Startup acaba de angariar US$ 314 milhões para tornar a seda animal obsoleta

Startup acaba de angariar US$ 314 milhões para tornar a seda animal obsoleta

A seda feita a partir da morte de larvas pode em breve se tornar obsoleta graças à startup de biofabricação japonesa Spiber, que recentemente angariou 34,4 bilhões de ienes (aproximadamente US$ 314 milhões) com dois investimentos simultâneos. Fundada em 2007, a startup criou o que chama de “Brewed Protein” (proteína fabricada), uma plataforma que pode ser aplicada para criar produtos livres de animais, de base biológica e biodegradáveis que se aproximam de lã, seda, couro e/ou outros materiais à base de petróleo por meio de fermentação microbiana e sem necessidade de torturar animais ou agredir o meio ambiente.

O investimento de US$ 314 milhões incluiu recursos do fundo público-privado local Cool Japan Fund e da empresa de investimento global Carlyle. A empresa usará seu novo financiamento para industrializar seus materiais livres de animais com o objetivo de se tornar um líder no mercado global de materiais sustentáveis de bioengenharia.

Startup acaba de angariar US$ 314 milhões para tornar a seda animal obsoleta

“Na Carlyle, o ASG (fatores ambientais, sociais e de governança) está totalmente integrado em nossos processos de investimento e criação de valor, à medida que buscamos otimizar os resultados de sustentabilidade de cada uma das empresas do nosso portfólio”, disse o diretor administrativo da Carlyle, Yusuke Watanabe. “A missão e a filosofia da Spiber correspondem à visão da Carlyle de fornecer soluções que criam valor e impacto sustentáveis de longo prazo, como em nossos investimentos na Jeanologia (uma startup têxtil com foco ecológico na Espanha) e na Beautycounter (uma marca de beleza americana). Estamos honrados que a Spiber escolheu Carlyle como seu investidor principal”.

A Spiber iniciará as operações em suas instalações na Tailândia este ano, e abrirá uma nova planta de produção com sede nos Estados Unidos em Iowa, em parceria com a gigante agrícola ADM, que deverá se tornar operacional em 2023. Agora avaliada em 135 bilhões de ienes (US$ 1,2 bilhão), a Spiber planeja fazer sua oferta pública inicial (OPI) nos próximos anos.

Por que seda vegana?

A seda é tipicamente derivada de bichos-da-seda que fazem seus casulos com um material que é então transformado em tecido caro. Para fazer seda, os bichos-da-seda são gaseados ou fervidos vivos para removê-los de seus casulos prematuramente. Além da crueldade contra os animais, o trabalho infantil continua a ser um grande problema na indústria da seda. A produção de seda também carrega uma grande pegada ambiental de acordo com a ferramenta de avaliação Higg Index, pois requer uma grande quantidade de água em cada etapa.

Startup acaba de angariar US$ 314 milhões para tornar a seda animal obsoleta

Embora a seda seja normalmente feita ao se matar bichos-da-seda (2.500 dos quais são necessários para fazer um quilo do material), a seda também pode ser feita de aranhas, mas os insetos são difíceis de se explorar, pois canibalizam suas teias quando são forçados a viver muito próximos uns dos outros.

A tecnologia da Spiber produz seda luxuosa sem a necessidade de explorar insetos, crianças ou o meio ambiente. Antes de angariar seu investimento de US$ 314 milhões, a Spiber trabalhou com a marca de agasalhos The North Face para criar uma parca forrada com sua seda inovadora.

Tirando os animais da moda

Hoje em dia, peles de animais estão se tornando uma coisa do passado, e novos materiais altamente modernos passam a ser produzidos a partir de uma variedade de fontes vegetais, como abacaxis, maçãs, folhas de cactos, peles de uva e até mesmo balões de festa antigos. Quando se trata de couro, não apenas os animais estão fora de moda, mas as variedades veganas sintéticas de poliuretano têm sido rapidamente substituídas por alternativas mais ecológicas.

No México, os empresários Adrián López Velarde e Marte Cázarez desenvolveram o Desserto, um couro vegano durável feito das folhas do cacto nopal. O couro vegano da dupla ganhou vários prêmios de design e agora é usado por grandes casas de moda, incluindo a Karl Lagerfeld, que lançou a primeira versão de couro vegano de sua icônica bolsa K/Kushion este ano com a ajuda da supermodelo Amber Valetta.

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Couro feito de cogumelos também está chegando ao mercado. No ano passado, a startup de biofabricação Bolt Threads firmou uma parceria com as principais marcas de moda Stella McCartney, Adidas, Lululemon e Kering para dar-lhes acesso exclusivo ao seu Mylo, um couro vegano feito de micélio, o crescimento rápido do sistema de dos cogumelos. Até o momento, a parceria resultou em peças conceituais de Stella McCartney (calças Mylo e bustiê) e Adidas (tênis Stan Smith vegano) e produtos de couro de cogumelo devem ser comercializados ainda este ano.

Seda vegana para substituir o plástico?

Enquanto a Spiber trabalha para tirar bichos-da-seda e aranhas da indústria da moda, pesquisadores da Universidade de Cambridge desenvolveram a seda de aranha vegana como uma solução para plásticos de uso único. Esta versão de seda de aranha, que é um dos materiais mais fortes da natureza, foi criada usando-se uma nova abordagem para reunir proteínas vegetais em materiais que imitam a seda em um nível molecular.

A seda de aranha com eficiência energética usa ingredientes sustentáveis e resulta em um filme autônomo semelhante ao plástico, que pode ser feito em escala industrial e usado para itens como tabletes de lava-louças e cápsulas de sabão em pó, dois itens que a universidade planeja comercializar.

Por Anna Starostinetskaya / Tradução de Alice Wehrle Gomide

Fonte: Veg News

O sombrio e perturbador mundo da seda

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