Portugal: associação em São Pedro do Sul quer criar um santuário para os cães de matilha

Portugal: associação em São Pedro do Sul quer criar um santuário para os cães de matilha
Associação 1Mão Por 1Pata.

Vivem em matas periféricas às cidades, terrenos abandonados e sítios onde, normalmente, não têm qualquer contacto direto com os seres humanos. Os cães de matilhas continuam a ser um dos principais problemas da causa animal no País e também um dos mais ignorados. O motivo? A maioria não é socializada e a vida numa jaula “não é a solução”.

A Associação 1Mão Por 1Pata, em São Pedro do Sul, distrito de Viseu, lançou um projeto para a criação de um santuário ao ar livre onde estes possam viver em segurança no próprio habitat. “É um bocadinho diferente aos parques que já têm vindo a ser implementados em alguns locais do nosso País, no sentido em que a nossa ideia é tentar preservar ao máximo o seu ambiente natural e não fazer a construção de um canil adaptado, porque não é isso o mais indicado nessas situações”, explica à PiT Rita Rodrigues, diretora da associação.

A 1Mão Por 1Pata estava habituada a acompanhar duas das “mais conhecidas” matilhas da região. Até que, em 2023, o número de indivíduos diminuiu drasticamente.

“Várias pessoas fizeram queixa que alguns elementos da matilha estariam a perseguir e a morder cidadãos”, recorda. “Não correspondia totalmente à verdade, mas isto causou um grande alvoroço juntamente com um evento que podia realizar na zona das Termas. Isto resultou na captura de alguns cães e desaparecimento de outros. Foi algo que nos preocupou bastante nessa altura”.

Preocupados, os voluntários começaram a pensar em alternativas para ajudarem os animais e foi assim que a ideia do santuário surgiu. Nesta altura, os elementos restantes de uma das matilhas reintegraram-se na segunda e atualmente, a associação cuida de cerca de 20 cães. “Há cadelas que estão sempre a reproduzir”, lamenta. “Depois existe a discórdia da população e o facto de não estar legalmente previsto o CED para cães”.

O Capturar-Esterilizar-Devolver (CED) é um programa adotado por várias associações e municípios para controlar as colónias de gatos silvestres. Contudo, até a data, não foi implementado nos cães de matilha. “Já nos relataram situações de morte de ninhadas e tentativas de capturas do canil municipal. Mas a vida lá não é, de todo, a melhor para este tipo de animais assilvestrados que não são passíveis de socialização, nem de adoções”, acrescenta.

O principal objetivo do santuário, que já tem uma página na plataforma GoFundMe, é criar um espaço seguro (ou vários distintos) para os cães e para a população, “salvaguardando todas as questões de saúde pública que as entidades alegam e que podem de facto ocorrer”. A presidente conta-nos que tem atualmente dois terrenos em mente, localizados numa zona de pinhal e com “muitos mil metros quadrados”.

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“Quanto mais angariarmos, maior será o espaço”

Rita estima que os principais desafios futuros serão as capturas dos animais e a construção do parque. “Vamos trabalhar várias vertentes”, garante. “Implica que neste processo de captura estejam todos estabilizados para depois serem colocados neste novo ambiente. Não é só a criação do parque, é todo o resto que está associado, porque depois também o objetivo não é que eles se reproduzam lá dentro. Temos que travar esse ciclo”, afirma.

Além disso, a fundadora refere outros problemas que serão trabalhados, entre eles o facto de que as matilhas diferentes não podem ser misturadas no mesmo sítio. É precisamente por isso que os voluntários querem conseguir o máximo de apoios possíveis, para dividirem o terreno em vários espaços seguros.

“Queremos pensar num sítio que, eventualmente, dê e que tenha espaço suficiente para uma possível divisão ou então dois locais distintos para matilhas diferentes”, refere.

Assim que tiver os fundos suficientes para comprar o terreno, o próximo passo será a vedação e a criação de abrigos semelhantes àqueles do seu ambiente natural. “Ou seja, nada de boxes, não é esta a ideia”, garante. “Claro que depois terá que haver uma zona mais coberta para a colocação da comida e da água, mas para além disso, a ideia é espalhar vários destes abrigos mais rudimentares para eles ficarem”.

O valor mínimo para arrancar com o projeto é 10 mil euros. “Tudo dependerá do que nós conseguirmos angariar, quanto mais angariarmos, maior será o espaço”, explica. “O nosso objetivo não é só focar no crowdfunding, porque, infelizmente, tanto pode resultar bem, quanto não. Queremos trabalhar com outras parcerias até com empresas e entidades locais que possam ajudar com o material”.

Rita acrescenta que a equipa já anda em contacto com as entidades públicas “há bastante tempo”. “O que falta é mesmo o dinheiro”, frisa. “Havendo isto, conseguiremos colocar em prática”.

A seguir, percorra a galeria para ver alguns dos animais que já cruzaram o caminho da Associação 1Mão Por 1Pata.

Por Izabelli Pincelli

Fonte: Pets in Town / mantida a grafia lusitana original

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