Tartarugas se ‘adaptam’ à poluição e desenvolvem ossos ‘mutantes’ em SP

Tartarugas se ‘adaptam’ à poluição e desenvolvem ossos ‘mutantes’ em SP
Por meio de tomografia computadorizada, pesquisador encontrou novos ossos em tartarugas. — Foto: Reprodução

Décadas de poluição marinha e a mudança de hábitos alimentares podem ser algumas das causa de mutações ósseas identificadas em tartarugas marinhas encontradas em Peruíbe, no litoral de São Paulo. O estudo pioneiro, realizado pelo professor e biólogo Edriz Queiroz Lopes, pode indicar uma tentativa de adaptação dos animais à cada vez maior quantidade de lixo nos oceanos.

Em entrevista ao G1 nesta segunda-feira (3), Queiroz explica que a pesquisa surgiu após a união entre o trabalho como coordenador do projeto SOS Tartarugas Marinhas, realizado há seis anos no litoral paulista, e a produção da tese de doutorado em Ciências. Ao notar a grande quantidade de tartarugas encalhadas nas faixas de areia, Edriz decidiu aprofundar os estudos a respeito da anatomia dos animais.

Segundo o pesquisador, entre as cinco espécies de tartarugas marinhas que podem ser encontradas no litoral brasileiro, a pesquisa teve como objeto as tartarugas-verdes (Chelonia mydas) e, já em um primeiro momento, apontou para um indicador preocupante. “Estudamos os animais que encontramos encalhados e mortos nas praias e, destes, 80% dos indivíduos tinham consumido lixo”.

Dos hábitos alimentares, Queiroz aponta que passou a estudar a formação dos ossos das tartarugas. “Recolhemos algumas para estudo em laboratório e, sempre que tentava montar a ossada, acaba sobrando um osso que eu não sabia encaixar com o restante. Decidi fazer uma tomografia computadorizada mais detalhada e acabei me surpreendendo com o que eu vi”.

Nos laboratórios de biologia da Universidade de São Paulo (USP), onde o pesquisador obteve seu doutorado, Edriz descobriu a presença de dois ossos localizados na parte inferior das bocas das tartarugas e que, até então, segundo o biólogo, não haviam sido registrados pela literatura científica.

Biólogo encontrou novo osso em tartarugas encalhadas no litoral de SP — Foto: Reprodução

“Esses ossos ficam em uma região do crânio das tartarugas chamada hióide, que dá sustentação para a língua delas. São ossos que tem uma estrutura separada do crânio, que ajuda na musculatura e nunca tinham sido percebidos. De 10 tartarugas que estudamos, seis tinham essa formação e, para a Ciência, quando o resultado supera 50% dos indivíduos estudados, pode ser considerado um achado”, conta o professor.
 

Segundo o pesquisador, a causa da mutação, ainda não definida, pode ser atribuída a diversos fatores. “Pode ser uma adaptação por conta da poluição marinha, pela mudança de hábitos alimentares ou até mesmo uma transformação da espécie”. Com a etapa de identificação da mutação finalizada em 2019, Edriz prepara novas pesquisas para confirmar as causas da adaptação.

“Ainda não sabemos o motivo disso ocorrer, mas posso afirmar que tem a ver com os hábitos alimentares. Vamos encontrar a função desse osso nas tartarugas e expandir a pesquisa para entender se acontece só nos animais do litoral de Peruíbe ou se em outras regiões do Brasil essa mudança também acontece”, afirma.

Os resultados da pesquisa foram publicados em um artigo internacional e, para Edriz, poderão auxiliar outros pesquisadores a expandir os estudos e entender a causa das mutações. “O primeiro passo é citar a existência e isso nós fizemos. Agora, quem correr, vai poder descobrir qual a função. É algo novo e que vai contribuir muito para a preservação das tartarugas”.

“É uma felicidade muito grande poder compartilhar esse estudo, resultado de um trabalho feito com muito amor e carinho. Descobrir algo que vai poder ajudar as tartarugas, que são animais criticamente ameaçados. É muito importante”, finaliza.

Edriz Queiroz coordena estudo que identificou nova formação óssea em tartarugas marinhas no litoral de SP — Foto: Arquivo Pessoal
Pesquisador identificou nova formação óssea em tartarugas encalhadas no litoral de SP — Foto: Reprodução

Fonte: G1

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