Susi tem medo de pessoas. Mas só precisa de alguém com paciência para a conquistar

Susi tem medo de pessoas. Mas só precisa de alguém com paciência para a conquistar
Tem cerca de quatro anos.

Desde que nasceu, a rua era a única casa que Susi conhecia. Em 2021, aos dois anos, depois de várias tentativas, a cadela foi finalmente resgatada pelos seus cuidadores. Desde então, está a viver num hotel canino no Porto, em Portugal, e há cerca de um ano, deu início aos treinos. Apesar de ter melhorado, já “evoluiu o que tinha de evoluir” e agora precisa de uma família com paciência e dedicação para dar os próximos passos.

“Não sabemos o passado dela ou se foi tratada mal na rua. Infelizmente, há pessoas que tratam mal os animais vadios. Isso pode ser um trauma que gerou o medo”, começa por contar à PiT Renato Silva, treinador e fundador da Raising Dogs. Embora na altura em que viveu na rua Susi tenha sido alimentada por várias pessoas, nunca as deixou aproximar. Chegou a ser mãe duas vezes e os seus filhotes foram capturados, mas ela lá ficou.

“Quando a apanhámos, estávamos convencidos de que seria um processo mais fácil de adaptação mas não foi este o caso. Ela tinha e ainda tem muito medo”, conta-nos Susana Flores, a médica veterinária que tem acompanhado Susi. “Não acredito que ela tenha sido abandonada, acho que só cresceu na rua”, acrescenta.

Susi está atualmente a viver no Hotel Canino Tristão, no distrito do Porto. Segundo a proprietária, Elsa Paiva, a cadela interage diariamente com os outros cães do espaço “sem qualquer problema”. Porém, basta ver alguém para se recusar a sair da sua box de 40 metros quadrados. Há cerca de um ano, para tentar ajudá-la, Elsa e Susana entraram em contacto com Renato.

“Estar em contacto com as outras pessoas inicialmente foi um pouco difícil porque ela não aceitava manuseamento”, recorda o treinador. “Houve ali um processo que tivemos de trabalhar de maneira segura, ou seja, tivemos de focar na parte do reforço positivo apesar de ela não aceitar comida das nossas mãos como biscoitos. Sempre rejeitava e nem sequer deixava aproximar”.

A cada 15 dias, Renato vai visitá-la no hotel e aplica diferentes etapas de treino mediante as necessidades da cadela. Com o tempo, foi percebendo os seus traumas. “Reparei que ela conseguia estar mais calma na presença de homens. Parecia que se assustava quando as pessoas falavam em especial a Dr. Susana e a Elsa”, diz.

Embora as visitas e os treinos de Renato tenham acalmado Susi, ainda há um longo caminho para ser feito. No entanto, o trio não pode fazê-lo sozinho. Agora, Susi precisa de uma família que consiga acompanhar o trabalho do treinador para assim, poder finalmente acostumar-se com a nova vida.

“Ela agora está um pouco estagnada, evoluiu até aonde tinha de evoluir mas precisa de alguém todos os dias. Precisa de um contacto mais um para um para se adaptar. Acho que é uma cadela que vai se habituar a aquelas pessoas em especifico, se calhar vai ter sempre medo de outras que não conheça”, explica Susana.

“Se isso fosse uma trabalho diário, as coisas corriam muito mais rápido”

Susi tem uma idade estimada de quatro anos, já está vacinada, desparasitada e tem microchip. A cadela tem uma página na PiTmatch, a nova plataforma de adoção da PiT para tentar encontrar um lar.

“Quem ficar com ela tem que ser alguém que se disponha a vir ter connosco nos treinos e que a comece a conhecer. As pessoas também não devem ter expectativas que ela vai ser uma cadela de colos e muitos beijinhos porque não sabemos se algum dia ela vai chegar lá”, conta-nos a médica veterinária Susana Flores.

Já o treinador, Renato Silva, partilha de um pensamento semelhante. “O tutor que vai adotá-la tem de estar connosco para perceber a sua linguagem corporal. Ela também dá bastante sinais quando tem mais receios ou medo, e isso é uma forma de nós sabermos quando não está confortável e assim, conseguirmos colocá-la num sítio mais seguro”.

Susi já consegue fazer as necessidades na rua, embora às vezes se assuste com os barulhos dos carros e autocarros. Porém, segundo o treinador, isso pode ser facilmente mudado quando tiver uma família. “Ela precisa de alguém que a pegue todos os dias, nem que seja meia hora, para ver as ruas, as outras pessoas, os animais e autocarros. Acredito que se for assim, ao fim de três, quatros meses temos uma cadela pronta”, explica.

Susi também se assusta com pequenos barulhos como os de sacos plásticos mas está, aos poucos, a acostumar-se com eles. “Ela assusta-se no sentido que não sabe o que é, ninguém conseguiu ‘explicar’ ainda que isso é uma coisa normal e que no dia a dia vai haver este tipo de barulho”, sublinha.

Para Elsa Paiva, de todos os cães que já acolheu, Susi “é a mais complicada”. No entanto, a proprietária do Hotel Canino de Tristão tem esperanças. “É uma cadela que consegue de certeza absoluta ir para uma casa e estar bem”, afirma.

O trio de cuidadores também frisa que Susi não é uma cadela reativa e apesar do medo, nunca chegou a atacar quem se aproxima. “Inicialmente quando a tocávamos ela ficava muito comprimida e rija, mas agora já se sente mais à vontade e trabalhamos sempre com comida para mostrar que ela consegue estar ao nosso lado e que somos tranquilos, que não lhe vamos fazer nada de mal”, realça Renato.

Agora, depois de tudo que passou, Susi só precisa de um colo confortável e de alguém que esteja disposto a dar-lhe o seu tempo. “A futura família tem que ter paciência e um bocado de dedicação”, diz o treinador que no momento está a focar no reforço positivo.

Os possíveis tutores irão juntar-se a Renato durante os treinos para entender os comportamentos de Susi. Além disso, o acompanhamento é importante para que a cadela também aprenda a conviver com a nova família.

Carregue na galeria apra conhecer a adorável Susi. Se tiver interesse em adotá-la, pode entrar em contacto com os seus cuidadores através da sua página na PiTmatch.

Por Izabelli Pincelli

Fonte: Pit / mantida a grafia lusitana original

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