Vídeos de criação de raposas colocam indústria de peles da Finlândia em apuros; veja

Vídeos de criação de raposas colocam indústria de peles da Finlândia em apuros; veja
Uma raposa em uma pequena gaiola em Naerpio, na Finlândia Foto: Oikeutta Elaimille / AFP

Raposas deformadas e doentes, e outros comendo os restos mortais da própria espécie. Novos vídeos de grupos de direitos dos animais divulgados nesta quinta-feira mostram uma imagem “horrível” da indústria finlandesa criando animais para produção de peles. Com cerca de um milhão de peles produzidas anualmente, o país nórdico é o líder europeu na criação de raposas e o número dois no mundo, atrás apenas da China.

VÍDEO: Criação de raposas colocam indústria de peles da Finlândia em apuros

Os vídeos gravados em 2022 em seis quintas finlandesas, quatro certificadas pelo bom tratamento aos animais, e publicados pela AFP, ilustram a polémica em torno do setor, que tenta contrariar os apelos à sua proibição.

“A criação de peles já deveria ser proibida na Finlândia. Acho lamentável que ainda não” disse à AFP Mai Kivela, parlamentar da Aliança de Esquerda, que faz parte da coalizão governista.

Em dezembro, uma iniciativa de cidadãos europeus pedindo uma proibição em toda União Europeia alcançou um milhão de assinaturas, o suficiente para forçar uma resposta da Comissão Europeia. Vários países do grupo proibiram a reprodução de animais, mas o apelo visa estendê-lo a todos os 27 membros por ser considerada uma prática “cruel por natureza”.

Na Finlândia, a primeira-ministra Sanna Marin, sob pressão de seus parceiros da Aliança de Esquerda e dos Verdes, anunciou em 2020 que apoiava a proibição. Mas a chefe do Governo não conseguiu reunir maioria no Parlamento. Muitos deputados defendem o setor responsável por gerar € 360 milhões (cerca de R$ 2 bilhões) em exportações, 3 mil postos de trabalho e ser vital para certas regiões rurais.

Os vídeos, gravados sem autorização, foram obtidos pela associação finlandesa Oikeutta Eläimille (Justiça para os Animais).

O grupo empresarial do setor, a Associação Finlandesa de Criadores de Animais de Pele (FIFUR), confirmou à AFP que quatro das seis fazendas identificadas pelos ambientalistas possuem certificado de qualidade sanitária.

“Não é a realidade”

Trancadas em gaiolas de metal claramente muito pequenas, raposas de raça gigante com pelo extremamente grosso aparecem lá com doenças oculares e infecções de ouvido e cauda.

“As condições de vida desses animais nessas fazendas são terríveis” disse à AFP o ativista da associação, Kristo Muurimaa.

As raposas, incapazes de atender às suas necessidades de movimento, são suscetíveis a doenças comportamentais, como o andar compulsivo, explicou. Segundo a associação, os animais são submetidos a cruzamentos excessivos para aumentar seu tamanho, o que leva, por exemplo, à deformação de suas peles.

Nos vídeos, algumas raposas estão tão acima do peso que nem parecem mais raposas. Algumas também são vistas devorando os cadáveres dos próprios filhotes.

De acordo com a associação, o problema é generalizado e “todas as fazendas de peles na Finlândia são mais ou menos idênticas no tratamento do animal”.

A FIFUR condenou a gravação não autorizada dos vídeos e afirmou que eles não representam a realidade.

“Eles dão uma imagem completamente falsa da paternidade” disse à AFP seu porta-voz, Olli-Pekka Nissinen.

A organização diz que mostrou os vídeos para seus criadores, mas eles dizem não reconhecer seus animais, exceto por uma raposa prateada. Ainda assim, visitas veterinárias serão organizadas para investigar as acusações, disse a FIFUR.

“São bem administradas, certificadas e têm criadores que cuidam de seus animais” explica Nissinen sobre as quatro fazendas certificadas

O sistema de certificação, destinado a atestar o bom estado de saúde dos animais, inclui visitas de controle anuais.

“Em geral, uma fazenda com entre 5.000 e 10.000 animais (…) pode ter infecções repentinas. (…) [as estatísticas mostram que] os ferimentos e a mortalidade são bastante baixos” argumentou Nissinen.

Vários países europeus já proibiram a criação de animais de peles, como a Áustria e o Reino Unido. A pandemia de covid-19 acelerou o movimento com proibições totais ou parciais na França, Holanda ou Estônia. A Dinamarca, campeã mundial de visons, optou por abater mais de 15 milhões desses animais por precaução à saúde. Mas a reprodução recomeçou timidamente no início de janeiro.

Fonte: Extra

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