Visita da OAB a obras do Zoológico do Rio termina com boa notícia para casal de hipopótamos, separados há anos

Visita da OAB a obras do Zoológico do Rio termina com boa notícia para casal de hipopótamos, separados há anos
Hipopótamos estão separados por um muro. Promessa é que fiquem juntos em novo espaço no BioParque. Foto: OAB/RJ / Divulgação

O Zoológico do Rio, que passa por obras para se tornar um bioparque de preservação de espécies animais, recebeu nesta quarta-feira pela manhã a visita de inspetores da Comissão de Proteção e Defesa dos Animais da OAB. A coordenação temporária de inspeção foi criada pela Ordem para apurar, num prazo inicial de 60 dias, denúncias recebidas pelo órgão de maus tratos, mortes de animais e estresse dos bichinhos durante as intervenções no local. Até o momento, não foi apurado nenhum descumprimento grave. No entanto, este primeiro capítulo pode significar um final feliz, pelo menos, para um casal que só tem contato um com o outro através de um muro.

— A fêmea e o macho de hipopótamo estão separados há 15, talvez 20 anos, e isso é um absurdo. Estão separando o amor deles por um muro. Eles (Grupo Cataratas, atual responsável pelo empreendimento) assumiram um compromisso público comigo. Os hipopótamos serão reintroduzidos num ambiente novo juntos. Já é uma reivindicação nossa. Vai ser a vitória do amor — conta Reynaldo Velloso, presidente da Comissão.

Procurado, o Grupo Cataratas afirmou que, de fato, a configuração dos recintos antigos se manteve assim por muito anos, e que, desde que assumiu o Zoo, a empresa encarou como missão reunir novamente não só estes animais, como vários outros, como as elefantas, por exemplo. “Essa preparação já está sendo feita por profissionais especializados em condicionamento de grandes mamíferos silvestres. Vale reforçar que esses animais vivem separados há muitos anos e que o novo projeto do BioParque já contempla um recinto adequado para viverem juntos com espaço adequado, bem-estar e segurança”, conclui a nota.

Local onde, num futuro breve, casal de hipopótamos poderá viver junto, o que jamais aconteceu. – Foto: Divulgação

— Criamos esta coordenação temporária de inspeção, que pode acabar até se tornando permanente, porque o zoológico está deixando de ser zoológico e vai virar um bioparque. Recebemos denúncias de maus tratos, mortes de animais, estresse dos animais com as obras… mas a direção garante para a gente que este número se somou ao longo de outros anos, mas só saberemos analisando os laudos. Teremos 60 dias para fechar o relatório, e hoje foi apenas a primeira visita. Vimos o projeto e visitamos as obras e onde estão os animais — introduz Velloso.

A coordenação visitou o zoológico com um grupo de 15 membros, entre advogados, biólogos, engenheiros e demais especialistas. Na segunda semana de março, há expectativa de um novo encontro para que laudos sejam analisados. A OAB quer saber as circunstâncias das mais de 100 mortes de animais denunciadas.

— O primeiro passo foi conhecer o projeto deles e observar se a obra estava ou não estressando os animais. Num primeiro momento achamos que não, mas é cedo ainda para uma conclusão. Uma conclusão se faz em mais de uma reunião, é claro, analisando os laudos, vendo como os animais foram e serão transferidos — concluiu Reynaldo Velloso.

Obras estão sendo feitas para transformar o Zoológico do Rio num verdadeiro BioParque de preservação de espécies. – Foto: Divulgação

Sobre a visita, o Grupo Cataratas, gestor do BioParque do Rio, afirmou que passa constantemente por vistorias e fiscalizações de órgãos reguladores, e que a vistoria da Comissão de Proteção e Defesa dos Animais da OAB/RJ “é vista pela concessionária de forma positiva e pode avalizar o trabalho de construção de um Bioparque que terá como pilares o bem-estar animal, o incentivo à projetos de pesquisas e conservação, por meio de avaliação imparcial e de caráter estritamente técnico”.

Os animais estão vivendo em locais provisórios enquanto esperam pela sua nova moradia. A reportagem questionou o Grupo sobre estes espaços e, também, acerca dos cuidados especiais que estão sendo tomados numa época tão quente como é o verão. A empresa afirma que, independente das obras, que não impactam nas áreas em que os animais estão, durante todo o ano, e não apenas no verão, diversas ações de enriquecimento ambiental são realizadas para proporcionar o bem-estar animal, e que a alimentação é uma das maneiras como o BioParque trabalha isso. Especificamente nos dias mais quentes, revela o Grupo, são fornecidos os já conhecidos picolés grandes de frutas congeladas para aliviar o calor dos bichinhos.

Urso e Leão são alguns dos animais que aguardam um novo lar no novo BioParque. Grupo Cataratas, que administra o local, garante que todos os cuidados estão sendo respeitados, e que bem-estar dos animais é acompanhado por órgãos competentes. – Foto: Divulgação

Ainda segundo o Grupo Cataratas, bem antes do início das obras, foram instalados ar-condicionados nos locais onde os grandes felinos, ursos, entre outros estão vivendo. Quanto à alocação dos animais, a empresa afirma que diversos recintos foram reformados e ampliados ainda no início de 2017, quando a empresa assumiu a gestão do parque, mesmo antes das grandes obras que tiveram início no final de 2018.

“Vale reforçar que esses animais vivem em recintos adequados e aprovados pelo IBAMA e que a concessionária cumpre com um rigoroso Plano de Manejo que foi desenvolvido em conjunto e vem sendo acompanhado de perto por IBAMA, INEA, Fundação RioZoo e Associação de Zoológicos e Aquários do Brasil (AZAB)” conclui.

Comissão da OAB/RJ visitou instalações do antigo Zoológico do Rio, que se tornará BioParque. – Foto: Divulgação

Por Arthur Leal

Fonte: Extra


Nota do Olhar Animal: É cascata do Grupo Cataratas que isso seja uma boa notícia. Os hipopótamos condenados à prisão perpétua solitária continuarão a cumprir a “pena” que lhes foi imposta e juntá-los não ameniza a injustiça. Continuarão confinados e passarão o resto de seus dias sem ali, trancafiados num recinto. A empresa está fazendo um grande investimento (R$ 80 milhões) para lucrar com a prisão dos animais e muitas notícias do tipo “boas #sqn”, como esta, serão divulgadas para tentar buscar melhorar a imagem de um tipo de instituição medieval e cruel para com os animais. O bioparque não é um projeto de transição para a extinção do zoo, tratá-lo como um “avanço” é desonesto. Ele não avança um centímetro para o fim deste esquema de exploração dos bichos, muito pelo contrário, concorre para perpetuá-lo, dando-lhe “uma mão de tinta” bem-estarista. Repetimos aqui a nota de postagem anterior:

“O bioparque não difere essencialmente em nada dos tradicionais zoológicos, que mantém os animais em regime de prisão perpétua para visitação pública. É um empreendimento com fins comerciais, precisa dar lucro. A pesquisa e reintrodução de animais é um dos papéis que os defensores deste tipo de instituição dizem que os zoos cumprem, portanto não é diferencial do bioparque. No caso dos outros, quase sempre é mentira, pois os animais nascidos no zoológico acabam sendo usados para “abastecer” o próprio zoológico ou outros, além de servirem como moeda de troca de animais. Enfim, que ninguém se engane, o bioparque é mais do mesmo.”

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