Será que um dia vamos ver a luta abolicionista animalista alcançar suas metas?

Por Sônia T. Felipe 

Já estou na luta há mais de vinte anos, desde que li pela primeira vez o livro Ética Prática, de Peter Singer, em 1989, ainda na Alemanha, ao final do meu doutorado em Filosofia Moral e em Teoria Política. A luta abolicionista animalista foi iniciada no Brasil a partir do momento em que os conceitos éticos animalistas de Peter Singer, Tom Regan, Gary Francione, Richard Ryder, Andrew Linzey, Humphry Primatt, que nunca haviam sido pensados aqui, começaram a ser expostos e discutidos nos seminários acadêmicos, palestras, conferência e textos postados em revistas online.

É fato que, tendo nascido no meio da década de 50, também já gastei com certeza dois terços do meu prazo de validade aqui neste planeta. Então, gosto de pensar que, mesmo que os outros ainda não parem de torturar e de explorar os animais no tempo em que eu ainda estou aqui, já valeu ter tirado a minha biografia do eixo onívoro. Gosto de pensar na frase de Sartre: não importa o que fizeram com a tua consciência enquanto não tinhas condições de perceber o que faziam contigo, o que importa é o que farás dela a partir do momento em que te dás conta do quanto te causaram danos.

Com a decisão de desassinar o contrato com a dieta animalizada imposta a todos nos últimos 50 anos, tornando-me vegana, poupei milhares de animais da morte e do sofrimento. E, em cada um desses 15 anos nos quais só ingiro alimento de origem vegetal, só por não consumir leite e laticínios, já deixei de dar cabo a oito toneladas de grãos, cereais e forragens e uns 30 mil litros de água potável que teriam sido dados às vacas para secretarem o leite que eu teria consumido nesses anos e não mais consumi. O que importa é não assinar mais esse contrato de matança e escravização dos animais.

O resto do mundo terá que responder pelo sofrimento imposto aos animais mortos para virar comida. Cada pessoa tem suas toneladas e litros de responsabilidade pela devastação ambiental e da própria saúde, em consequência da dieta animalizada que insiste em manter. Eu respondo pela minha biografia, para que no dia da minha morte eu não tenha que arrastar para o juízo final essas toneladas de comida e água, junto com a montanha de excrementos que eu teria feito acumular sobre o planeta e de cadáveres de animais que eu teria devastado, caso houvesse insistido em manter uma dieta que me foi imposta quando nasci, mas que reconheci, por todos os estudos que fiz, não ser uma dieta digna de sacralização.
Que todos tenham vontade de tomar a mesma decisão. Enquanto não o fizerem, carregam o peso da violência que cometem contra os animais, contra o planeta e contra o próprio organismo. Comer animais e seus derivados é violência demais. Não nascemos para isso. Fomos condicionados a isso.


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