Tratamento com células-tronco ajuda animais a se recuperarem de doenças graves

Tratamento com células-tronco ajuda animais a se recuperarem de doenças graves
A comerciante Valquiria Barbosa e a veterinária Marianne Camargos estão otimistas após a primeira sessão de terapia celular na gata Duda, de 1 ano e meio, e aguardam os resultados: "Espero que a ajude a se recuperar da ruptura de um tendão", diz a Valquíria (foto: Violeta Andrada/Encontro)

Para além das questões éticas e religiosas, há décadas que pesquisas realizadas com células-tronco adultas, provenientes do cordão umbilical e medula óssea, são realizadas em todo o mundo. Elas teriam a capacidade de regenerar tecidos e renovar as estruturas do corpo, tanto no organismo de humanos quanto de animais. A grande discussão gira em torno da liberação ou não do uso de células-tronco embrionárias, que seriam mais versáteis e eficientes. Oriundas de óvulos fecundados e congelados em clínicas, mas desprezados por não estarem aptos à fertilização, poderiam ajudar a salvar vidas.

Fato é que vários tratamentos realizados com células-tronco adultas obtiveram sucesso, e não só em pessoas. Para cães, gatos, cavalos e outros bichos, tem se mostrado eficiente no tratamento de doenças ortopédicas, neurológicas, renais, autoimunes, de pele e intestinais, entre outras. “Elas agem migrando pelo organismo em busca do local da lesão, criando assim uma comunicação com as células do tecido atingido e as estimulando a promover a sua própria regeneração”, explica a veterinária Marianne Camargos, especialista em terapias ortobiológicas da clínica Vetsociety.

No Brasil, somente laboratórios certificados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) podem realizar o processamento de células-tronco mesenquimais, que dão origem a tecidos ósseos, cartilaginosos e adiposos. Elas São utilizadas como matéria-prima para a fabricação de medicamentos. Com alto poder regenerativo e terapêutico, em muitos casos os tratamentos com essas células-tronco alcançam resultados surpreendentes. No auge dos seus 14 anos de idade, o vira-lata Thor faz parte do grupo seleto de cães beneficiados pela técnica. Quem o vê impondo respeito contra intrusos dentro de casa, não imagina que quase foi vítima fatal da cinomose. Transmitida por vírus e com alto índice de mortalidade, a doença também é conhecida por deixar várias sequelas naqueles que sobrevivem.

Vítima da cinomose, em 2015, Thor, de 14 anos, chegou a perder todos os movimentos: “A partir da terceira aplicação de células-tronco ele já começou a recuperar os movimentos e logo voltou a andar”, diz a empresária Luiza Fonseca. (Foto: Violeta Andrada/Encontro)

Acometido pela enfermidade em 2015, Thor chegou a perder todos os movimentos. Os tratamentos convencionais não surtiam mais resultados. Sem se conformar, os donos foram atrás e pesquisaram sobre outras possibilidades. Descobriram que o tratamento com células-tronco poderia ser sua última chance. Decidiram arriscar. “Para nossa surpresa, a partir da terceira aplicação ele já começou a recuperar os movimentos e logo voltou a andar normalmente. Foi realmente impressionante”, diz a empresária Luiza Fonseca.

A veterinária Marianne Camargos explica que, nestes casos, as células-tronco agem protegendo as células nervosas do animal. “Quando realizado na fase viral (aguda), o tratamento protege o paciente, diminuindo a gravidade das lesões e prevenindo sequelas”, diz. Já na fase crônica da doença, esclarece a especialista, há reparação tecidual, promovendo a reabilitação parcial ou total do paciente de acordo com a lesão sofrida. Ela ressalta, no entanto, que apesar do tratamento com células-tronco ser tido como seguro, o paciente precisa ser avaliado clinicamente e realizar exames complementares anteriores para verificar se está apto ou não a realizá-lo. “A reação negativa pode ocorrer caso sejam aplicadas células congeladas e haja algum resíduo do meio de congelamento, por isso a importância da procedência do laboratório”, diz a especialista.

Os resultados podem ser observados a partir da primeira sessão, sendo realizadas em média três aplicações com intervalo de 30 dias. Em Belo Horizonte o custo médio de cada uma varia entre 1.700 e 2.500 reais, dependendo da via de aplicação. Existem dois tipos de transplante celular. No autólogo, as células são provenientes do próprio animal. No heterólogo, são naturais de um doador saudável. A veterinária Carla Aires, especializada em terapia com células-tronco e oncologia, lembra que a técnica deve ser vista como um recurso a mais, e não uma fórmula mágica. “A resposta vai depender da reação do organismo de cada indivíduo e pode ser bem positiva”, diz.

Em se tratando de pacientes com câncer, ela explica que o tratamento não é indicado por causa da proliferação celular que ocorre. Ciente das possibilidades, a comerciante Valquiria Barbosa Lima de Oliveira optou por tentar. A gata Duda, vira-lata de 1 ano e 4 meses, sofreu uma ruptura de tendão e, mesmo após realizar cirurgia, não se recuperou. “O tratamento com células-tronco vai ajudar a estimular a área afetada, que é pouco vascularizada”, diz a dona. Feita a primeira aplicação, ela aguarda otimista.

Por Daniela Costa

Fonte: Revista Encontro

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