alternativa à festa com animais que freie a crescente divisão surgida entre os municípios vizinhos, como por exemplo fez o município de Roses (Girona), que em 2016 eliminava os correbous e a polêmica perseguição de patos no mar, substituindo-os pela instalação de um tobogã gigante.
Outras regiões catalãs tomaram iniciativas similares nos últimos anos, como Torroella de Montgrí (Girona) que, em 2017 e depois de 37 anos de celebração, proibiu os correbous e os substituiu com um baile popular feito pela entidade que os organizava. Ou como Vilanova i la Geltrú e Badalona (Barcelona), que em 2013 e em 2015 deixaram para trás as festas taurinas para substituí-las por outras atividades.
“Em Olot (Girona), o povo disse não aos correbous na consulta popular de 2016 e a prefeitura decidiu substituí-los por outro evento. Simplesmente pararam de fazer e, pouco a pouco, caiu no esquecimento, sem que tenha causado conflito”, acrescenta o prefeito de Olot, Josep Berga (Junts per Catalunya).
Incidente em Vidreres
Enquanto isso, em Vidreres, onde os correbous (os últimos que se celebram em Girona) ainda devem passar por votação popular depois do que aconteceu em setembro, quando um touro feriu 19 pessoas e colocou a tradição no olho do furacão, a porta-voz do Grupo de Vidreres de Defesa Animal, Meritxell Arias, opina que as medidas tomadas até agora pelos municípios citados, assim como o resultado de Santpedor, “não somente ajudarão as pessoas indecisas na votação a ser feita no município”, mas também favorecem “a decisão que o governo tem que tomar em relação a seguir ou não com tradições onde há maus-tratos a animais e demonstram que a sociedade está evoluindo, que as pessoas contrárias a espetáculos onde há sofrimento animal querem dar sua opinião”.
Entretanto, e mais além de Cardona, o último reduto barcelonês que não somente mantém a festa, mas também se nega a submetê-lo à votação, nem todos os municípios catalães estão dispostos a eliminar de suas grandes festas os espetáculos taurinos. Especialmente em Terres de l’Ebre (Tarragona), onde representantes políticos e entidades continuam se prendendo ao redor da tradição para evitar que as consultas populares se acerquem de suas praças de touros.
A prova disso não é somente o fato de que já em 2010 pressionaram o governo para que deixasse os correbous fora da lei que proibia as touradas em Catalunha, aprovada depois da ILP levada pela Plataforma Prou! ao parlamento. Acontece que, depois da polêmica surgida pelo incidente de Vidreres e a consequente implicação do parlamento, eles uniram forças para manter viva uma festa que atualmente é celebrada até 400 vezes ao ano entre 27 municípios das comarcas do sudoeste de Tarragona. Desde a Associació de Criadors de Braus de Terres de l’Ebre ou a Agrupació de Penyes i Comissions Taurines de les Terres de l’Ebre, até municípios os quais se apressaram a aprovar moções em defesa dos correbous, e inclusive a Federación de ERC em Terres de l’Ebre. Todos juntos advertem, segundo um estudo da Universitat Rovira i Virgili de Tarragona, que a proibição dos correbous suporia uma perda de 4,2 milhões de euros para o território e, portanto, pedindo “respeito aos cidadãos das Terres l’Ebre, à sua cultura e às suas tradições”, como sinalizou há alguns dias o presidente dos republicanos da federação de Ebro, Alfons Montserrat.
Entretanto, o lobby taurino não conseguirá tão fácil como em 2010, já que, além da pressão social de outras zonas da Catalunha, também enfrentam agora um inimigo surgido em seu próprio território, a plataforma Tots Som Poble de Amposta que, sem medo do estigma que supõe enfrentar “de dentro” os partidários dos correbous, tem o objetivo de colocar um fim “ao aumento progressivo de atos taurinos” e ao consequente “rendimento eleitoral” que eles supõem.
“O setor de touradas está se apropriando do nome do território das Terres de l’Ebre, dando a entender que é um sinal de identidade. Você é de Terres de l’Ebre, você é taurino. E isso é uma grande falsidade. É só citar o fato que, dos 59 povos das comarcas das Terres de l’Ebre, somente há correbous em 27, o que representa 45%”, sinalizam desde Tots Som Poble. “Por isso, o que queremos fazem é aumentar a consciência e o espírito crítico entre todos os cidadãos e muito especialmente entre nossos governantes. Muitos desses povos das comarcas das Terres de l’Ebre, onde ocorrem os espetáculos com touros, são governados por forças que se chamam progressistas e é uma grande incongruência que se apropriem dos postulados dos clubes taurinos”, acrescentam.
Por Andrés Nef / Tradução Alice Wehrle Gomide
Fonte: El Mundo