Tutora de cadela morta em cirurgia denuncia suposta veterinária sem diploma em MG; clínica diz ser vítima de difamação

Tutora de cadela morta em cirurgia denuncia suposta veterinária sem diploma em MG; clínica diz ser vítima de difamação
Cadelinha Mel, de 5 anos, faleceu durante cirurgia de castração em João Pinheiro — Foto: Arquivo pessoal

A morte de uma cachorrinha da raça shih-tzu durante uma cirurgia de castração em uma clínica veterinária em João Pinheiro, no Noroeste de Minas, se tornou caso de Justiça. A tutora da cadela Mel, Iorrana Lobo, afirma que a responsável pela clínica Animed não é apta para realizar o procedimento, por não ter registro profissional, e que a empresa não tinha estrutura para oferecer intervenções cirúrgicas.

Porém, a clínica nega qualquer irregularidade e processou Iorrana por calúnia e difamação. O estabelecimento ainda conseguiu uma liminar que determinou que a tutora apagasse postagens nas redes sociais relacionadas ao caso e que não se pronunciasse em público sobre o ocorrido até que todos os trâmites legais fossem finalizados.

De acordo com o portal do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), uma audiência de conciliação foi marcada para o dia 17 de novembro para resolver o conflito. O caso é acompanhado pelo juiz Maurício Pinto Filho, da 1ª Vara Cível, Criminal e da Infância e da Juventude da comarca de João Pinheiro.

O g1 procurou a defesa de ambos os lados para saber o posicionamento sobre o caso. O advogado Josué Spada Soares, que defende a clínica no processo, afirmou que ainda não vai se manifestar sobre o ocorrido.

Já as advogadas Sulamita Couto e Ana Mirian Alves Melo de Deus, que representam Iorrana, informaram “que a defesa tomou todas as providências necessárias para que a clínica e a suposta veterinária sejam responsabilizadas criminalmente e administrativamente, bem como, já apresentou contestação na ação que lhe foi movida e também solicitou uma indenização pelo pedido de reconvenção. Frisa-se que a vitima Iorrana está cumprindo desde o dia da citação a liminar solicitada pela Clínica Veterinária e deferida pelo Juiz, na qual a proibiu de manifestar sobre o caso nas redes sociais. Por fim, que a mesma aguarda que a justiça seja feita e que as responsáveis sejam devidamente penalizadas”.

Cirurgia

Iorrana Lobo cuidava de Mel desde que ela era filhote. No dia 12 de setembro, um funcionário da clínica Animed, da qual Iorrana já era cliente há algum tempo, buscou o animal na casa dela para realizar o procedimento de castração.

Conforme tanto a clínica, quanto a tutora, em um primeiro momento, os exames de Mel apontaram que ela estava saudável, o que possibilitou a realização da cirurgia.

No entanto, após receber uma dose da anestesia, a cadela começou a passar mal e teve uma parada cardiorrespiratória. As funcionárias da clínica tentaram reanimá-la, mas ela não resistiu e morreu no local.

Iorrana ao lado da cachorrinha Mel — Foto: Arquivo pessoal
Iorrana ao lado da cachorrinha Mel — Foto: Arquivo pessoal

O que diz a clínica

Três dias após a morte de Mel, a Animed Clínica Veterinária enviou à Justiça um pedido de indenização por danos morais contra Iorrana. Segundo o estabelecimento, a tutora cometeu calúnia e difamação ao publicar um vídeo nas redes sociais em que criticava o atendimento.

No processo, a empresa relatou o que a jovem teria afirmado na postagem, que já foi apagada após determinação judicial. Pela mesma liminar que determinou a exclusão do vídeo, Iorrana foi impedida de comentar sobre o caso de forma pública.

“Um alerta mesmo, não levem seus cachorrinhos nessa clínica veterinária que eu ‘tô’ marcando aqui, vocês vão ficar sem ele, a cirurgiã nem CRMV tem! Acho que todo mundo na cidade sabe, menos eu, que eu sempre confiei não levem, não deixem ela matar mais cachorros, que eu sei de vários relatos, não é um, nem dois, nem três, simplesmente mata minha cachorra, e nem sequer uma prestação de solidariedade, da que se diz cirurgiã, infelizmente a lei é muito enrolada, mas quero deixar esse alerta aqui, para não matarem mais cachorro, não vão gente, de coração”, afirmou ela no vídeo deletado.

Segundo a empresa, no dia da cirurgia a cadela ficou sob os cuidados da responsável técnica da clínica Eduarda Cristina da Fonseca Silva, que possui registro no Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV).

Ainda conforme a ação ajuizada pela clínica, vários clientes que tinham consulta marcada cancelaram após a publicação do vídeo, o que causou inúmeros prejuízos à empresa. Com isso, o advogado pediu à Justiça o pagamento de uma indenização de R$ 20 mil por danos morais.

O que diz a tutora

Como resposta ao processo movido pela clínica, a defesa de Iorrana enviou um pedido de providência à Justiça. No documento, ela afirma que a sócia do estabelecimento, Ana Laura Dias da Silva, sempre atendeu na clínica como veterinária, mas ainda não é formada e, por isso, não poderia exercer essa função.

O g1 consultou a página do CRMV e, de fato, o nome Ana Laura Dias da Silva não constava entre as profissionais ativas do conselho no estado até a última atualização desta reportagem.

“A requerente Ana Laura orientou a Iorrana a castrar a Mel tendo em vista os benefícios que a castração traz para o animal. Frise-se que toda a orientação acerca da cirurgia de castração foi feita pela suposta médica veterinária Ana Laura”, escreveu a defesa de Iorrana na denúncia.

Conforme a denúncia, logo após informar que a cirurgia de castração de Mel havia começado, a veterinária Eduarda ligou para Iorrana chorando e informou que a cadelinha havia sofrido uma parada cardiorrespiratória. Nesse momento, a tutora se desesperou e foi imediatamente para a clínica.

No local, segundo a defesa da tutora, Eduarda teria afirmado que Ana Laura era a responsável pelo procedimento. A sócia não estava mais na clínica quando Iorrana chegou, mas enviou uma mensagem explicando que o óbito ocorreu durante a anestesia e que ela havia deixado o local para atender outros animais.

“Nota-se que a requerente Ana Laura confirma que estava atendendo alguns gatinhos (ato exclusivo de médico veterinário) após o procedimento cirúrgico na Mel, bem como explicando o procedimento cirúrgico na Mel”, continua a defesa no processo.

No mesmo pedido, Iorrana ainda afirma que a clínica não possuía equipamentos adequados para realizar o procedimento. Com isso, a defesa solicitou à Justiça que as responsáveis pela clínica paguem uma indenização de R$ 20 mil pelos danos psicológicos causados pela perda da cachorrinha.

Além disso, denúncias sobre o caso foram feitas na Delegacia de Polícia Civil, na Vigilância Sanitária, no Ministério Público e no Conselho Regional de Medicina Veterinária de Minas Gerais.

Por Luís Fellipe Borges

Fonte: G1

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