Caso Braskem: ONG denuncia mortandade de animais nos bairros afundados em Maceió, AL

Caso Braskem: ONG denuncia mortandade de animais nos bairros afundados em Maceió, AL
De acordo com a ONG SOS Pet Pinheiro, apesar da Braskem dizer que monitora os bichos, muitos animais domésticos surgem mortos - Foto: Adailson Calheiros

A organização não-governamental SOS Pet Pinheiro denuncia a mortandade de animais domésticos, a maioria gatos e cachorros, nos escombros das casas e pontos comerciais dos bairros atingidos pelo afundamento do solo em Maceió. De acordo com a presidente da ONG, a advogada Elisa Moraes, só este ano, de janeiro a agosto, já morreram 67 gatos nos escombros dos imóveis desativados na região do Pinheiro, Bebedouro, Mutange, Bom Parto e parte do Farol.

“Essa realidade é de cortar o coração. Tem aumentado muito a mortandade de animais domésticos na região afetadas pela mineração, em Maceió. No ano passado todo, nós identificamos 72 gatos mortos. Este ano, já são quase 70 gatos. Isso sem falar naqueles que morrem ou desaparecem e a gente não toma conhecimento”, relatou Elisa Moraes. “O último caso, registado na terça-feira, foi da Florinha, uma gata muito querida, criada por um casal de Bebedouro”, acrescentou.

“Segunda-feira passada apareceu um gato morto no Farol, próximo ao Hospital Portugal Ramalho. Na terça-feira, foi a vez da gata Florinha, nas proximidades do Cemitério de Bebedouro”, completou a advogada. Segundo ela, além dos gatos, vários cachorros também foram encontrados mortos este ano na zona de exclusão da Braskem. “A dona de um desses cachorros, inclusive, registrou um boletim de ocorrência para que a morte da cadelinha dela fosse investigada, com suspeita de envenenamento”.

A advogada relata ainda que são muitos os casos, mas apenas alguns são registrados e um número ainda menor investigado pela Polícia Civil. “Só para se ter uma noção, a dona Telma, que morava na área afetada do Farol, alimentava os animais de três ruas, perto do Portugal Ramalho. De janeiro deste ano até a última segunda-feira, com a morte do Pretinho, ela contabilizou 15 gatos mortos. Detalhe: essa senhora sabe os nomes de todos os gatos que morreram”.

De acordo com relatos de outros moradores, a maioria dos animais morre nas proximidades do local de alimentação, o que aumenta a suspeita de envenenamento. Mas as causas das mortes, segundo a ONG SOS Pet Pinheiro, são praticamente as mesmas: abandono, atropelamento e envenenamento. No entanto, como são animais de rua, abandonados pelas famílias que se mudaram dos bairros afundados, são poucas as denúncias investigadas pelas autoridades policiais.

Denúncias têm chegado à Delegacia dos Crimes Ambientais e Proteção Animal

Segundo o delegado Robervaldo Davino, ao todo, seis casos de mortes de animais foram denunciados à Delegacia dos Crimes Ambientais e de Proteção Animal, sendo que quatro já foram concluídos e dois ainda estão sendo investigados. “Quatro pessoas já foram responsabilizadas pela morte de quatro animais e mais duas pessoas estão sob investigação”, informou Davino. “Apesar da gente saber que existem outros casos, mas a polícia só pode investigar quando é feito o Boletim de Ocorrência”, acrescentou.

O delegado do 6º Distrito Policial, onde fica a sede da especializada no bairro de Cruz das Almas, disse ainda que a maioria dos casos ocorrem sem que as pessoas prestem queixa à Polícia Civil, por isso fica difícil dimensionar o tamanho do problema. Afinal, são mais de 1.100 animais abandonados pelos donos que deixaram suas casas e seus pontos comerciais, nos últimos cinco anos. Principalmente, quando a Braskem começou o processo de demolição dos imóveis indenizados pela petroquímica.

“Essas quatro pessoas que foram responsabilizadas pela morte desses quatro animais vão responder pelo crime em liberdade, porque a legislação ainda é muito branda para esse tipo de delito”, comentou Davino. “São pessoas que ficaram nos bairros afetados pela Braskem, mas não têm afinidade com os animais. A maioria foi responsabilizada pelo abandono ou pelo descarte irregular do animal morto, mas estamos investigando também casos de envenenamento”, explicou.

Robervaldo Davino disse ainda que os casos de animais mortos estão ocorrendo também em outros bairros, mas a mortandade maior de gatos e cachorros é registrada na região afetada pela mineração da Braskem. No entanto, os moradores precisam registrar a ocorrência ou procurar uma delegacia mais perto para fazer um termo circunstanciado de ocorrência (TCO), caso contrário esses crimes vão continuar impunes. “Sem ocorrência, a gente fica de mãos atadas. Não podemos fazer nada”, concluiu.

Para a advogada Elisa Moraes, o trabalho da polícia é muito importante na investigação dos casos, mas a Braskem, que tem um programa de acolhimento dos animais domésticos, deveria ser mais eficiente na proteção dos bichos. “A gente vê muita propaganda da Braskem, dizendo que faz isso, que faz aquilo, na proteção animal; que está trabalhando em parceria com a Universidade Federal de Alagoas, mas na prática o resultado é muito pouco, é quase insignificante”, observou a advogada da ONG Pet Pinheiro.

“Esta semana, eu escrevi um texto e postei nas mídias sociais, sobre a morte da gata Florinha, com muita dor no coração. Eu tinha acabado de receber a notícia de uma amiga que contou, chorando, sobre a morte dessa gatinha, que era muito amada por todos nós e era cuidada há anos pela Sandra da ONG SOS Pet Bebedouro”, relatou Elisa. “Isso nos deixa sem chão! É tudo muito injusto! Onde está a justiça?! Porque nesse momento ela parece estar ao lado da Braskem”, desabafou.

“Para a Braskem podem ser números os gatinhos dos bairros afetados pela mineração, mas para nós não. Para nós é a Florinha, o Pretinho, o Bisteca, o Fofão. Para nós, é uma vida que importa. Mas, é como as pessoas falam: se a Braskem não respeita nem o ser humano, a gente ia achar mesmo que ela ia respeitar os animais?! Só se vivêssemos em um dos mundos de história em quadrinhos, do multiverso da Marvel”, acrescentou a advogada. Ela própria se dizendo muito triste e decepcionada com essa realidade.

Por Ricardo Rodrigues

Fonte: Tribuna Hoje

Os comentários abaixo não expressam a opinião da ONG Olhar Animal e são de responsabilidade exclusiva dos respectivos autores.