Moradores impedem Naturatins de capturar arara que vive no Jalapão e interage com turistas: ‘Ela vive livre’

Moradores impedem Naturatins de capturar arara que vive no Jalapão e interage com turistas: ‘Ela vive livre’
Arara voando em quilombo no Jalapão — Foto: Reprodução

Uma arara-canindé que vive no quilombo Carrapato, na zona rural de Mateiros (TO), tem se tornado o centro de uma polêmica envolvendo restaurantes, turistas e o Instituto Natureza do Tocantins (Naturatins). A ave é chamada de Nina e apesar de viver livre parece acostumada com os humanos e gosta de interagir. Na semana passada fiscais do órgão tentaram capturá-la, pela segunda vez, mas foram impedidos por moradores.

A Ana Cássia Marques é dona de um restaurante na comunidade quilombola. Ela diz que recebe diariamente cerca de 60 turistas e a arara Nina aparece quase todos os dias no local, mas garante que a ave não é alimentada e também não tem a liberdade restringida.

“Tem uma casa que ela tem como referência, mas não é morada dela. Ela não dorme lá, dorme é nas árvores, em pés de coco. Ela aparece quase todos os dias, mas tem vezes que vai para outros locais”, disse.

Vídeos feitos no quilombo mostram que a ave gosta de ficar perto das pessoas. Ela sobe nos telhados, pega carona nos carros, faz pose para as fotos e até brinca com outros animais.

A comerciante conta que os turistas tinham a prática de tirar fotos com Nina, mas ocorreram denúncias e os fiscais tentaram capturá-la pela primeira vez. Depois disso, ela diz que tem trabalhado a conscientização para que as pessoas evitem contato.

Na semana passada os fiscais do Naturatins voltaram à região para capturar a Nina e outras duas araras que vivem próximo ao fervedouro Alecrim. Como eles não apresentaram nenhum documento, os moradores protestaram e houve uma confusão. No fim, a Nina não foi capturada novamente.

“Falaram que a gente tá fazendo prostituição animal e usando a imagem da arara para fins lucrativos. Eu nunca parei de trabalhar para manusear a Nina através de comida para turista tirar foto, nunca tive tempo para isso, nunca tive intenção. É um absurdo”, afirmou. 

A comerciante acredita que o melhor caminho seria trabalhar a conscientização dos turistas e não levar as araras para cativeiro. “Ela não tem sinal nenhum de maus-tratos, ela é livre e vai para onde quer. Se existia essa prática de tirar fotos com ela, se alguém por ventura deu comida para ela, tem que trabalhar essa conscientização de não alimentar, não manusear, mas essa questão de tirar a Nina daqui aí sim é um crime porque ela vive livre.”

O Instituto Natureza do Tocantins (Naturatins) afirmou ao G1 que a operação foi motivada porque o animal é alimentado com comida humana e isso gera riscos à ave. “Uma vez que o animal já demonstra estar acostumado com a presença humana, tendo se tornado dócil e incapaz de buscar seu próprio alimento na natureza”, diz nota do órgão.

O Naturatins afirmou que essa aproximação resulta em um tipo de domesticação da ave silvestre, o que a torna vulnerável e indefesa diante da ação de traficantes, além do risco de morte por intoxicação alimentar.

Segundo o órgão, o recolhimento da ave tinha sido acordado com um responsável que resgatou o animal na natureza e se propôs a realizar a entrega voluntária.

“Diante o exposto, cabe ao Naturatins recolher o animal, encaminhá-lo para reabilitação no Centro de Fauna do Tocantins (Cefau), promover o retorno da ave à convivência em grupos de sua espécie e realizar a posterior soltura no habitat natural”.

O órgão não informou se vai tentar uma nova captura da Nina e das outras aves ou quando isso deve acontecer.

Arara brincando com cachorro em quilombo — Foto: Reprodução

O Jalapão
 
O Parque Estadual do Jalapão é uma área de preservação permanente que engloba diversos municípios das regiões leste e sudeste do estado. São vários atrativos espalhados pela zona rural destas cidades, entre os mais famosos estão o fervedouro, as dunas e as cachoeiras. Muitos deles são em áreas particulares.

Antes da pandemia, as dunas chegaram a registra mais de 32,2 mil visitantes o local ao longo do ano. Em 2020, depois que os atrativos foram reabertos no meio da pandemia, foram registradas mais de duas mil visitas em um único mês.

Por Patrício Reis

Fonte: G1

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