Único Cetas para animais resgatados do AM é pequeno para demanda

Único Cetas para animais resgatados do AM é pequeno para demanda
Fachada do Cetas Reserva do Sauim: sem animais silvestres. Fotos: Junio Matos/Freelancer

A apreensão de dezenas de animais silvestres, no último dia 12, de um cativeiro clandestino situado no bairro Jorge Teixeira, Zona Leste de Manaus, reacendeu a discussão em torno da existência de um único Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) para atendimento e cuidado de animais resgatados das redes de tráfico animal no Amazonas.

Administrado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), o espaço, localizado na própria sede do órgão, no Distrito Industrial 1, recebeu desta apreensão 42 espécimes silvestres dos mais de 100 animais apreendidos durante a ação realizada pelos policiais da Delegacia Especializada em Crimes contra o Meio Ambiente (Dema) e Batalhão Ambiental.

Com a chegada destes animais, o Cetas do Ibama contabiliza 132 resgatados que precisam de cuidados, de recuperação e um destino apropriado. A falta de estrutura e de vagas suficientes para acolher os animais, além da carência de pessoal tomou as redes sociais de ativistas, ambientalistas e organizações não-governamentais que atuam na proteção animal.

“Todos os animais silvestres resgatados no Amazonas acabam no Cetas do Ibama e a informação que tenho é de que o local está sobrecarregado. O problema é que não tem espaço e pessoal para cuidar dos animais. O Batalhão, a Dema e o Ipaam trabalham muito bem, só que não é justo que tudo seja demandado para um Cetas que não tem mais espaço”, destacou a bióloga e ambientalista, Erika Schloemp.

Até dois anos atrás, Manaus também contava com o Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) Reserva do Sauim Castanheiras localizado no Distrito Industrial 2, na Zona Leste, e administrado pela Prefeitura de Manaus através da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semmas). Atualmente, o local não recebe mais animais silvestres, e hoje, abriga 14 indivíduos entre aves e primatas.

“Nós, como ambientalistas, vemos que está na hora de o Estado resolver essa situação, de criarem um local que possa ser compatível com a quantidade de animais que chegam. Na mídia internacional fala-se muito de floresta amazônica, mas não se leva em consideração a nossa fauna silvestre que é tão importante quanto. Vamos continuar cobrando um Cetas para o Amazonas, de responsabilidade do Estado”, afirmou, ainda, Schloemp, uma das defensoras do meio ambiente local.

Fundamental

Para a médica veterinária e pesquisadora do Instituto Leônidas & Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia), Alessandra Nava, o Centro de Triagem é fundamental para a manutenção da saúde pública.

Ela destaca que, através de um monitoramento, é possível identificar patógenos (agentes infecciosos).

“O Cetas presta um papel importantíssimo para saúde pública. Os animais silvestres funcionam como sentinelas para doenças infecciosas zoonóticas, e a Fiocruz junto com o Cetas e Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade tem um projeto de monitoramento da saúde desses animais, e é através desse monitoramento ativo que podemos saber quais patógenos estão circulando”, afirmou ela. “Isso impacta diretamente na saúde pública colaborando para políticas de saúde e prevenção. Por isso é um lugar valoroso e que precisa ser mantido pelo setor público, privado e defendido pela sociedade”, contou ainda.

Há reuniões para reestruturação, diz Semmas

No âmbito do município, a Prefeitura de Manaus reafirmou que não recebe mais animais silvestres no Cetas para tratamento. Conforme a Semmas, já acontecem reuniões juntamente com o Estado e MPF para reestruturação visando tornar o local um espaço de reabilitação da fauna silvestre.

“Não estamos recebendo já algum tempo animais de nenhuma espécie; estamos mantendo os que já estavam conosco. Há dois anos tivemos uma série de invasões na estrutura do Cetas pelo tamanho da área que é muito grande e preferimos dar uma pausa no serviço para estruturar o espaço, e fazer novos acordos com os governos Federal e do Amazonas”, diz o diretor de Mudanças Climáticas e Áreas Protegidas da Semmas, Márcio Bentes.

“Nossa intenção é ter um serviço de reabilitação da fauna silvestre e esses acordos estão em negociação. Então, não há um caminho fechado, ainda, para a manutenção do Cetas”, disse. Atualmente, 14 espécimes estão sob a responsabilidade da Semmas, que tem a intenção de entregá-los ao Cetas do Ibama.

“Estamos tratando com o Ibama a destinação dessa fauna que está conosco até que se finalize os acordos. É necessário integração oficial entre órgãos para que possamos atender a demanda da cidade. Nos colocamos à disposição da agenda da fauna para que, quando tivermos nosso centro de reabilitação estruturado, possamos atender a agenda da fauna”.

Ibama fala em ‘acordo de cooperação técnica’ para o local

Em nota, o Instituto Brasileiro   do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), afirmou que recebe apreensões tanto pelo próprio Instituto, quanto dos órgãos estadual e municipal de Meio Ambiente.

“Considerando que a região é umas das que mais sofre com tráfico, é razoável entender que a estrutura do Centro sofra com o grande volume de demanda”, informou a comunicação do órgão.

A entidade do Governo Federal destacou, ainda, que há um entendimento de ser importante que haja um “Acordo de Cooperação Técnica” para dar suporte aos serviços prestados pelo Centro de Triagem de Animais Silvestres, visto que este atende todos os entes do Estado e, também, do Município.

O Instituto Brasileiro  do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis finaliza seu comunicado afirmando que as espécimes silvestres recebidas pelo Cetas do Ibama, naquela apreensão, “estão alocados e estão bem, embora tenham chegado bastante debilitados”, e acrescenta que alguns dos animais já foram destinados para zoológicos e mantenedores.

Para Ipaam, ‘Cetas não é local definitivo para fauna silvestre’

O Instituto de Proteção Ambiental  do Amazonas (Ipaam) reiterou, em nota, que o Cetas não é local definitivo para a fauna silvestre resgatada ou apreendida, sendo assim, os animais devem permanecer o menor tempo possível. O órgão estadual também acrescentou que em recente termo de Cooperação técnica discutido entre o órgão e Ibama, Semmas, intermediado pelo Ministério Público Federal, foram compartilhadas ações para a gestão da fauna apreendida e resgatada no Estado.

“Ao Ipaam coube o resgate e soltura dos animais silvestres, no momento o principal órgão que presta este serviço à comunidade e a fauna, juntamente com o Batalhão Ambiental. Coube ao Ibama a Gestão do Cetas com a colaboração da Semmas e Ipaam. A Lei Complementar Nº 140 atribuiu a gestão da fauna em cativeiro ao Ipaam, ou seja, o licenciamento dos empreendimentos com a fauna em cativeiro, incluindo os Cetas. A gestão da fauna em vida livre, como é o caso dos resgates, coube ao ente federal, que é o caso dos resgates. Portanto os esforços estão sendo compartilhados para prestar um melhor serviço a nossa fauna”, diz o comunicado.

Por Karol Rocha 

Fonte: A Crítica 

Os comentários abaixo não expressam a opinião da ONG Olhar Animal e são de responsabilidade exclusiva dos respectivos autores.