Moradores rejeitam o transporte de animais vivos pelo Porto de São Sebastião, em SP

Moradores rejeitam o transporte de animais vivos pelo Porto de São Sebastião, em SP
Animais chegam aos navios depois de muitas horas em caminhões sem ventilação adequada.

O Movimento Carga Viva Não, composto por moradores de São Sebastião e de todo o Brasil, intensificou seus esforços nos últimos meses para protestar contra a exportação de animais vivos. A população está ciente dos riscos associados à prática e exige a proibição imediata das regulamentações, visando a proteção dos animais. A comunidade de defesa dos animais pede atenção urgente para a situação dos bichos vitimados no incidente internacional que resultou no abandono do navio na Austrália com 16 mil animais, devido ao risco de ataques dos houthis no Mar Vermelho. O movimento reforça a necessidade de banir a prática de exportação de animais vivos no Brasil. O descaso e os maus-tratos com os animais e o risco ambiental acarretado por este tipo de transporte merece imediata suspensão dos embarques. A Câmara de Vereadores de São Sebastião fez o Projeto de Lei 02/2024, que proíbe este tipo de atividade no porto do município.

População rejeita o transporte de animais vivos pelo Porto de São Sebastião, em SP
WMF Express já teve problemas em Ceuta e em Portugal.

A situação e transporte dos animais exportados vivos é absolutamente lamentável e vai contra todas as legislações que os defendem. No dia 02 de fevereiro, partiu do Porto de São Sebastião (SP), o navio WMF Express, fundeado desde 19 de janeiro no local, para a Argélia. A embarcação saiu do Porto com de 3,6 mil bois, cada animal pesando entre 600 e 700 kg. Este transporte, conforme o seu fabricante não deveria estar ainda em atividade. A embarcação, de 86,6 metros e 2.722 toneladas, construída em 1991, tem vida útil de 11 a 15 anos, segundo a Kitanihon Shipbuilding Co Ltd., estaleiro que a construiu. “A vida útil de um navio varia muito, dependendo de como ele é usado e mantido. Esta vida útil poderá ser prolongada ao se investir em reparos e manutenção, mas mesmo levando isto em consideração, estima-se que o limite seja de cerca de 25 anos. Ficaríamos surpresos se o navio, construído em 1991, ainda estivesse em operação, então, por favor, avise-nos”, alertou e-mail enviado pela empresa que construiu o WMF Express.

A embarcação tem histórico bastante comprometedor, tendo sido responsável pelo maior derramamento de óleo em duas décadas, em 2020, em Ceuta, na Espanha. Na época, com o nome de Holstein Express, o administrador do Porto de Ceuta multou a embarcação em 410 mil dólares, cerca de 2 milhões de reais, por ter derramado cinco toneladas de óleo durante o abastecimento de combustível.

População rejeita o transporte de animais vivos pelo Porto de São Sebastião, em SP
Estaleiro que construiu WMF Express afirma que navio não deveria estar em atividade desde 2018.

Hoje com 33 anos, foi batizado de Ariake Maru nº 8, em 2006, recebeu o nome de Leader, em 2011 passou-se a chamar Leader I para em seguida ser rebatizado como Orient I. Só em 2014 recebeu o nome de Holstein Express. E sob esta alcunha houve pelo menos dois grandes problemas com a embarcação em 2020. A primeira foi em janeiro, quando ocorreu o derramamento de combustível em Ceuta, pondo em risco a biodiversidade da região. Antes de sua chegada à Espanha, o navio havia entregue 3 mil bois em Alexandria, no Egito. Conforme a PATAV (Plataforma Anti-Transporte de Animais Vivos), uma avaria causou a parada do navio durante 26 dias em alto mar com centenas de animais vivos a bordo, em 16 de julho de 2020. A embarcação havia saído na madrugada do Porto de Sines, o maior porto artificial de Portugal, em direção à Israel, mas por “problemas técnicos” precisou ficar fundeada no local. Em 2023 o nome do navio foi trocado para WMF Express.

A ferrugem e o acúmulo de resíduos fazem com que este tipo de transporte necessite de revisões constantes, o que gera custo bastante elevado e faz com que as companhias proprietárias pelas embarcações os substituam por novas. Em 2020, quando ocorreram os maiores problemas, a embarcação já tinha 29 anos, e hoje, com quatro anos depois, está carregando três mil e seiscentos bois para a Argélia com previsão de chegada em 16 de fevereiro.

Movimento Carga Viva Não

A advogada animalista, Letícia Filpi, revelou as dificuldades que tem enfrentado no seu trabalho contra o embarque de animais vivos no Porto de São Sebastião: “Existem provas fartas dos maus-tratos aos animais, ocorridos nestes embarques. Há estudos comprovando que os navios não são preparados para o transporte de animais. Há uma gama de provas de insubordinação a inúmeros direitos. É o risco ambiental marinho, é o risco ambiental às unidades de conservação do entorno, é o risco ambiental do mangue do Araçá que será totalmente destruído, com consequências imprevisíveis. E a gente vê o Poder Público assistindo e muitas vezes, inclusive, incentivando esta atividade que é uma afronta a direitos, a direitos fundamentais humanos, aos direitos dos animais, aos direitos da terra, ao direito à saúde pública. O pior de tudo é que eles, embora eleitos pela população não a ouvem. A população de São Sebastião, na Câmara de Vereadores, afirmou que é contra os embarques de animais vivos na cidade, por tudo o que foi citado e também pelos danos psicológicos e emocionais em ver os animais sofrendo sem poder fazer nada. Este sentimento de impotência, de compaixão pelos animais, que estão ali sofrendo, pois eles passam nos caminhões, a população vê e sofre junto com eles e o Poder Público simplesmente ignora tudo isto. Então, definitivamente algo precisa mudar urgentemente”, afirma a Letícia.

Por Janine Koneski de Abreu

Fonte: Olhar Animal


Nota do Olhar Animal: O transporte é uma das situações no sistema de produção de carne e de outros produtos de origem animal em que os animais são submetidos a intensos maus-tratos. Trata-se de um agravante em relação ao dano maior, que é o abate, que viola o interesse mais básico destes seres, que é o interesse em viver. Só há uma forma definitiva de poupar os animais de todo esse sofrimento, só há uma maneira de não ser cúmplice da crueldade e da injustiça cometida contra eles: é não consumindo estes “produtos” e, assim, deixando de financiar as atrocidades cometidas contra estes animais.

Se a morte dos animais é o principal problema, há também outras questões bem graves vinculadas à exportação de animais vivos, como o trabalho escravo e o desmatamento, indicados em uma matéria do UOL que pode ser acessada aqui

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