Juiz que ofendeu vítimas de crimes sexuais em audiência já foi acusado de participar de rinha de galo

Juiz que ofendeu vítimas de crimes sexuais em audiência já foi acusado de participar de rinha de galo
O Pleno do TJCE decidiu arquivar o PAD. Foto: Reprodução

O juiz Francisco José Mazza Siqueira, que teria revitimizado mulheres enquanto presidia audiência acerca de processo de indenização a partir de crimes sexuais, já foi acusado pelo Ministério Público do Ceará (MPCE) por participar de rinha de galos, no Cariri.

O MP formalizou denúncia no dia 26 de maio de 2011 acusando o magistrado de também promover a criação desses animais em cativeiro, na própria residência. Dois anos depois, o Pleno do Tribunal de Justiça do Ceara (TJCE) arquivou o pedido de instalação de Processo Administrativo Disciplinar (PAD), contra o juiz, à época titular da 2ª Vara da Comarca do Crato.

Na época, o TJCE divulgou reportagem comentando a decisão. “Os desembargadores decidiram, por maioria de votos, pelo arquivamento do processo. Os magistrados concluíram pela inexistência de indícios suficientemente capazes de ensejar a instalação do PAD. Eles também ressaltaram a ausência de atos desabonadores na conduta profissional do magistrado, que é juiz de carreira há 18 anos, sendo 15 deles na Comarca do Crato”, disse o Tribunal, em agosto de 2013.

O que dizia a denúncia

Conforme o MPCE, Francisco José Mazza ainda teria efetuado ligação telefônica intimidando um delegado de Polícia Civil do Ceará, que investigava a ocorrência de rinhas na região do Cariri.

“Em 25 de novembro de 2011, a Corregedoria-Geral da Justiça do Estado determinou instalação de sindicância para apuração dos fatos. O magistrado assumiu ter participado de rinha em 1997, antes da entrada em vigor da Lei de Crimes Ambientais (Lei nº 9.605/98). Disse ainda que deixou de criar galos desde 2004”.

A partir da acusação, o corregedor-geral da Justiça do Estado e relator do processo, Francisco Sales Neto, votou pela abertura do Procedimento Administrativo Disciplinar. Sales indicou que havia indícios de postura incompatível com exercício do cargo e de violação ao Código de Ética da Magistratura Nacional, por parte do colega de categoria.

“Somente o aprofundamento investigativo apontará, com precisão, se o representado ainda persiste na prática do crime de maus-tratos de animais ou se, efetivamente, abandonou a conduta típica em momento temporal já alcançado pelo lapso prescricional”, disse o corregedor.

A defesa apresentou tese de que Mazza vinha sendo vítima do delegado que o investigava.

O arquivamento

No dia 2 de agosto de 2013, quando os desembargadores votaram pelo arquivamento, eles ressaltaram nas suas falas que “a criação de galos em domicílio é um hobby do juiz, não interferindo negativamente na execução de suas responsabilidades”.

Francisco Lincoln Araújo e Silva presidiu a sessão e teria dito também que: “talvez ele tivesse até razão em, não digo ameaçar, mas censurar o delegado, porque delegado não pode investigar juiz, não. (…) E criar galinha? Isso não tem relevância penal”.

Por Emanoela Campelo de Melo

Fonte: Diário do Nordeste

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