Reprodução descontrolada de animais de rua faz crescer casos de abandono em Campo Grande, MS

Reprodução descontrolada de animais de rua faz crescer casos de abandono em Campo Grande, MS
Animal SRD na rua (Foto: Marcos Ermínio, Jornal Midiamax, Arquivo)

Talvez você já tenha escutado o comentário: em cada esquina tem um cachorro caramelo. Afinal, vira-latas são os preferidos pelos brasileiros, como aponta o PetCenso de 2021. Na mesma medida em que os cãezinhos são a maioria em Campo Grande, os índices de abandono para cães sem raça definida são altos, e correspondem à falta de amparo e assistencialismo.

São 7 horas da manhã, quando Teresa Bandeira, da ONG Pedacinho do Céu, ouve barulhos no portão de casa e percebe 19 filhotes abandonados no portão. Criminosos descobrem endereço para se aproveitar das condições de afeto e manutenção de abrigos.

“Achei que eram 18, mas tinha um debaixo dos panos. O abandono é muito frequente, por isso nosso endereço é oculto, isso fazia com que a gente tivesse um pouco de paz, mesmo assim abandonavam nas redondezas. As pessoas descartam para se ver livre do problema”, lamenta.

É impossível percorrer qualquer bairro da cidade sem encontrar, sequer, um cachorro solto. São incontáveis os números de resgates em oito anos de trabalho de Greice Maciel como protetora independente. Ela cita a importância da castração, questionando que o número de animais resgatados por protetores é maior do que as castrações gratuitas cedidas por senhas pelo poder público.

Gastos mensais

Por isso, gasta mais do que pode para ajudar animais. Só nesse ano já foram gastos R$ 10 mil com o canil em casa, sendo obrigada a reduzir os resgates e custeio de ajudas paliativas. “Mas eu já gastei muito mais. Fora os medicamentos, porque todos fazem algum tipo de tratamento, a maioria tem leishmaniose. De ração são quase R$ 500 por mês”.

Clínicas particulares cobram, em média, de R$ 350 a R$ 500 para cadelas e de R$ 300 a R$ 600 para machos, sem contar a variação conforme o peso. Ou seja, é quase impossível para uma ONG arcar com os gastos de resgates constantes.

“Recebemos um suporte longe de ser suficiente, porque não é política pública, que precisamos permanentemente, é um assistencialismo. O abandono na casa da Tereza mostra isso, de que a castração não atende a quantidade necessária para frear a procriação. Campo Grande poderia ser referência para projetos de políticas públicas”.

Reprodução desordenada pode virar crime

Tramita na Câmara dos Vereadores o Projeto que altera a Lei Complementar 392/2020 e que torna a reprodução desordenada de animais uma forma de maus-tratos para tutores e responsáveis por cães e gatos. A proposta tem como justificativa que o “abandono de animais tem sido constante na capital e tem gerado problemas para a ecologia, economia e, principalmente, para a saúde pública”.

Assim, inclui no artigo 1º que “permitir a reprodução desordenada de animais” será considerado maus-tratos. A proposta foi protocolada na Câmara de Campo Grande, pelo vereador André Luis (Rede).

Castrações gratuitas

Segundo a Sesau (Secretaria Municipal de Saúde), de 1º de janeiro a 30 de setembro, foram castrados 1.146 cães e 4.596 gatos pelo CCZ (Centro de Controle de Zoonoses). As castrações ocorrem dentro da rotina do órgão, animais para adoção, em ações extramuro com o Castramóvel e por agendamento online, este exclusivo para felinos.

O órgão oferta mensalmente 600 vagas para castração de felinos e realiza uma média de 30 a 40 castrações de cães com o Castramóvel por final de semana. Não há como estimar a quantidade de animais que ainda deverão ser castrados nos próximos meses, considerando que pode haver diferença em relação à oferta de vagas e à procura.

Fatos inéditos para a Capital, neste ano foram implantados a segurança e o monitoramento de 187 cães e gatos comunitários. São animais que não têm um dono específico, mas recebem cuidados de uma comunidade.

A medida garante a identificação do animal, que não é necessariamente de rua, mas também não possui apenas um tutor. Ele recebe microchipagem, castração, vacinação antirrábica, atendimento e acompanhamento clínico veterinário e marcação na orelha esquerda dos gatos. Já são 187 pets que passaram a ter mais qualidade de vida a partir do projeto.

O Decreto nº 15.147 regulamenta a operacionalização do Programa Animal Comunitário, conforme disposto na Lei Complementar nº 395, de 1º de setembro de 2020. Os interessados em participar e realizar o cadastro deverão seguir algumas etapas, que são eliminatórias.

Confira o que fazer para a castração gratuita

  • Requerimento preenchido com todas as informações;
  • Entrega de Documentos Pessoais;
  • Triagem do(s) animal(is), dos tutores e do ambiente;
  • Encaminhamento do(s) animal(is) para procedimentos que os habilitem a participar do programa;
  • Capacitação dos Tutores;
  • Efetivação do Cadastro;
  • Adoção Comunitária.

O cadastro pode ser feito pessoalmente na Subea (Subsecretaria do Bem-Estar Animal), com agendamento prévio por meio do telefone 2020-1397. E também através de um formulário disponível, que deve ser preenchido e enviado para o e-mail [email protected]. Clique aqui para conferir o regulamento.

Por Karina Campos

Fonte: Mídiamax