Transição de carroças para ‘cavalos de lata’ é lenta em Santa Cruz do Sul, RS
Em 10 de outubro do ano passado começou a vigorar a lei municipal 7.646, que criou o Programa de Redução Gradativa do Número de Veículos de Tração Animal. Os principais objetivos eram cadastrar os carroceiros em até dois anos; transferi-los para outros ramos de trabalho e qualificá-los para a atuação no recolhimento, separação, armazenamento e reciclagem de resíduos dentro das normas ambientais. Conforme o texto, a circulação de veículos de tração animal (VTA) seria proibida no Centro em quatro anos. O prazo para os bairros foi estendido para nove anos.
O vereador Gerson Luís Trevisan (PSDB), autor da lei, afirma que não tem visto carroças no Centro. Ele observa que a questão deve avançar como uma corrente, por meio de um conjunto de esforços entre a administração pública e a sociedade civil organizada. Uma alternativa para os recicladores é a substituição dos veículos de tração animal por protótipos como o “cavalo de lata”, estrutura metálica com motor elétrico e kit de baterias de 48 volts, capaz de percorrer até 40 quilômetros.
O veículo apresenta faixas reflexivas e segue as medidas estabelecidas pelo Departamento Nacional de Trânsito (Denatran). “Já existem famílias que trabalham com o ‘cavalo de lata’. Uma emenda no orçamento seria interessante para ampliar o número. O município está implantando políticas públicas, já disponibiliza a estrutura do Canil Municipal, por exemplo. Há um projeto de construção do hospital veterinário, que irá auxiliar também”, comenta Trevisan.
A ONG Cavalo de Lata já encaminhou proposta de parceria à Prefeitura. A intenção é criar ações para promover a transição dos trabalhadores com antecedência em relação ao prazo, principalmente para evitar transtornos. A ONG se sustenta com doações. Quando um animal é recolhido, é encaminhado a um sítio cadastrado para se aposentar. O proprietário recebe alimentos, material escolar para os filhos e orientações para se candidatar a uma vaga de emprego.
O objetivo é encerrar o ciclo, ou seja, não deixar que os filhos assumam o trabalho penoso e possam vislumbrar outras oportunidades. “Por enquanto, só podemos fazer abordagens para esclarecer. Buscamos a conscientização e o empoderamento da comunidade, que aos poucos aprende a denunciar e cobrar ações do poder público”, explica a coordenadora Ana Paula Knak.
Cadastramento dos condutores
Com relação à aplicação da lei, Ana Paula acredita que há um atraso para a transição começar efetivamente. Ela aponta que o cadastramento dos condutores e a microchipagem dos animais já deveria ter iniciado. A integrante da ONG também destaca que placas com orientações poderiam ser afixadas em alguns pontos da cidade.
Na Oktoberfest, haverá um estande da organização para divulgar o projeto. “O nosso sonho é extinguir o uso de animais para a tração de veículos e que os carroceiros possam utilizar os ‘cavalos de lata’. Mas ainda temos um longo caminho pela frente”, projeta.