Filhotes de tubarão-limão são mortos em Noronha e ICMBio investiga crime ambiental após pesca de espécie em extinção

Filhotes de tubarão-limão são mortos em Noronha e ICMBio investiga crime ambiental após pesca de espécie em extinção
Nadadeiras de filhotes de tubarão-limão encontradas em Fernando de Noronha — Foto: Roberto Rodrigues/ICMBio

O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) está investigando a pesca ilegal de tubarões-limão, espécie ameaçada de extinção, em Fernando de Noronha. Um grupo que praticava hidroginástica na Baía de Santo Antônio encontrou nadadeiras decepadas de filhotes e comunicou às autoridades, que investigam crime ambiental.

Segundo o ICMBio, três tubarões filhotes foram mortos. O caso foi comunicado ao instituto na segunda-feira (8), mas, segundo o órgão, os filhotes de tubarão-limão foram mortos na noite do domingo (7). As nadadeiras foram encontradas em águas rasas do Porto de Santo Antônio.

Em entrevista ao g1, o analista ambiental e coordenador de fiscalização do ICMBio em Fernando de Noronha, Douglas Fortini, disse que testemunhas viram três pessoas pescando na área onde os tubarões foram mortos, por volta das 22h do domingo. Segundo ele, a Polícia Federal também foi acionada para investigar o caso.

“O pessoal ficou com medo. Ninguém acionou a fiscalização nem ligou para a polícia, nem fez nada, porque eles estavam com facão, alguma coisa assim. A gente está recorrendo às câmeras que podem ter algum tipo de imagem no local. A gente já olhou algumas e continua solicitando imagens de outras para ver se a gente consegue identificar os responsáveis”, disse o coordenador de fiscalização do ICMBio.

Ainda de acordo com o analista ambiental, os suspeitos que forem identificados vão responder a um processo administrativo, com aplicação de uma multa que pode chegar a R$ 10 mil por pessoa, além do inquérito criminal.

O ICMBio publicou uma nota em que diz que o tubarão-limão está em pleno período reprodutivo, e a pesca é proibida em toda a ilha. Por causa desse período, o instituto informou, ainda, que é comum avistar filhotes de tubarão em regiões muito próximas à praia.

“Este comportamento acontece como uma defesa dos animais à predação de tubarões maiores e de outros animais marinhos. Com a proximidade da costa, os animais ficam mais expostos à pesca predatória e à interação com banhistas”, informou o instituto na nota.

Ainda segundo o ICMBio, até agora, os incidentes registrados com tubarões-limão na Ilha foram de “trombadas” com surfistas. Entretanto, houve um caso de crime ambiental em que uma turista atacou um tubarão filhote para fazer uma foto, retirou o animal da água e foi mordida, em 2017.

O ICMBio também disse que, embora sejam necessários cuidados, a interação de banhistas com os tubarões-limão é pacífica. É preciso se atentar às seguintes medidas:

  • Jamais perseguir ou alimentar os tubarões;
  • Usar colete e nadadeira;
  • Procurar manter boa flutuabilidade, evitar agitar braços e pernas, e na presença de cardumes de sardinha.

Com isso, de acordo com o instituto, é possível não estressar ou alterar o comportamento dos animais, que estão em seu habitat natural. Outras medidas de segurança necessárias são preferencialmente mergulhar acompanhado e evitar água turva e os horários de amanhecer e anoitecer.

Fiscalização e impactos da pesca

Para a bióloga e coordenadora do Instituto Tubarões e Raias de Noronha, Bianca Rangel, a gravidade das mortes de tubarões-limão na Baía de Santo Antônio é “bem grande”.

“Primeiro, porque se trata de uma área onde todas as espécies de tubarões, raias e outros animais são protegidas. […] O tubarão-limão está, atualmente, ameaçado de extinção, e Fernando de Noronha é uma das três áreas de vida dessa espécie onde a gente tem a presença desses animais”, disse a bióloga e coordenadora do Instituto Tubarões e Raias de Noronha, Bianca Rangel.
Ainda de acordo com a pesquisadora, além de Fernando de Noronha, o Atol das Rocas, no Rio Grande do Norte, e o arquipélago de Abrolhos, na Bahia, são os únicos locais que os tubarões-limão habitam.

Na avaliação da especialista, ainda há poucas informações precisas sobre o impacto das atividades pesqueiras nas áreas de proteção ambiental em Fernando de Noronha.

“Pode ser que tenha pessoas pescando e matando esses animais. E a gente não tem registros. A pessoa abandonou as partes do animal na praia. […] Um primeiro passo seria, justamente, aumentar a fiscalização nessas áreas e entender qual o impacto da pesca nos tubarões em Noronha”, afirmou a bióloga.

Também segundo Bianca Rangel, além da pesca predatória, outro fator de risco para a espécie — que, nos primeiros anos, costuma viver em águas rasas — é a pesca acidental.

“Às vezes, o pescador sai para pescar tumba ou barracuda e acaba pescando tubarão. Vários deles [os pescadores] liberam, mas o tubarão acaba saindo com anzol, machucado”, contou.

O coordenador de fiscalização do ICMBio em Fernando de Noronha disse que a atual gestão do instituto tem buscado intensificar o monitoramento nas áreas de proteção do arquipélago.

“O que a gente está fazendo é tentar se aproximar dos operadores do turismo no Porto [de Santo Antônio] para tratar com eles de um sistema de vigilância, para nos ajudar a vigiar aquela região e também para melhorar a educação ambiental para os turistas para o convívio com esses animais”, declarou Douglas Fortini.

Fonte: g1

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