Tamanduaí abandonado em mochila é resgatado no Piauí

Tamanduaí abandonado em mochila é resgatado no Piauí
Menor tamanduá do Brasil se assemelha a um bichinho de pelúcia — Foto: Flávia Miranda/ Arquivo Pessoal

No Delta do Parnaíba, uma das mais belas paisagens do mundo localizada entre o Piauí e o Maranhão, um tamanduaí foi resgatado de dentro de uma mochila abandonada.

VÍDEO mostra tamanduaí sendo retirado de dentro da mochila

O que aparentemente poderia ser trágico, resultado de uma tentativa de tráfico ilegal de animais, teve um final feliz graças à preocupação dos oficiais da Companhia Independente de Policiamento Turístico de Luís Correia (PI) que, ao localizar o animal, acionaram o IBAMA.

Junto ao biólogo Alexandre Martins, vice-presidente da ONG Instituto de Pesquisa e Conservação de Tamanduás do Brasil, os especialistas resgataram e examinaram o tamanduaí, antes de devolvê-lo à natureza.

A soltura imediata se fez não só pelo estado saudável do animal, mas pela falta de estrutura para tratar a espécie em cativeiro, cenário que preocupa Flávia Miranda, coordenadora da ONG.

“Não conseguimos mantê-lo em cativeiro, pois não temos dados básicos da espécie, como a dieta por exemplo. Precisamos de apoio para realizar pesquisas com o tamanduaí na natureza antes de dar esse passo”, explica a especialista, que indica alguns cuidados necessários caso outros animais sejam encontrados em situação de risco.

“O mais interessante é tentar devolvê-lo para uma área próxima de mata o mais rápido possível. Além disso, é importante entrar em contato com o órgão responsável pelo meio ambiente no local”, completa.

De acordo com a médica veterinária, a falta de informações impede ações de conservação. No entanto, a equipe da ONG tem trabalhado para mudar essa realidade. “Nós trabalhamos com políticas públicas e pesquisa aplicada. Tudo que desenvolvemos nas universidades é colocado em prática e aberto para a sociedade”, diz.

Alimenta-se apenas de formigas arborícolas e cupins — Foto: Flávia Miranda
Alimenta-se apenas de formigas arborícolas e cupins — Foto: Flávia Miranda
Grande família

Se engana quem pensa que no Brasil vive apenas uma espécie de tamanduaí. Após 10 anos de pesquisas e mais de 19 expedições, cientistas do Projeto Tamanduá descobriram sete tamanduaís diferentes.

Também chamadas de tamanduá-anão e tamanduá-fantasma, pela habilidade em se esconderem, as espécies se diferenciam pela morfologia, genética e distribuição geográfica.

As descobertas avançaram tanto que foi possível, inclusive, estimar o período em que os animais se divergiram: há mais de 10 milhões de anos, com a formação do Rio Amazonas e a mudança de curso da bacia hidrográfica.

Animal é considerado raro e difícil de ser encontrado na natureza — Foto: Flávia Miranda/ Arquivo Pessoal
Animal é considerado raro e difícil de ser encontrado na natureza — Foto: Flávia Miranda/ Arquivo Pessoal

Dos seis novos tamanduaís, pelo menos três são endêmicos do Brasil, realidade que evidencia ainda mais a necessidade de pesquisas mais aprofundadas sobre eles. “Hoje o tamanduaí está como ‘Menos preocupante’ na lista de espécies ameaçadas, mas estamos revisando o status de conservação das sete espécies e, com certeza, teremos duas ameaçadas de extinção e algumas com dados deficientes”, explica Flávia, pesquisadora do Projeto.

Com até 35 centímetros e aproximadamente 250 gramas, o tamanduaí é o mais noturno e arborícola dos tamanduás.

Solitário, se alimenta predominantemente de formigas e, quando ameaçado, toma postura defensiva, erguendo-se sobre as patas posteriores e posicionando as garras próximas à face.

O tamanduá-bandeira é um dos únicos mamíferos terrestres que não possue dentes. — Foto: Carlos Alberto Coutinho/TG
O tamanduá-bandeira é um dos únicos mamíferos terrestres que não possue dentes. — Foto: Carlos Alberto Coutinho/TG
O Projeto

Além do tamanduaí, tamanduá-bandeira, tamanduá-mirim, preguiça-de-coleira e algumas espécies de tatus são estudadas pela equipe do Instituto que, há aproximadamente 15 anos, foi criado para preservar os animais.

“Começamos nosso trabalho em cativeiro em um zoo de São Paulo e vimos a importância de coletar dados dos animais na natureza”, explica Flávia, que pontua as bases de pesquisa da ONG.

“No Pantanal, trabalhamos com os tamanduás bandeira e mirim e com os tatus. No Delta do Paranaíba estudamos o tamanduaí e o tamanduá-mirim, além de atuarmos com reflorestamento no mangue. Já na Praia do Forte trabalhamos com as preguiças”, conta.

A veterinária destaca ainda a importância das pesquisas realizadas no zoológico para analisar a saúde, genética e reprodução dos tamanduás. “Apoiamos a elaboração de planos de manejo e lista vermelha, além de educar e capacitar a comunidade”, completa Flávia.

Fonte: G1

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