Conselho de Veterinária contraindica campanha feita por prefeitura que usa remédio para evitar que cadelas e gatas entrem no cio em Goiás

Conselho de Veterinária contraindica campanha feita por prefeitura que usa remédio para evitar que cadelas e gatas entrem no cio em Goiás
Cachorro envolvido em uma toalha laranja, em Goiânia — Foto: Divulgação/Ascom SMS

O Conselho de Veterinária desaconselhou uma campanha que foi realizada pela Prefeitura de Ipameri, no sudeste de Goiás, que utilizou um remédio para evitar que cães e gatos entrem no cio. Chamado “sábado de vacinação”, a ação aconteceu no dia 25 de fevereiro nas unidades de saúde da cidade e, segundo prefeitura, tinha objetivo de ‘evitar o abandono dos animais, que diariamente têm aumentado’. A nota técnica foi publicada no site do Conselho de Medicina Veterinária em Goiás um dia antes do evento.

“A prevenção é a melhor forma de controlar a reprodução animal e reduzir a quantidade de animais abandonados na cidade”, dizia o anúncio da campanha.

No documento, a entidade explicou que o remédio se trata de um hormônio, e não de uma vacina, sendo um análogo sintético da progesterona. A médica veterinária do Centro de Zoonoses de Goiânia, Luana Borboleta, explicou ao g1 que esse tipo de medicamento altera a fisiologia do organismo do animal e interrompe o ciclo normal, principalmente porque, para que seja possível obter o efeito farmacológico, de inibição do cio ou abortamento, geralmente esse medicamento é “administrado em altas doses”.

Na nota técnica, o conselho afirmou que a exposição dos animais a altas doses desses hormônios pode causar o desenvolvimento de câncer e nascimento de filhotes com deformações, além de acarretar em infecções uterinas, que podem levar à morte.

Já a Prefeitura de Ipameri afirmou que tem buscado “medidas eficadez para “controlar a população de cães e gatos, bem como controle de zoonoses” e que a campanha se tratou de uma “ação de aplicação facultativa de anti-cio, como medida paliativa às demais ações/estratégias prioritárias que estão em fase de implementação”. Também afirmou que os animais são avaliados por um veterinário para receber o remédio e que a ação foi feita de forma “segura, orientativa e consciente”.

A prefeitura ainda pontuou que a medicação anti-cio é vendida livremente em “todas as lojas comerciais autorizadas no Brasil” e que o objetivo da campanha foi evitar o abandono dos animais. Segundo a prefeitura, apesar da campanha ter terminado, o medicamento continua à disposição dos moradores.

Para a médica veterinária Luana Borboleta, o fato desses medicamentos serem vendidos sem receita e terem baixo custo faz com que a situação seja ainda mais preocupante, uma vez que, sem a receita para recomendação médica, isso pode significar que o animal não teve um acompanhamento correto.

“Comparado a outros métodos contraceptivos [que custam mais caro], considerando pessoas de baixa renda, isso se torna um atrativo. Existem famílias que não têm condições de arcar com esse custo”, diz Luana.

Ela ainda explicou que o grande problema do uso desses medicamentos é a falta de assistência veterinária para determinar a época correta de administração do medicamento, além de doses erradas. No entanto, ela ainda ressaltou que, com o acompanhamento adequado, o remédio pode ser utilizado em estudos reprodutivos.

“Quem compra às vezes nem lê a bula para saber qual a especificação de administração no animal, então o animal acaba recebendo doses altas de hormônio, colaborando para os efeitos colateriais”, explicou.

Já a veterinária Márcia Melo, disse em entrevista à TV Anhanguera, que já recebeu diversos animais doentes em seu consultório, devido ao uso do medicamento.

“[Já atendi] muitas vezes e até vir a óbito por causa disso”, explicou.

Ações de controle de ‘densidade’ em Ipameri

Ao pontuar que a campanha de vacinação anti-cio foir ealizada como medida paliativa às demais ações que estão em fase de implementação, a prefeitura de Ipameri afirmou que recentemente contratou uma empresa para a realização de castração de animais abandonados, mas que os procedimentos não foram executados por falta de aprovação do o Conselho Regional de Medicina Veterinária (CMRV).

Entre os contratos que a prefeitura afirmou ter realizado, estão:

  • contratação de empresa para serviços de contenção e tratamento pós cirúrgico (castração) de cães e gatos abandonados;
  • contratação de empresa para o fornecimento de insumos para contenção e tratamento pós cirúrgico (castração) de cães e gatos abandonados.

O g1 solicitou um posicionamento ao conselho quanto a aprovação desses projetos e aguarda retorno.

Por Gabriela Macêdo

Fonte: G1


Nota do Olhar Animal: Prefeituras que insistem na aplicação da chamada “vacina anti-cio” devem ser alvo da ação do Ministério Público por maus-tratos contra animais, posto que é notório o efeito nefasto destas injeções como método de controle populacional, causando tumores nos animais, Incrível também é que continuem a ser comercializadas impunemente. Por outro lado, caberia também uma ação do MP por improbidade administrativa, já que o método é absolutamente ineficaz e um desperdício de recursos públicos.

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