Contra a ingestão de lixo, criadores colocam ímãs no esôfago de vacas

Contra a ingestão de lixo, criadores colocam ímãs no esôfago de vacas
Agricultores inserem ímãs no esôfago de vacas para tentar evitar ingestão de metais. — Foto: Pixabay

Para quem não vê problema em jogar latinhas de refrigerante pela janela do carro no meio de uma estrada, um alerta: a poluição não afeta só a paisagem, mas também vai parar na barriga dos animais. Uma organização francesa adverte que, a cada ano, pelo menos 60 mil vacas desenvolvem infecções que podem levar à morte após ingerirem restos metálicos encontrados no meio do pasto.

As latinhas são apenas uma parte do problema. Arames farpados abandonados, pregos, ferragens, restos de pneus e uma infinidade de outros objetos metálicos acabam triturados pelo maquinário agrícola ou pelos próprios rebanhos. Desta forma, são engolidos acidentalmente pelas vacas, com consequências que vão de infecções à perfuração do abdome.

“Sabemos há bastante tempo que os pássaros, os peixes ou as tartarugas engolem plástico e outros dejetos jogados pelo homem. E um dia nos questionamos se esse problema de ingestão involuntária de objetos tóxicos e perfuradores não poderia estar acontecendo com outros animais, como as vacas”, conta a presidente da associação protetora Robin des Bois, Jacky Bonnemains . “Encontramos uma série de dados oficiais que provam que sim, o problema existe e é conhecido dos agricultores e os veterinários, mas ainda era ignorado do grande público.”

“Doença do lixo”

A federação francesa que reúne profissionais da pecuária, Interbev, denomina o problema como a “doença do lixo”. A entidade informa os agricultores sobre os riscos, que podem causar prejuízos como baixa de produtividade de leite ou a morte.

Para contornar a ameaça, muitos produtores adotam uma solução preventiva, mas que não é 100% segura: obrigam o animal a ingerir um ímã.

“O método é introduzir à força no esôfago dos bois ímãs que podem pesar até um quilo, que se apresentam em forma de caixa, ou então modelos menores de 100 gramas. Eles servem para captar todas as peças metálicas que os bovinos comeram no campo”, explica Bonnemains. “É uma prática muito contestável do ponto de vista de bem-estar animal, dolorosa. No momento da introdução do ímã, ele pode perfurar a laringe do animal.”

Problema mundial

Além disso, ressalta a presidente da associação, os ímãs não captam plásticos que, na sua forma mais rígida, podem ser igualmente prejudiciais à saúde dos rebanhos. A francesa destaca que a ingestão de resíduos pelos animais é um problema mundial: há registros de pesquisas nesse sentido na Holanda, na África do Sul ou no Brasil.

“O melhor seria uma grande limpeza dos campos, dos estábulos e todos os locais onde as vacas gostam de ir. Pedimos uma operação para a retirada progressiva dos milhões de pneus velhos que são utilizados na agricultura para diversas funções. É algo que não será feito com uma varinha de condão: será uma operação cara, mas necessária”, alerta.

“Seria importante também os abatedores informarem melhor as autoridades sobre o assunto, afinal eles são os mais aptos a verificar o que acontece. E por fim, é preciso que as pessoas se deem conta de que, ao jogar uma latinha pela janela, podem causar a morte de um animal e problemas para os agricultores”, relata Bonnemains.

As vacas não são as únicas atingidas. A presidente da associação diz que estudos feitos no leste da África mostram que ovelhas e cabras também sofrem com esse problema.

Fonte: G1 (RFI)


Nota do Olhar Animal: a matéria assinala destaca a prática imoral do uso de ímãs no esôfago das vacas como o problema princicipal, sem apontar como outros ainda mais relevantes: a exploração em si e o abate dos animais ao fim de seu período “produtivo” (inclusive de vacas ‘leiteiras’). Entendemos que o tratamento dispensado aos animais durante este “período produtivo” é um terrível agravante no ciclo de produção de carne/leite, já que lhes impõe enorme sofrimento. Mas temos a convicção de que a ação mais danosa para o animal é a escravidão e o abate em si, independentemente de como ele tenha sido tratado antes de ser morto. Nada é mais grave do que o desrespeito ao interesse mais básico do animal, que é o interesse em viver. Nada é mais injusto do que a violação do direito moral mais fundamental dos seres sencientes, que é o direito à vida.

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