Reino Unido anuncia proibição das importações de peles da China devido às alegações de maus-tratos a animais
Os ativistas pedem ao governo do Reino Unido que proíba as importações de peles de animais após uma investigação parecer mostrar maus-tratos generalizados de animais e o desrespeito aos protocolos de saúde da Covid-19 em mais de uma dúzia de fazendas de peles na China.
Vídeos e fotos de 19 fazendas visitadas no norte e nordeste da China em novembro e dezembro do ano passado parecem mostrar raposas e cães-guaxinins colocados firmemente em gaiolas insalubres e animais serem eletrocutados de maneira que prolongam sua dor antes da morte, muitas vezes na frente de outros que aguardam o mesmo destino.
Os investigadores da Humane Society International (HSI) também documentaram fazendas que vendiam carcaças para restaurantes, após violarem as regras da China que proíbem o consumo de carne de animais selvagens. Essas proibições foram implementadas no ano passado devido às suspeitas de que a pandemia do coronavírus tenha surgido do comércio de animais selvagens na cidade de Wuhan.
As operações de reprodução investigadas pareciam desrespeitar os protocolos básicos de biossegurança relacionados à prevenção da propagação da Covid de animais para humanos e vice-versa, sem nenhuma das estações de desinfecção exigidas e sem verificações ou procedimentos de segurança para visitantes que entram e saem das fazendas.
A China está a caminho de se tornar o maior produtor de pele de vison do mundo após a recente suspensão da produção da Dinamarca acerca dos surtos de Covid-19 e potenciais mutações provenientes de sua população de visons, o que resultou no abate de mais de 15 milhões de animais no país.
Desde abril de 2020, surtos de Covid ocorreram em mais de 400 fazendas de visons em toda a Europa, com outros surtos em fazendas na América do Norte. As autoridades chinesas não relataram nenhum surto nas suas fazendas de visons.
“Nossos investigadores testemunharam uma falta quase total de controle de doenças e medidas de proteção à saúde em fazendas de peles, o que é extremamente preocupante, considerando que visons, cães-guaxinins e raposas são susceptíveis a contrair o coronavírus”, disse a diretora executiva da HSI Claire Bass.
O mais preocupante era o uso de um dispositivo de eletrocussão destinado a abater animais rapidamente, se usado de maneira adequada, com a aplicação de um choque diretamente no cérebro. Em vez disso, imagens de vídeo capturadas pelo HSI pareciam mostrar animais serem espetados repetida e aleatoriamente com a lança de ponta dupla, o que os paralisa, mas não os mata de imediato.
“Os animais deste vídeo são submetidos a uma eletrocussão violenta e caótica no corpo e não no cérebro, o que significa que é muito provável que tenham vivenciado vários minutos de dor física extrema e sofrimento, como sintomas de ataque cardíaco”, disse o consultor veterinário do HSI, Prof Alastair MacMillan.
A China criou mais de 14 milhões de raposas, 13,5 milhões de cães-guaxinins e 11,6 milhões de visons em 2019 para fornecer peles para exportação, de acordo com a HSI.
Tanto a HSI quanto a instituição de bem-estar animal britânica RSPCA querem que o Reino Unido proíba as importações, depois que o país suspendeu a produção de peles por motivos de crueldade há duas décadas. O Reino Unido importou mais de 55 milhões de libras em peles em 2019, incluindo 5,3 milhões de libras da China, de acordo com dados da agência governamental HM Revenue & Customs.
“É difícil dizer se as peles dos animais nessas fazendas em particular são vendidas diretamente para o Reino Unido”, disse Wendy Higgins, diretora de mídia internacional da HSI, ao Guardian, já que há pouca transparência ou rastreabilidade na indústria.
“Já perguntamos aos fazendeiros muitas vezes e eles nunca sabem”, disse ela. “Suas peles são enviadas para mercados de peles locais, onde atacadistas e distribuidores as compram, ou enviadas para grandes casas de leilão de peles, onde empresas de moda chinesas que fabricam e enviam para o exterior as comprarão.”
Em resposta às perguntas do Guardian, um porta-voz da British Fur Trade Association disse que a HSI e outros grupos que pedem a proibição não estabeleceram evidências de que as fazendas apresentadas em suas investigações forneceram peles que acabaram no Reino Unido.
“Não há nenhuma evidência ou prova que ligue essas fazendas à entrada de peles na cadeia de abastecimento do Reino Unido”, disse o porta-voz, e citou um caso anterior em que a associação encaminhou o Daily Mirror ao regulador de imprensa do Reino Unido por relatar investigações semelhantes feitas pelo HSI sem declarar que nenhum link direto tenha sido estabelecido. Sustentou-se que o artigo do Mirror sugeriu erroneamente que a fazenda fornecia peles para lojas britânicas, e que não havia evidências que sugerissem que fosse esse o caso.
A associação disse que a proibição não teria impacto sobre o bem-estar animal, custaria milhares de empregos e empurraria o comércio clandestino para canais ilícitos não tributados e não regulamentados.
Tradução de Aline Amorim
Fonte: Focusing on Wildlife
Nota do Olhar Animal: Chama à atenção a hipocrisia de considerar aceitável o abate de animais se estes forem “bem tratados” durante seu período de vida, sabendo que em seguida serão mortos e terão destruídos o que lhes é mais valioso, que é suas vidas. Não é “ético”, no sentido de moralmente correto, tirar a vida de seres que não querem morrer, não é certo violar os interesses mais básicos destes seres vulneráveis. A forma como são maltratados nas “linhas de produção” da indústria da morte merece repúdio, mas é apenas um agravante em relação à injustiça e violência maiores, consumadas com o abate.